sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

A VÉSPERA DE DIA NENHUM

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Fotos: arquivo pessoal

Escrevo estas notas numa sexta-feira à noite. Faz calor no Rio de Janeiro, talvez bem diferente de outras sextas à noite, por aqui ou outros cantos. É véspera de sábado, como seria natural de se dizer de uma sexta-feira, não fosse o fato de que para muitos o amanhã não chegará quando o dia raiar. A vida é fugaz, as oportunidades passam rápido e o caminho que leva a uma tranqüilidade aparente na vida parece não ser tão fácil de ser trafegado.

Mas esta não é apenas mais uma sexta-feira que anuncia um sábado que vem pela frente. Algumas vésperas anunciam enormes tragédias ou grandes eventos, como a véspera da erupção do Vesúvio, a véspera da crucificação de Cristo, a véspera da entrada das forças aliadas em Berlin, a véspera do Tsunami e por aí vai. Sem falar na véspera do Natal e do Ano Novo. Há boas e más vésperas. E tudo o que aconteceu até hoje teve uma véspera.

O nosso problema é que, enquanto ainda estamos vivendo a véspera, não somos capazes de antever exatamente do quê ela é véspera, o que deixa estes quase 7 bilhões de seres totalmente entregues aos acontecimentos que lhe são completamente enigmáticos e indecifráveis. Estudar propostas de caos em possível alinhamento não nos permite determinar exatamente para onde se dirige o caos e onde cessará a fim de ceder lugar à calmaria.
A história humana, a despeito da sua peculiar incontrolabilidade dos eventos futuros, leva-nos a perceber que alguns de nossos atos tendem a agravar as possibilidades de nosso futuro, especialmente quando descuidamos das vésperas de nossa vida. Determinadas ações que pomos em andamento parecem nos conduzir a enormes possibilidades de desventuras e problemas que gostaríamos de evitar em nossa curta jornada por este mundo.

Pensando em todas essas coisas fiquei a pensar em festas como a que começa neste fim de semana no Brasil, o Carnaval. Não resta dúvida de que se trata de uma festa popular, com seu valor histórico e suas pinceladas de interesse antropológico e sociológico. Não resta dúvida alguma, também, que nos dias que atravessamos, quase ninguém mais quer se divertir como soíam fazer os mais antigos foliões. Na verdade, o Carnaval passa a representar abertamente aquilo que desde tempos imemoriais se destina a ser: a festa da carne; não a que se come antes da Quaresma, mas a que experimenta fatos e feitos diferentes e de emoções curtas, mas intensas. Esta véspera do Carnaval nos faz pensar no que será de uma enorme legião de foliões que talvez não tenham para suas vidas o dia seguinte à véspera que vivem.

Muitas mortes serão registradas nos hospitais e pronto-socorros Brasil afora. Mortes por atropelamento, excessos de álcool e drogas, infecções das mais diversas, mutilações etc. Enfim, muita desgraça acometerá muita gente. Muitos outros terão estes dias como uma penosa véspera da lenta morte que adquirirão sorridentes, a morte dolorosa e desesperançada das terríveis contaminações do sexo abrangente e irrestrito, da AIDS e das DST que rondam como espectros animados os acampamentos de gente comum que só queria se divertir. Estas realidades - duras e doloridas - são aquelas sobre as quais poderíamos, como raça, ponderar enquanto se pode, enquanto ainda é véspera. Infelizmente outras mortes serão noticiadas: família, moral, ética, consciência, esperança, auto-estima, além da própria alma.

A Bíblia traz uma palavra pelo menos interessante, mesmo para aqueles que não costumam lê-la nem buscar nela a direção para seus dias:
Ouçam agora, vocês que dizem: “Hoje ou amanhã iremos para esta ou aquela cidade, passaremos um ano ali, faremos negócios e ganharemos dinheiro”. Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa. Ao invés disso, deveriam dizer: “Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo”. Agora, porém, vocês se vangloriam das suas pretensões. Toda vanglória como essa é maligna. Pensem nisto, pois: Quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado. Esse é um texto encontrado em Tiago 4, versos 13 a 17.
A terrível advertência divina diz Vocês nem sabem o que lhes acontecerá amanhã! Que é a sua vida? Vocês são como a neblina que aparece por um pouco de tempo e depois se dissipa. E, de fato, nenhum de nós é capaz de antever, desde a véspera, o que será o amanhã.
Estava pensando sobre tudo isso e resolvi escrever para postar em nosso blog. Talvez alguns que gostariam de ler não mais o façam amanhã, sábado de Carnaval. Nem nunca mais. Talvez amanhã um leitor qualquer se lembre de alguém que não mais está entre nós para ler os versos da Bíblia acima, nem meu simples pensamento. Nossa vida é tão passageira, que deveríamos pensar mais em nossos amanhãs e menos em nossas vésperas. Vivamos hoje sabendo das incertezas e naturais eventos - bons ou maus - que estão à espreita, logo após a curva que nosso caminho pode fazer. Pensar no que nos advirá significa pensar que nossas impossibilidades precisam ser cuidadas de alguma forma por quem as domina. Por isso o texto de Tiago nos fala da importância de atribuirmos ao próprio Deus as nossas venturas, o nosso amanhã, o nosso futuro - Se o Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo. Acima disso, e mais importante, está a confiança em que o amanhã poderá, sim, vir, de forma intensa, dando seqüência à graça de Deus sobre nossas vidas.

Que hoje, nesta sexta-feira, a véspera represente não alguns dias de folia, mas o início de toda uma vida de paz e intensa alegria para todos os que se agarrarem na esperança bendita de um amanhã com Deus.

Bom feriado, com equilíbrio, descanso em família e reflexão. E que tudo isso sirva de base de transição de uma véspera para uma vida de alegria indizível em Deus.

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