domingo, 23 de dezembro de 2007

PORQUE NOS ESQUECEMOS DO SENHOR...

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Fotos: Jeremias lamenta a destruição de Jerusalém (Rembrandt van Rijn)
Demais: http://www.flickr.com

Escutem e dêem atenção, não sejam arrogantes, pois o Senhor falou. Dêem glória ao Senhor, ao seu Deus, antes que ele traga trevas, antes que os pés de vocês tropecem nas colinas ao escurecer. Vocês esperam a luz, mas ele fará dela uma escuridão profunda; sim, ele a transformará em densas trevas.
Mas, se vocês não ouvirem, eu chorarei em segredo por causa do orgulho de vocês. Chorarei amargamente, e de lágrimas os meus olhos transbordarão, porque o rebanho do Senhor foi levado para o cativeiro. Diga-se ao rei e à rainha-mãe: “Desçam do trono, pois as suas coroas gloriosas caíram de sua cabeça”. As cidades do Neguebe estão bloqueadas e não há quem nelas consiga entrar. Todo o Judá foi levado para o exílio, todos foram exilados. Erga os olhos, Jerusalém, e veja aqueles que vêm do norte. Onde está o rebanho que lhe foi confiado, as ovelhas das quais você se orgulhava? O que você dirá quando sobre você dominarem aqueles que você sempre teve como aliados? Você não irá sentir dores como as de uma mulher em trabalho de parto? E se você se perguntar: “Por que aconteceu isso comigo?”, saiba que foi por causa dos seus muitos pecados que as suas vestes foram levantadas e você foi violentada. Será que o etíope pode mudar a sua pele? Ou o leopardo as suas pintas? Assim também vocês são incapazes de fazer o bem, vocês, que estão acostumados a praticar o mal. “Espalharei vocês como a palha levada pelo vento do deserto. Esta é a sua parte, a porção que lhe determinei”, declara o Senhor, “porque você se esqueceu de mim e confiou em deuses falsos. Eu mesmo levantarei as suas vestes até o seu rosto para que as suas vergonhas sejam expostas. Tenho visto os seus atos repugnantes, os seus adultérios, os seus relinchos, a sua prostituição desavergonhada sobre as colinas e nos campos. Ai de você, Jerusalém! Até quando você continuará impura?” Jeremias 13.15-27

Hás coisas que muito me chamam a atenção no texto do profeta Jeremias. Antes, no entanto, um pouco de situação do texto, a fim de entendermos melhor sua posterior aplicação.
Jeremias, ao contrário do que seus contemporâneos pudessem dizer, era um homem preocupado com o seu povo e chegava a ser bastante nacionalista. Não era, porém, seguidor incondicional do rei, o mesmo que não estava bem em sua condição interior, guiando o povo cada vez mais para longe dos padrões de Deus.
Enquanto Jeremias proferia palavras ordenadas por Deus, havia um séquito de outros profetas que diziam ao rei o que ele queria ouvir como sendo profecia. Isso, logicamente, trouxe severos problemas ao profeta sincero. Eram tempos difíceis, nos quais o povo de Deus parecia haver se esquecido de Deus, de sua Palavra e da espiritualidade que deveriam viver no seu cotidiano.
Aqui começa meu interesse no texto. As palavras duras proferidas por Jeremias nesta ameaça divina de um cativeiro futuro - que sabemos teve lugar algum tempo depois - não se dirigem a um povo pecador, que nunca ouviu falar de Deus. Tampouco se dirige a elementos inconversos, mas que já a tenham ouvido, embora recusando-a. Não: refere-se ao próprio povo de Deus.
Sabemos ser hoje a Igreja o povo de Deus, o Israel espiritual. Logo, podemos aplicar às nossas vidas os termos usados pelo profeta, deixando de lado apenas a conceituação histórica a que ele se referia. A escravidão, a humilhação e a confusa situação dos judeus daqueles dias não se aplicam literalmente a nós, mas conseqüências duras e terríveis podem nos espreitar nas curvas da vida caso não tenhamos nossos corações preocupados em bem servir a Deus.

1) Em primeiro lugar, essa era uma palavra dirigida ao povo de Deus.
Conforme já disse pouco acima, o primeiro ponto de convergência entre o texto de Jeremias e a realidade constante do povo de Deus é que nenhuma das palavras do profeta eram sem sentido ou vazias de real conteúdo. A Palavra de Deus nos mostra que o Senhor é Deus extremamente amoroso, demorado em mostrar sua ira, tardio em mostrar o peso de sua mão. Ao mesmo tempo, a Bíblia nos mostra Deus tendo em si o verdadeiro e eterno juízo, a autoridade para, ao julgar, ser por isso adorado e louvado, pois jamais o faria sem justiça perfeita. Deus tem nos chamado a uma vida diferente da que temos tido. Desde tempos imemoriais o Senhor tem convocado o seu povo para uma vida de contrição e devoção a partir da qual a nossa espiritualidade seja devidamente cultivada nos padrões do Deus eterno.
Deus nos chama para a filiação a ele. Ele nos garante a salvação em Jesus Cristo. Mas ele também nos exige vida de santidade, com dedicação integral do nosso coração ao apelo constante de intimidade do Senhor. O chamado continua o mesmo ao que vemos no início do texto que separamos, no versículo 15: “Escutem e dêem atenção, não sejam arrogantes, pois o Senhor falou”. Pergunto-me, bem como a vocês: temos escutado a Palavra de Deus de maneira a darmos verdadeira atenção? Ou temos sido arrogantes diante dele, que é o contraponto citado por Jeremias sob inspiração de Deus? Quantas vezes o Senhor tem falado sem que nossa atenção seja realmente posta no significado de suas propostas a nossa existência? Como temos vivido o nosso dia-a-dia? Atentos ao que Deus fala ou atentos apenas aos nossos interesses imediatos? Temos vivido onde Deus fala ou temos nos debatido tentando ouvi-lo onde nós queremos que ele fale particularmente a nós? Como bons filhos de Deus, temos acorrido e dado atenção à verdadeira Palavra de Deus, mesmo quando dura aos nossos corações ou, como o povo de Jeremias, temos encomendado as palavras que apenas queremos ouvir a fim de saciar nossa sede por sucesso futuro?
Precisamos responder sinceramente essas perguntas para o bem de nossos corações.

2) Em segundo lugar, a estupefação não resolve o caso.
Judá poderia se perguntar “Por que aconteceu isso comigo?” (versículo 22). Mas isso, pelo que lemos no texto, não adiantaria de nada. A estupefação do povo, do rei, dos profetas de aluguel é um sentimento inaceitável, aparentando uma falsa inocência, haja vista que as conseqüências de uma vida afastada dos princípios de Deus são sabidas de todos os seus filhos. Israel e Judá foram advertidos e ensinados quanto a isso desde a sua formação. Eles não eram inocentes, assim como nenhum dos filhos de Deus hoje pode se considerar um ignorante a respeito de uma vida sem propósito diante do Senhor. Viver levianamente a nossa espiritualidade pode nos trazer conseqüências terríveis, com as quais teremos que lidar pelo resto de nossas vidas.
Deus não nos chamou para viver com ele de qualquer modo, mas para exercermos determinados papéis em nossa jornada, principalmente aqueles que se relacionam diretamente com o aprofundamento de nossa comunhão e com a conseqüente pregação das Boas Novas aos que ainda não o conhecem. Ele definitivamente não nos chamou para ganharmos dinheiro, ou para sermos mestres e doutores, ou para termos nossos nomes inscritos para a história. Tudo isso é bom e lícito, além de poder ser alvo do exercício da graça e da misericórdia de Deus para nós. Mas enquanto a chamado, ele nos chama ao seu serviço, para nos dedicarmos a ele.
Muitas vezes a mesma providência que dá abundância e fartura é a que tudo retira, a fim de que os filhos de Deus sejam trabalhados em suas debilidades. Isso estava por acontecer com Judá. E pode estar por acontecer com muitos dos que lêem este texto.

3) Em terceiro lugar, tudo aconteceu porque nos esquecemos de Deus.
Somos povo de Deus e vimos que a estupefação nada ajudará no momento de crise, pois somos sabedores da verdade.
O mesmo Deus que exige ouvidos atentos diz uma palavra extremamente dura aos judeus. Na verdade, isso era mais duro que a escravidão ou a derrota militar. Era a comprovação explícita de que tudo que estava por ocorrer - e que ocorreu mais tarde - tinha apenas uma razão de ser: o povo de Deus tinha se esquecido dele e o tinha trocado por falsos deuses. Vejamos, no versículo 25: “declara o Senhor, ‘porque você se esqueceu de mim e confiou em deuses falsos.’” Nada mais complicado em nossa relação com Deus que querer tê-lo como Deus ao mesmo tempo em que não abrimos mão de outros deuses, os chamados ídolos, em nossas vidas.
1 Reis 18.21 nos mostra a apatia em que muitas vezes nos encontramos. “Elias dirigiu-se ao povo e disse: ‘Até quando vocês vão oscilar para um lado e para o outro? Se o SENHOR é Deus, sigam-no; mas, se Baal é Deus, sigam-no’. O povo, porém, nada respondeu.” Não será essa a nossa reação todas as vezes que somos confrontados com as nossa oscilações espirituais?
O mais comum é nos respondermos quase sinceramente que nada há de outros deuses ou ídolos em nossas vidas. Será verdade? Embora os dicionários nos remetam quase que invariavelmente a deuses pagãos e suas expressões de veneração, a Bíblia nos ensina que ídolo é tudo aquilo que colocamos no lugar somente destinado e devido a Deus. Com esse princípio em nossas mentes, podemos entender que muitos ídolos podem povoar nossos corações e tomar o lugar de Deus em nossas vidas.
Muitos dos atuais filhos de Deus oscilam diariamente entre Deus e seus trabalhos. Entre Deus e suas famílias. Entre Deus e suas posições sociais ou de status. Entre Deus e seus crescimentos acadêmicos. O pior de tudo, como vimos anteriormente, é que todas essas coisas são lícitas e podem transparecer momentos de bênçãos. Mas, se não estiverem em seus devidos lugares, poderão ser didaticamente subtraídos de nossas vidas, até que aprendamos a reservar a Deus o seu devido lugar em nossos corações e mentes. Se seu trabalho usurpa o tempo de Deus, cuidado. Se sua família vale mais que o Senhor, cuidado. Se o dinheiro o prende mais a um escritório que o amor de Deus a um momento de culto, cuidado. Se seus diplomas importam mais que os escritos de Deus, cuidado. Se sua posição social ou profissional estão acima do lugar do Senhor, cuidado.
Diante dos compromissos com sua comunidade a sua falta tem recebido a resposta invariável “não tenho tido tempo”, ou aquela outra “os clientes não podem esperar”, ou mesmo “tenho provas e trabalhos que demandam muito o meu tempo”? Tome cuidado. A pergunta de Elias continua soando em nossos ouvidos “Até quando vocês vão oscilar para um lado e para o outro?” E quando, atônitos diante de perdas e insucessos nos perguntarmos por quais razões tudo pode ter acontecido, a resposta continua vindo do Senhor: “porque você se esqueceu de mim e confiou em deuses falsos.” Sim, os falsos deuses que nós mesmos elegemos, alguns dos quais estão acima descritos.
Concluindo, nossas vidas podem crescer muito enquanto nos esforçamos e isso é saudável e é bom. Mas nada é melhor que a sincera devoção a Deus, em meio à comunidade que temos para bem servir ao nosso Deus e aos nossos irmãos. Nossa vida não pode se resumir a dinheiro, posição social e alguns diplomas. Tudo isso ficará e, então, após esta breve vida, o que teremos para apresentar diante de Deus e qual o legado que deixaremos para os nossos amigos, irmãos e filhos?
Já não é sem tempo de pensarmos seriamente nessas coisas, pois é certo que temos, infelizmente, em alguma medida, nos esquecido de Deus enquanto o trocamos por nossos ídolos temporais.

Os natais e as viradas de ano são ocasiões em que geralmente fazemos considerações pessoais sobre o tempo passado e o que desejamos que se faça verdadeiro em nossas existências. Proponha-se ser um seguidor de Deus sem que nada mais se interponha nem se apresente como alternativa em lugar dele. Nada será melhor nem maior que Deus. Somente ele é capaz de lhe dar o que nada mais lhe dará: o preenchimento total de todo o vazio de sua existência.

domingo, 16 de dezembro de 2007

A BELEZA DO NATAL

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro

Fotos: O nascimento de Jesus numa manjedoura (Gerard van Honthorst) e O nascimento de João Batista (Domenico Ghirlandaio). Lampião (http://www.flickr.com)


De um nascimento simples, hoje temos um universo fantástico. Estou me referindo ao nascimento de Jesus.
Quanto à sua aparência, ele não se destacou muito dos demais. É certo que foi anunciado por anjos, mas eles anunciaram apenas a um grupo de pastores.É certo que foi “marcado” pelo aparecimento de uma estrela. Mas essa estrela só foi vista por um grupo de sábios que vieram do leste (quem sabe, alunos de uma escola que começou com Daniel na Babilônia).
É certo que foi profetizado. Mas a profecia só foi entendida pelos que estavam mais próximos do acontecimento.
É certo que seis meses antes, nasceu outro menino, de uma mãe tão improvável quanto a de Jesus. Esta por ser virgem e a de João por estar na menopausa. Mas isso só foi divulgado pela região. Causou certo espanto. Mas não chegou ao conhecimento geral.
Porém, como é que, de um fato assim, elaboramos um verdadeiro ritual, com “cometas”, Papais-Noel, árvores, bolas, presentes ... Será que é por que achamos que é uma história muito simples? Ou será por que não nos damos conta da maravilha que é Deus assumir nossa natureza?
Se pararmos para pensar, não encontraremos outro evento tão importante na história da humanidade. É Deus trabalhando para os que nele esperam. É o bom pastor buscando a ovelha perdida. É Deus habitando com Seu povo. É Oséias levando sua mulher para casa.
Que outros exemplos poderíamos citar? Na verdade há outros tantos, mas se estes não nos satisfizerem, fatalmente, inventaremos estórias e mais estórias.
Procuraremos, como alguns astrônomos, calcular a órbita de cometas, para ver qual passou perto da terra por volta do ano em que achamos que ele nasceu, e esqueceremos que apenas os magos viram a tal estrela.
Comporemos belas músicas, faremos belos presépios e criaremos um mundo mítico povoado por seres que não foram criados por Deus, e nossos filhos aprenderão que o menino Jesus é um ser tão fantasioso quanto um elfo, um gnomo, um duende, um grinch.
Falaremos sobre a bondade de Deus como uma bondade tão limitada como um presente, tão fantasiosa quanto um velho que voa em um trenó puxado por renas, tão incrível que só os pequeninos ainda se iludem com sua existência.
Se não retomarmos depressa a simplicidade do Evangelho, povoaremos nossas Igrejas de mitos, nossas verdades de mentiras e arrancaremos os fundamentos históricos de nossa fé. Falemos e comemoremos a simplicidade de um evento poderoso. Um evento que trouxe a todos nós a possibilidade de ser filhos de Deus. Falemos e comemoremos o dia em que Deus assumiu nossa natureza. Cantemos de júbilo por Deus ter se compadecido dos seus. Então, nunca mais teremos necessidade de embelezar aquilo que não pode ser mais belo, e a glória será toda do menino que nasceu para que “o povo que caminhava em trevas viu uma grande luz; sobre os que viviam na terra da sombra da morte raiou uma luz” (Isaías 9.2).

domingo, 2 de dezembro de 2007

O "REAL" SEGREDO DA VIDA (Parte II de "O Segredo da Vida")

Texto de Marcelo Gomes,
Seminarista no Rio de Janeiro
Fotos: http://www.flickr.com


Em nosso último post (veja abaixo), fizemos uma análise das filosofias "da moda" sob a perspectiva bíblica de Hebreus 1. Lemos no v.2 que Deus nos falou pelo Filho, e é exatamente neste versículo que o autor nos revela quem é o Filho...
"nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo."
Neste texto, descobrimos que Cristo é o herdeiro de todas as coisas.
Acompanhe-me em um raciocínio lógico: Se Cristo é o herdeiro de todas as coisas, logo não existe a possibilidade de nenhum bem fora dele. Assim, somos os mais miseráveis e destituídos de todas as coisas boas, a menos que Ele nos socorra.
Isso não é um poder que vem de nós, um pensamento positivo, uma Energia que faz com que tudo nos seja favorável. De forma alguma!
No princípio sim, Deus estabeleceu o homem como seu filho, herdeiro de todas as coisas, mas o primeiro homem, pelo seu pecado, alienou-se de Deus e com ele toda a sua posteridade, o que nos inclui. Não é difícil entender isso, naquele momento, no Éden, fomos privados de toda a bênção de Deus.
Assim, concluímos que um homem só começa a desfrutar de todas as boas dádivas de Deus quando Cristo – o herdeiro de todas as coisas – o admite em sua comunhão. Não há outra forma! Este processo se dá hoje, através do Espírito Santo, agindo em nós.
É como se seu pai fosse o homem mais poderoso do mundo e devido a um mau comportamento seu, ele o deserdasse. Mas, aquele que recebeu a herança de seu pai, lhe concedesse ainda muitos dos benefícios desta, com o consentimento do pai.
Foi exatamente isso que Deus fez por nós, através de Jesus. Entender isso significa entender o que é cristianismo. É entender o que é ser cristão. Ainda mais, significa entender o real segredo da vida.
E é exatamente por este motivo que não faz sentido você descartar esta herança e agir com pensamentos tolos, como que comendo comida de porcos (leia Lc 15) ao invés do banquete que seu Pai lhe oferece.
Reflita sobre isso, fale com seu Pai em oração e entenda definitivamente o sentido da sua vida.

Conte conosco, caso deseje.

Deus o abençoe hoje e sempre;
Sem. Marcelo Gomes