segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O QUE TEMOS VISTO E APRENDIDO


Joel Theodoro é pastor presbiteriano no Rio de Janeiro
Imagens: http://goo.gl/njeII

É comum criticarmos a situação da Igreja de Cristo no Brasil, uma vez que seu gigantismo acelerado parece deixar à mostra algumas anomalias, muitas das quais bastante sérias. As críticas têm a finalidade de alertar os de casa a respeito da seriedade do momento e da nossa responsabilidade diante de Deus, uma vez que Ele nos confiou o andamento de Sua Igreja neste mundo até a Sua volta. Mas também temos palavras de conforto e alegria com relação a essa mesma Igreja, uma vez que, mesmo que nada percebêssemos de positivo em sua situação atual, teríamos a certeza de que ela estaria bem, pois a sua guarda depende do amor de Deus e de Suas promessas a respeito da Igreja de Cristo.

Na semana passada estivemos na 27ª Conferência Fiel para Pastores e Líderes, em Águas de Lindóia, SP. O evento contou com participações expressivas de alguns dos grandes nomes da afinados com a Teologia Reformada no Brasil e no mundo: Augustus Nicodemus, Franklin Ferreira, Mauro Meister, Sillas Campos, R.W. Glenn, John Piper e Stuart Olyott. Em poucas palavras deixo minha impressão do que vi e ouvi.
Creio que foi o maior dos eventos da série de conferências realizadas pela Fiel no Brasil, com cerca de 2,6 mil pessoas presentes no auditório do Hotel Majestic. De modo peculiar, o que mostra uma adequação dos cristãos às possibilidades de informação virtual, chegamos a ter, segundo anúncio dos organizadores, cerca de 14 mil pessoas assistindo ao vivo pela Internet, o que representa que as palestras podem ter atingido um pico de quase 17 mil pessoas. Isso representa dizer que cerca de 3,2 mil pessoas teriam sobrado se todos estivessem de maneira presencial no Ginásio do Maracãnazinho, por exemplo.

Observei mais uma coisa, que é a confirmação de algumas pesquisas seculares que dizem que se verifica "a estagnação da proporção de evangélicos pentecostais (...) e aumento dos evangélicos tradicionais" e de alguns pensadores reformados brasileiros, de que há um aumento de interesse entre os evangélicos por descobrir ou redescobrir a Teologia Reformada de forma consistente, unindo a Teologia com a práxis apregoada pelos reformadores. Não foi novidade, mas vale a pena mencionar, que havia entre reformados conhecidos no Brasil uma série de denominações que recentemente se interessaram efetivamente pela questão, bem como igrejas independentes cujas lideranças são reformadas ou estão migrando para o pensamento reformado. Entre essas, poderiam se notar diferentes tendências, desde algumas históricas meio esquecidas, até outras pentecostais.

Mais um dado importante: os palestrantes brasileiros, para minha alegria, estavam muito à vontade e em nada ficaram devendo aos irmãos de fora do Brasil. A capacidade de raciocínio e a têmpera dos irmãos de cá estava bastante afiada, razão de louvarmos a Deus. É grande alegria e tem enorme valor ouvirmos as reflexões de quem se esmera lá de fora, mas estou seguro que uma conferência desse mesmo naipe pode ser feita com utilização de pensadores brasileiros do nível dos mencionados. E sei que dispomos de mais gente para isso, em especial entre batistas reformados e presbiterianos que, dentre os históricos, compõem a grande maioria dos que se mantiveram na linha de defesa da Reforma e seus tratados.

Uma outra observação pessoal: embora quiséssemos ouvir alguém do porte de John Piper, não houve a idolatria que muito se vê em alguns ambientes e, diga-se de passagem, por verdadeiros “santos de pés de barro”... Aguardamos a primeira palestra do Piper e percebemos que ele preparou uma grande palestra que dividida em três partes por questão de tempo. Outros palestrantes preferiram trabalhar cada fala como se fosse algo com começo, meio e fim, mas que, ao final, comporia um todo. Tampouco notamos a destemperança do ciúme. Enquanto esperávamos essa estreia, os outros palestrantes foram muito felizes, o que, de certa maneira, minimizou a expectativa com relação à pessoa do Piper, mas não minou a expectativa com relação a sua ministração. O Stuart Olyott, por exemplo, foi de uma felicidade enorme em suas exposições e, nas cadeiras do auditório, era chamado carinhosamente de “o velhinho”, para cujas palestras ninguém queria se atrasar.

Essas são algumas observações pessoais. Não são exaustivas. E nem comento o conteúdo do que ouvi, pois seria muita coisa a falar, tudo muito bom. Espero que se anime a estar presente em outras oportunidades como essa. No site da Editora Fiel encontrará arquivos das Conferências anteriores. Em breve, creio, também da deste ano.


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

NEM TUDO É NOVO


Joel Theodoro é pastor presbiteriano no Rio de Janeiro
Imagens: www.flickr.com

Aliás, olhando para o título, peço desculpas ao leitor e o corrijo: quase tudo é absolutamente velho!

Teimamos em gerenciar nossa vida como se ela fosse a coisa mais importante do universo. Claro, se ela é nossa e somente nós a vivemos, mesmo se despidos de egoísmo, a melhor das vidas é a minha, certo? Pensamos que o nosso pensamento é o mais esclarecido, veloz e perspicaz de todos. Ora, se apenas o nosso pensamento é pensado por nós, devemos ter outro como melhor? Achamos que a nossa espiritualidade é a mais brilhante e mais contundente de todo o universo. Mas se somente experimentamos a nossa espiritualidade, haveria dúvida sobre ser ela a melhor de todas? E assim vai nossa vidinha sendo acrescida de mais uns tempos, até que o tempo termina e somos chamados compulsoriamente a começar um tempo que não mais terá fim. Aí a coisa complica para muita gente.

Em quaisquer pensamentos de fé poderíamos agir como acima, natural e individualmente. Mas não quando nos dizemos cristãos. As mais variadas formas de fé pregam que somos boa gente mal influenciada pelo meio em que vivemos. Se melhorarmos o meio e depurarmos a maldade, um dia tudo será melhor. A maior parte dos pensamentos espiritualistas, esotéricos, orientalistas, segue o viés de que mudar é possível – por si próprios e a partir de coisas boas guardadas dentro de nós.

Não no cristianismo bíblico. Nele, somos chamados a abandonar nossa vida e viver a vida de Cristo. Por que fazê-lo? Porque a única forma de me despir da inteira maldade que me acompanha é sendo subjugado pela bondade e pelo amor de Cristo, exarado em Sua vida que foi dada por mim. Então o Deus cristão me chama a deixar minha vida ruim e barata e assumir uma nova vida, que é bela e eterna, que me levará a entender os benefícios divinos para mim enquanto passo por aqui em direção a um outro lugar. Como passei a viver uma outra vida, que é de Cristo, o lugar eterno que Ele me promete não pode mais ser o mesmo, humano e degradado, mas o dele próprio, divino e maravilhoso. Então a melhor vida que tenho a viver não é mais a minha antiga e velha vida, com meus vícios e dilemas eternos, mas uma nova vida, cheia de graça e de paz, mesmo quando tudo aponta para enfado e tristeza. Isso é novo. Aquilo era velho.

Passamos nossa vida inteira nos achando o máximo do máximo. Desde criancinhas que temos nosso ego amaciado às mil maneiras por todos os lados. Dizem que se não for assim a nossa autoestima vai ser baixa, que nos tornaremos sorumbáticos e macambúzios. Dizem que se não amaciarmos nossa existência seremos esquizofrênicos irremediáveis. Nas formas de tratamento da psique humana, essa pode ser uma vertente de pensamento. Pensamos que o que pensamos ninguém mais pensa. Somos inéditos e fantásticos. Super-homens imbatíveis: nossa capacidade intelectual está acima de tudo e, cuidado: Einstein que tenha suas reservas, pois aí vou eu! A coisa fica tão séria que importamos nossa idiotia intelectual para um campo minado para ela: a Teologia. Nossa arrogância se enfeita de tamanha glória que começamos a achar que já era tempo de Deus parar com seus planos e nos dar mais ouvidos. Por isso muitos resolveram reinterpretar as Escrituras, a fim de esclarecer um pouco a obliteração intelectual do Deus que inspirou suas letras. Começamos a dizer que Deus disse o que não disse, que Ele mandou o que não mandou. Começamos a desdizer o que Ele disse. E assim por diante. Mas um dia Ele próprio vai parar com a roda da História e vai cobrar dos que assim fizeram cada til tirado dos Seus textos, cada pingo usurpado de sobre os is. A História, quando acabar, vai abrir a porta para outra História, que não acabará mais. Aí a coisa complicará para muita gente. No cristianismo bíblico somos chamados para respeitar o pensamento de Deus, que é soberano, e lhe prestar obediência. Mas, por ser gracioso, Ele não nos chamou para o exercício da robótica espiritual: nossa fé e nossa obediência devem vir pelo conhecimento de Sua palavra.

E nossa espiritualidade, a quantas anda? Tenho notado um verdadeiro arco-íris na espiritualidade dos cristãos. Há cristãos macumbeiros, há cristãos kardecistas, há cristãos esotéricos, há cristãos budistas, há cristãos não-cristãos, etc. Nada contra os macumbeiros, os kardecistas, os esotéricos, os budistas, os não-cristãos. Só que eles não são cristãos bíblicos, mesmo que em algum grau admirem o Cristo da Bíblia. Têm todo direito de seguir a fé que quiserem, mas não são cristãos. Perto de minha casa há um centro espírita em que se lê na fachada “Seguimos Ramatis, Kardec e Jesus”. Volto a dizer: nada contra Ramatis ou Kardec: só que eles não expressam o cristianismo bíblico. E acho que os cristãos que se dizem cristãos e seguem esses e outros preceitos estragam o cristianismo e as outras fés também! O Cristianismo bíblico não prevê mãos dadas com outras formas de crer, nem com outros possíveis entes divinos, nem com outras formas de culto que não aquelas expressas na Bíblia, o que me leva a perceber que em algumas igrejas a mistura se tornou irreparável: é tanto copo com isso, mandinga daquilo, corrente daquilo outro, mantras intermináveis, cantorias envolventes e hipnotizantes, que, honestamente, o que a turma precisa é de um tratamento para descobrir em que tem crido. Mas a Bíblia me ajuda a dizer “eu sei em quem tenho crido”. Não há verdadeira espiritualidade fora de Cristo, o Cristo da Bíblia, cantado em salmos e prosas, revelado nos Evangelhos.

Finalmente, nossa vidinha se vai. Um dia ela acaba. Um dia fechamos os olhos. Mas aí virá a surpresa para tantos: a vida terrena foi apenas o antepasso para a verdadeira vida, a que é eterna. A Bíblia chama de loucos os que não se preparam para essa eternidade, querendo apenas as benesses temporais. O cristão bíblico deve viver como peregrino, pois sua vida não lhe pertence, sua fé é centrada e sua espiritualidade é posta em Cristo apenas. O Cristão bíblico espera ansiosamente por ver seu Salvador, o Senhor que se entregou em seu lugar e que lhe permite viver de forma diferente daquela sob a qual nasceu um dia. Por isso ele sabe que nasceu de novo. Então, quando esse dia chegar, nossos olhos se fecharão por frações de tempos e os tempos eternos se abrirão diante de nós. Pensemos nisso enquanto há oportunidade, antes que o tempo de hoje se vá e o de depois chegue. A única solução: olhar para a Cruz onde o Salvador se deu por nós!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

EU ME AMO. EU ME ADORO!

Joel Theodoro é pastor presbiteriano no Rio de Janeiro
Imagens: www.flickr.com

Muita gente boa não presta atenção, mas vive com uma só finalidade: dar prazer a si próprio. Isso não é de hoje, uma vez que o sentimento e a necessidade de prazer acompanha o ser humano desde sempre. E há bons e legítimos prazeres na vida, mas o prazer, pelo prazer pura e simplesmente, não pode nem deve ser o fim maior a se buscar na vida.

Ainda entre os helênicos, o hedonismo escrevia nas linhas da História o que seria, talvez, a primeira sistematização e defesa aberta de tal sentimento. O termo vem do vocábulo ηδονή (hedonê), origem do pensamento que hoje conhecemos como hedonismo.

Hedonismo nada mais é que a teoria que o prazer deve ser buscado como bem supremo, como finalidade de tudo para a nossa vida. Alguns pensadores e suas escolas ao longo da História pensavam que o prazer deveria ser buscado irrestritamente; outros, que deveria ser apenas em nível sensorial. E assim temos uma vasta gama de possibilidades. Mas, no fundo, o que se busca com o hedonismo é a satisfação de si mesmo, custe o que custar.

O hedonismo, por suas características próprias, tende a ser hipócrita e egoísta. Hipócrita porque o infeliz passa a vida tendo surtos de prazer momentâneo e entende isso como uma vida de prazeres. Egoísta porque, para que alguém sempre tenha prazer, provavelmente alguém deixou de tê-lo, já que nem todo prazer é compartilhado em igual sensação e profundidade por todos.

Chegamos aos dias de hoje. Tornamo-nos uma sociedade hedonista. Totalmente interessada em si mesma e nada além disso. Tudo o que possa interferir em nosso prazer deve ser afastado de diante de nós: Deus, caráter, personalidade, honradez, retidão, verdade, etc. Se alguma dessas coisas nos afasta de meu prazer, tiremos isso da frente! E o hedonismo com toda sua desfaçatez, entrou sem pedir licença na Igreja cristã, onde encontrou um cálido nicho onde se instalar e virar um dos ídolos cristãos da pós-modernidade. E assim, de maneira insuspeita e natural, chegamos aos efeitos do hedonismo na Igreja de Cristo.


  • Os casamentos se desfazem: não davam mais prazer, então é melhor acabar...
  • As pessoas se casam em jugos desiguais: não haveria prazer em passar o resto da vida com um cônjuge cristão...
  • A espiritualidade se perde: não dá prazer buscar um Deus que exige santidade...
  • Muitas igrejas sérias se esvaziam: não dá prazer ouvir um sermão sério baseado na Bíblia...
  • Muitas igrejas falsas se enchem: dá muito prazer ouvir vez após vez que somos os tais e que Deus trabalha para nós...
  • As classes de estudo e oração não acontecem: que prazer há em aprender a Bíblia e orar?

E assim, a roda da História vai se movendo de forma constante, porém imponderável. Pelo desejo desenfreado em obter prazer pelo prazer podemos explicar o Éden caído, as guerras insustentáveis, as desigualdades absurdas, os flagelos humanos, o narcisismo, a entrega aos vícios, o relativismo das vidas pós-modernas, a banalização do ser humano, a irresponsabilidade, a mudança do modelo das relações humanas, a gula, etc, etc.

Chegamos ao tempo em que seremos chamados de volta à nossa responsabilidade cristã e teremos que responder a Deus, queiramos ou não, com ou sem prazer, o que temos feito com a vida que Ele nos deu a viver. E precisaremos responder a Ele porque não vivemos apenas repetindo o verso 174 do Salmo 119: “Suspiro, Senhor, por tua salvação; a tua lei é todo o meu prazer”.