sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

A IGREJA QUE MARCHA

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Fotos: www.flickr.com

Estas são as jornadas dos israelitas quando saíram do Egito, organizados segundo as suas divisões, sob a liderança de Moisés e Arão. Por ordem do SENHOR Moisés registrou as etapas da jornada deles. Esta foi a jornada deles, por etapas: Os israelitas partiram de Ramessés no décimo quinto dia do primeiro mês, no dia seguinte ao da Páscoa. Saíram, marchando desafiadoramente à vista de todos os egípcios, enquanto estes sepultavam o primeiro filho de cada um deles, que o SENHOR matou. O SENHOR impôs castigo aos seus deuses. Números 33.1-4

Estamos nos aproximando de mais uma Páscoa, festa das mais importantes do calendário cristão. A leitura dos eventos antecedentes à peregrinação dos hebreus pelo deserto, logo depois de terem sido libertados por Deus, nos ajuda a entender um pouco melhor algumas das coisas que cercam esse momento de nossa caminhada.

Assim como se deu com aqueles nossos irmãos do passado, muitas vezes somos abordados por nossos próprios pensamentos e não conseguimos nos ater a determinados fatos, embora eles tomem parte em nosso dia-a-dia como sendo normais para nós. Por exemplo, vivemos em constante movimentação. Não paramos para nada, já que somos levados a crer que, se pararmos um pouco, as coisas desandarão em nossa vida familiar, profissional, acadêmica, etc. Será? Às vezes, um pouco de tempero faz bem, até por nos ajudar a engolir melhor...

Alguns fatos importantes no texto bíblico acima devem nos ensinar a viver melhor como indivíduos, é verdade. Mas minha palavra pastoral de hoje vai em direção à comunidade cristã, seja a nossa, na Zona Sul do Rio de Janeiro, seja a de qualquer um que nos acesse em outra parte do globo terrestre.

Começo por perceber que os hebreus que saíram do Egito - em meio ao cataclismático movimento de Deus em favor de seus filhos - foram levados à jornada pelo próprio desejo de Deus, o que pode ser conferido nos textos bíblicos como um todo. É muito importante, no entanto, vermos que o mesmo Deus estabeleceu duas prioridades que antecederam a marcha do povo: eles precisaram se organizar e precisaram reconhecer uma liderança que os guiasse (verso 1). Só então puderam marchar.

Não tenho medo em reconhecer que nós, Igreja de hoje, estamos carentes de organização e de liderança (por um lado) e de reconhecimento de liderança (por outro lado). Temos parte do Corpo com muita organização temporal e nenhuma organização de espiritualidade; outra parte com enorme preocupação espiritual e nenhuma organização secular. Ambos os casos são perigosos e podem nos levar ao caos, seja espiritual, seja organizacional ou, pior, dos dois aspectos. Precisamos reconhecer o fato de que Deus trabalha em meio à organização: ele quer de nós que nos organizemos antes da marcha. Também somos carentes de liderança. Não de líderes, pois Deus os levanta a tempo, sempre. Somos carentes de lideranças pujantes que aceitem liderar simplesmente por quererem ser servos de Deus nessa sua vocação; também somos carentes de reconhecermos os líderes que Deus realmente levanta para nos guiarem Egito afora. Não líderes quaisquer, mas os que Deus nos envia. Precisamos reconhecer o Moisés e o Arão que Deus levanta em meio à escravidão que nos cerca. Eles serão nossos guias fiéis. Serão nossos pastores e comandantes.

Algo mais me chama a atenção: o povo sai de Ramessés “marchando desafiadoramente” à vista dos inimigos. Não seria possível marchar sem organização e sem liderança. Quem conhece o mínimo de estrutura militar sabe que seria impossível alcançar esse feito sem processo de comando. Mas uma tropa pode marchar cabisbaixa, mesmo recebendo ordens de avançar. A moral da tropa não se eleva com ordens, mas com liderança profunda e tocante. É tempo de revermos nossa postura no Corpo e nossa campanha em favor do Evangelho. Como temos marchado? Temos saído corajosamente à vista de nossos inimigos? Temos tido medo do mundo ou temos sido ousados e desafiadores?

Nestas poucas linhas pastorais demonstro meus cuidados com relação às almas que o Senhor deixa que conheçamos. Os nossos dias são terríveis, mas o cristianismo que temos a partir das Escrituras é simplesmente maravilhoso e possível de ser alcançado e vivido. Não que os elementos do mundo nos queiram servindo ao Senhor de maneira alegre e desimpedida, mas a Palavra de Deus nos ensina meios através dos quais alcançaremos a jornada almejada.

A exortação que deixo é apenas uma: marchemos desafiadoramente à vista de nossos inimigos! Alguns deles serão inimigos ocultos, pecados escondidos, afrontas de terceiros, levantes de maledizentes, desempregos, doenças, mortes em família, destruições familiares, prisões por amor a Cristo, enfados, canseiras, tristezas de percurso e tantas outras dificuldades circunstanciais que se nos apresentam ao longo da vida. É verdade que todas as pessoas estão sujeitas a tais coisas. Nós, filhos de Deus, no entanto, somos aqueles únicos que as enxergam como inimigos e não apenas como meras eventualidades.

O nosso testemunho deve ser o de cristãos organizados, conscientes de seguir e ser seguidos conforme o desígnio do Senhor. Nossa ação imediata é desafiar o mundo e nossos inimigos. Li há não muito tempo num dos preciosos livros de Eugene Peterson acerca da urgência que cerca o cristianismo (Uma longa obediência na mesma direção. São Paulo, Cultura Cristã, 2005). É isso mesmo: precisamos nos preparar, seguir e marchar. A libertação está do lado de fora, além da fronteira. Enquanto estivermos quietos e calados em nosso Egito, seremos escravos. Precisamos tomar nossas decisões cristãs; e temos que fazê-lo rapidamente. Afinal, fazemos ou não fazemos parte de uma Igreja que marcha?

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