pastor no Rio de Janeiro
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É nome de filme, expressão que traz em si mesma um sem fim de informações do desejo maior da alma humana, que é chegar a respostas que não se tem naturalmente. O desejo maior de alcançar o que é imponderável, sublime, poderoso e, acima de tudo, regenerador e salvador. A arca perdida representa, de certa forma, exatamente isso.
O nosso problema não consiste tanto em buscar a arca perdida. Isso é normal, tendo em vista que o futuro e o além nos assustam e com relação a eles queremos obter o mínimo de respostas e seguranças possível. Ora, o problema consiste em ir ao lugar errado atrás da arca. Em buscar outras coisas pensando serem arca. Em buscar, talvez a arca certa, mas da forma e no lugar errado.
A arca denota segurança e paz que não têm fim. No filme que traz esse mesmo nome como título, além disso, havia também a idéia mítica que o descobridor da arca passaria a ser possuidor de poderes quase incontroláveis, descomunais. Outro sonho humano: ter poderes e mais poderes, sempre para dominar e subjugar.Mas a arca perdida, aquela de nossos sonhos não é verdadeiramente como a do filme e como a do mitologia. Há uma outra arca, perdida ainda para muitos, mas que pode ser encontrada, e muito mais facilmente que se pode supor. Isso porque, de forma real, e não mítica, alguém abriu e pavimentou um caminho que nos leva diretamente até ela.
A arca pode representa a busca pelo que não se tem. E é sempre mais fácil buscar o que não se tem por meio de atalhos. Afinal, trilhar o caminho convencional leva muito tempo, denota esforço e não tem garantias sabidas. O caminho pode falhar ou podemos ser impedidos de prosseguir por ele bem no meio da jornada. Atalhos soam a boas medidas, a métodos “espertos”, a possibilidades de vencer sem lutar, de comer sem mastigar, de se nutrir sem alimento certo. É mais fácil. É mais imediato.
Mas o atalho pode ser também intangível e imponderável. A arca não deve ser um atalho em si mesma. Ela faz parte do imaginário do desejo coletivo, no qual a nossa vontade de sobrepujar obstáculos, por vezes, nos leva ao desejo do truque.
Mas há uma arca que é séria. Ela representa não o poder e a riqueza “de per si”. Ela representa, sim, poder e capacidades extra-humanas, transcendentes. O problema é que a verdadeira arca, eu diria Arca, tem em si mesma a plenitude do poder, do bem, da graça e da paz: como essas são coisas avessas à estrutura humana natural, precisamos entender qual a finalidade e a razão da busca por essa Arca.Temos um vazio. Na pior das hipóteses, os pós-modernistas chamam isso de “eu fragmentado”. Não importa: somos ocos, fracos e efêmeros. E, por isso, trazemos em nós a informação quase genética de que é necessário encontrarmos um depositário que reverta essas nossas desqualificações naturais. Começamos procurando uma arca, pois a noção primeva que temos em nós é de que isso resolverá nosso problema existencial. Uma arca de poder e reestruturação. Mas o que não entendemos naturalmente é que uma arca qualquer e tudo que ela possa representar não resolverão jamais nossas questões, pois elas vão além do que possamos tratar por nós mesmos, mesmo encontrando uma arca perdida.
Uma arca qualquer não nos adiantaria. Mas a Arca resolve tudo para nós. Procuramos, procuramos e procuramos. Mas só encontramos a Arca se ela nos encontrar primeiro. É ela quem nos aponta a direção, nos abre os olhos e se mostra a nós, demonstrando o que é a partir de onde se encontra. Para nunca mais nos perdermos, ela passa a morar em nós, dentro de nós. Como perderíamos algo que está dentro de nós?
Assim é nossa jornada. Vazios, passamos a vida atrás de soluções. São as arcas perdidas que procuramos sem detença por toda parte. Nada adianta! A Arca, porém, se mostra a nós. Ela não é uma das soluções imaginadas para nossa vida efêmera e transitória: é a Solução definitiva, de hoje e sempre, para este tempo e para o futuro eterno. Esse é o sabor e o resultado de encontrar a Arca, que é Jesus, o Filho de Deus, o nosso Salvador. Uma vez encontrados pela Arca, com a sensação de amparo e salvação permanentes, iniciamos nossa caminhada de outra forma. Não buscamos mais a Arca. Tendo-a conosco e em nós, passamos a ser procuradores de procuradores da Arca, aqueles que, como nós, antes, ainda estão procurando alguma arca perdida, sem saberem que, no fundo, buscam a Arca.
Se nos perguntarmos qual o valor que damos a algumas das coisas mais comuns que nos cercam, quais seriam nossas respostas sinceras? Poderíamos nos perguntar, por exemplo, quanto vale a oportunidade de estudar, quanto vale o termos comida diariamente para nosso alimento, quanto valem a roupa e o calçado que temos, quanto vale o emprego que nos serve de sustento, quanto vale a família que Deus nos deu, quanto vale nosso cônjuge, quanto valem nossos filhos, quanto vale a nossa comunidade de fé... E tantas outras perguntas possíveis. Quais seriam nossas respostas? Elas agradariam a Deus? Elas nos deixariam mais felizes? É comum dizermos que só damos real valor às coisas após as perdermos. Isso porque costumamos também dar pouco valor a tudo que nos vem à mão. Da mesma forma, e pelas mesmas razões, costumamos menosprezar a nossa capacidade de ação, exatamente porque ela se desenvolve a partir de elementos que estão em nós e em nosso poder. Ora, se menosprezamos o que somos e o que temos, menosprezamos também as ações decorrentes disso tudo.
A pergunta não é mais quanto vale isto ou aquilo, mas quanto isso vale sob a ação de Deus? É por isso que as respostas mais estranhas poderão surgir quando fizermos perguntas, por exemplo, para os momentos de crise de nossa caminhada. Assim: Quanto vale a oportunidade de estudar quando não tenho recursos ou meios? Quanto vale termos comida em meio a grande dificuldade e desespero de vida? Quanto vale a família que Deus nos deu quando atravessamos abismos de dificuldades? Nesse momento, nossa resposta pode ser como a dos discípulos, e podemos dizer “não dá, Senhor. Tenho apenas cinco pães e dois peixes...” Não faz mal sermos sinceros nessas horas, mas precisamos contar isso a Jesus. Ele vai nos ajudar, pegar o pouco que temos, que para Ele é mais que suficiente, e vai multiplicar para nós, mostrando-nos que tudo estava em boa qualidade e quantidade. Bastava que Ele estivesse no circuito.


Com isso quero dizer que qualquer ação que tomemos por nossa correrá o sério risco de ser um arremedo desesperado de uma ação falha de pressupostos. Podemos ter boa vontade, mas a mesma, sem capacitação técnica e política, será nula. Nada do que se fizer em termos particulares poderá influenciar decisivamente nos fatos sociais amplos. As exceções na História são raras, e sempre executadas por alguns daqueles seres humanos brilhantes que despontam de tempos em tempos para nos levarem a alguma diferença na vida em sociedade.
Sem os cristãos e sua simples vida de devoção e oração o mundo seria muito pior. Mas com cristãos vivendo vida pífia e se esquecendo de suas fundas e pedrinhas enquanto buscam as armaduras que não conseguem vestir, a sociedade deixa de ser melhor do que é. Os especialistas só vêem o visível. Os cristãos militam na área do invisível e do imponderável. Nós oramos e vivemos sob a égide de um Deus que é superior a todos os dilemas que podemos enfrentar em nossa labuta social. Nossas armas são espirituais. Podemos e devemos envidar esforços para que nossa sociedade seja melhor, mas, sendo cristãos, nossas ações serão vagas e sem sentido se não começarmos por deixar de lado nossa pretensão de usar armaduras que não nos pertencem. Precisamos voltar à noção clara de que somos peregrinos neste mundo, de que Deus nos chamou para Si com propósitos bem definidos e que temos algo a fazer enquanto por aqui estivermos. Só que Ele nos chamou primeiro para a vida na esfera do Espírito e, depois, para as demais ações, uma vez estruturados na área espiritual. Esta, sem abandonar aquela, mas a ela submissa.Precisamos, antes de levantar bandeiras e atiçar as flâmulas, parar com tudo o que estivermos fazendo e voltar às velhas práticas de devoção, leitura da Palavra de Deus e incessante oração, com clamor e súplicas pela sociedade e pelo povo massacrado pela violência. Depois de derrubar Golias, quem venceu a guerra foi o povo de Israel. Se os cristãos se unirem em oração, em clamor sincero diante do Pai, alguns gigantes certamente haverão de cair. Depois de ver estes Golias derrubados, a sociedade como um todo será vencedora. Mesmo que ninguém saiba quem foi o Davi desta vez, todos reconhecerão que alguém teve que derrubar o gigante.