pastor no Rio de Janeiro
Há muito que pode ser feito para se enfrentar a violência. Especialistas poderiam nos fornecer uma enorme lista de procedimentos e decisões que seriam suficientes para minimizar e, a longo prazo, tornar nossa sociedade pelo menos tolerável em termos de segurança. Muitos lugares mundo afora já estiveram em situação mais dramática que a nossa e hoje, passados muitos anos, estão em outro patamar, com seus cidadãos andando menos preocupados por suas ruas. É possível, portanto.
Ocorre que não somos especialistas em segurança pública. Somos cidadãos; exatamente as pessoas que sofrem as ações prejudiciais de um estado de insegurança e violência generalizados. Não sabemos o que fazer em termos práticos com relação ao caos que nos cerca, a não ser pequenas medidas de prevenção, mas quase todas elas em caráter individual e, no máximo, familiar.
Com isso quero dizer que qualquer ação que tomemos por nossa correrá o sério risco de ser um arremedo desesperado de uma ação falha de pressupostos. Podemos ter boa vontade, mas a mesma, sem capacitação técnica e política, será nula. Nada do que se fizer em termos particulares poderá influenciar decisivamente nos fatos sociais amplos. As exceções na História são raras, e sempre executadas por alguns daqueles seres humanos brilhantes que despontam de tempos em tempos para nos levarem a alguma diferença na vida em sociedade.Ocorre que não somos especialistas em segurança pública. Somos cidadãos; exatamente as pessoas que sofrem as ações prejudiciais de um estado de insegurança e violência generalizados. Não sabemos o que fazer em termos práticos com relação ao caos que nos cerca, a não ser pequenas medidas de prevenção, mas quase todas elas em caráter individual e, no máximo, familiar.
Cada um deve usar das armas que tem e que sabe manusear bem. Usar as armas do outro pode representar desgraça e incapacidade. Pode representar a perda do pouco que se tem. Digo isso porque somos cristãos. Não somos políticos. Não somos agentes de segurança. Não somos autoridades públicas. Claro, falo da maioria de nós, sabendo que alguns cristãos podem militar nessas áreas também.
Na maioria das vezes, vale mais a pena lutar com armas simples, porém de bom manuseio, que armas melhores e mais sofisticadas, sobre as quais não se tenha bom manejo e domínio. As nossas armas, como cristãos, quase nunca são as armas com que os especialistas podem lutar. Eles devem saber o que fazem com elas. Nós, não. Não me adianta fazer levantes e manifestar minha indignação sem que, antes, eu tenha me utilizado das minhas armas apropriadas.
Isso mesmo aconteceu com um bravo rei da antigüidade, até hoje reconhecido por sua bravura e destreza em combate. Mas, quando estava por começar sua carreira de combatente, tomou um dos passos mais importantes para sua afirmação nos campos de batalha: abriu mão de lutar com a arma do outro. Davi ainda era muito jovem, franzina e de pequena estatura. Sabendo de um iminente confronto, com relação ao qual os soldados profissionais tremiam (teriam que enfrentar um homem de estatura acima do normal, portando armas imensas), Davi se encontrou com seu rei, Saul. Este, impressionado pela coragem do jovem, fez com ele vestisse sua própria armadura, pusesse seu elmo de bronze e usasse suas armas.
O relato, que está em 1 Samuel 17, é muito interessante e emblemático para nossos dias. Davi percebeu que, mesmo com armas muitíssimo melhores que as suas, estaria fadado à derrota por uma simples razão: ele não as conseguiria usar. Ele tinha consigo apenas uma funda, uma espécie de atiradeira, que em vez de puxar os elásticos, tem suas tiras de couro giradas e, com presteza, libera-se a pedra. Não é normal acreditar que uma pedrinha e uma funda pudessem funcionar melhor que armaduras e armas profissionais. Mas assim foi. E, incrível, assim continua sendo.
Em Efésios, um outro gigante da fé, o apóstolo Paulo, nos deixa claro que nossa luta não é contra carne ou sangue, mas contra as esferas de poder e domínio espirituais que tomam conta de nossa sociedade. Como lutar contra esses gigantes, pelos quais passam as manobras de violência e intolerância que tanto afligem a nossa comunidade como um todo? Lutando com as belas armaduras que os especialistas podem nos emprestar, assim como Saul fez em relação a Davi? Adiantará se eu, um simples pregador, um pensador sobre questões de fé, quiser me valer das armas práticas ou técnicas dos que se tornaram os monitores e executores da luta social contra o estado de violência?
Mesmo que o fizesse, e imaginando que isso trouxesse algum fruto, quem faria o papel de Davi nesse embate? Ou seja, se eu também lutar como eles, junto a eles, quem haverá de fazer o que eles não sabem? Aqui entra o nosso valor, o valor de nossas ações, que aos nossos olhos podem ser mínimas, mas que podem fazer toda a diferença. Sem Davi e sua singeleza de ação, a guerra estaria comprometida. Isso por uma única razão: ele não contava apenas com sua funda e com as pedrinhas de que dispunha. Ele contava, acima de tudo, com a ajuda presente de seu Deus, que é o mesmo Deus dos cristãos, hoje. O Deus que o fez vencer um gigante no passado é o Deus que nos fará vencer gigantes hoje. Sem os cristãos e sua simples vida de devoção e oração o mundo seria muito pior. Mas com cristãos vivendo vida pífia e se esquecendo de suas fundas e pedrinhas enquanto buscam as armaduras que não conseguem vestir, a sociedade deixa de ser melhor do que é. Os especialistas só vêem o visível. Os cristãos militam na área do invisível e do imponderável. Nós oramos e vivemos sob a égide de um Deus que é superior a todos os dilemas que podemos enfrentar em nossa labuta social. Nossas armas são espirituais. Podemos e devemos envidar esforços para que nossa sociedade seja melhor, mas, sendo cristãos, nossas ações serão vagas e sem sentido se não começarmos por deixar de lado nossa pretensão de usar armaduras que não nos pertencem. Precisamos voltar à noção clara de que somos peregrinos neste mundo, de que Deus nos chamou para Si com propósitos bem definidos e que temos algo a fazer enquanto por aqui estivermos. Só que Ele nos chamou primeiro para a vida na esfera do Espírito e, depois, para as demais ações, uma vez estruturados na área espiritual. Esta, sem abandonar aquela, mas a ela submissa.Precisamos, antes de levantar bandeiras e atiçar as flâmulas, parar com tudo o que estivermos fazendo e voltar às velhas práticas de devoção, leitura da Palavra de Deus e incessante oração, com clamor e súplicas pela sociedade e pelo povo massacrado pela violência. Depois de derrubar Golias, quem venceu a guerra foi o povo de Israel. Se os cristãos se unirem em oração, em clamor sincero diante do Pai, alguns gigantes certamente haverão de cair. Depois de ver estes Golias derrubados, a sociedade como um todo será vencedora. Mesmo que ninguém saiba quem foi o Davi desta vez, todos reconhecerão que alguém teve que derrubar o gigante.
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