domingo, 30 de março de 2008

A PAZ QUE SE QUER. A PAZ QUE SE CONSEGUE. A PAZ QUE FAZ SONHAR

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Imagens: http://www.flickr.com/

Paz não é algo de pouca importância na relação do ser humano. Mas é uma das coisas mais difíceis de se alcançar, quando não, infelizmente, impossível de se atingir. Em toda uma vida, o ser humano normal, natural, não consegue ter paz, mas ele apenas vive circunstâncias de sensação de paz.

Isso não quer dizer que não se deseje ardentemente a paz. É claro que falo da paz interior, daquela que faz o sujeito passar por cima de todas as dificuldades e continuar a sua caminhada sem parar. Com tristezas às vezes, sepultando gente, chorando pela dor, vendo a desgraça de perto... mas em paz. Essa paz, todos querem. Pelo menos todos os seres humanos que vivem numa normalidade psicológica e num equilíbrio de vida. A pergunta é: existem de fato pessoas normais e equilibradas? A anormalidade e o desequilíbrio começam quando nascemos. Por isso a paz parece estar sempre distante e impossível. Essas coisas não são doenças interiores naturais, mas adquiridas. São como vírus, moléstias. Males introduzidos nas vidas. A raça inteira foi inoculada e, por isso, temos tanta dificuldade em chegar à paz. À paz da alma. À paz do ser.

Conseguimos, então, lapsos de paz, momentos de ausência de conflitos, minutos de sossego, partes da vida sem atropelo. Enfim, conseguimos os momentos de refrigérios que nos permitem sobreviver sem enlouquecer. A isso também chamamos paz. Mas não é aquela paz, da alma, do ser. Essa é outra paz, a paz do comum da vida, a paz do não estar em conflito imediato, a paz do desassossego premeditado que nos permite resfolegar até tomar nova coragem e continuar a vida. Uma vida vazia. Uma vida oca. Uma vida sem paz. Uma vida que confundimos com uma vida de paz. E ficamos satisfeitos com essa fagulha que começamos a interpretar como paz.

Uma outra paz faz sonhar. Ela é diferente, interior, empírica, sem definições, sem explicações. É onírica, multiforme, sem gosto nem cheiro, sem cor nem tamanho. É paz. Uma paz que é maior e vai além da paz da alma, do ser, do íntimo, do gosto e do eterno. Essa paz não passa de um sonho, de um poema inacabado, de uma fonte distante, de um paraíso imaginário... até que descubramos que ela pode, sim, ser mais real do que pensamos.
Existe uma paz que é parte de nosso sonho é mais que isso: ela nos faz também sonhar. Começamos sonhando com a paz ardentemente desejada, interior, aquela mesma que nos faz passar por cima de tudo e continuar em paz. Mesmo com dissabores, a tão sonhada paz continua dentro de nós e de nós não mais se afasta. E descobrimos que há mais, muito mais em termos de paz. Há uma paz que é transcendente, sobrenatural. Há uma paz que pode migrar do sonho e ser transferido integralmente para a realidade humana. É a paz-antídoto para a anormalidade e o desequilíbrio naturais. É uma paz que não tem raízes em nós, mas fora de nós: é exatamente como remédio: uma vez doentes, o remédio chega de fora e nos cura por dentro.

Essa paz, diferente, nos traz também alegria e amabilidade. Ela guarda os nossos sentimentos. Neste mundo. No porvir. Hoje. Sempre. Sós, entre amigos, na família. Paz. Não apenas a boa paz que se deseja, nem a imitação de paz que se consegue, mas a maravilhosa paz, que nos faz sonhar, que vai além da nossa compreensão. Como diz um homem chamado Paulo, “alegrem-se sempre no Senhor. Novamente direi: Alegrem-se! Seja a amabilidade de vocês conhecida por todos. Perto está o Senhor. Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus.” Na carta aos Filipenses, 4.4-7.

terça-feira, 11 de março de 2008

PARA ALÉM DO BEM-ESTAR

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Imagens:
http://www.flickr.com/

Costumamos pensar em religião e em Deus quando estamos nos sentindo mal. Mal com a vida, mal com a família, mal com a sociedade, mal conosco mesmos. Ou quando temos a impressão de que todas essas coisas estão mal conosco: façamos nós quaisquer coisas que sejam, mas elas continuam desafinando a nossa vida.

Notamos abertamente que quando essas coisas, por outro lado, parecem não nos trazer nenhum sentimento ruim, por mais que seja apenas circunstancialmente, nossa tendência é querer melhorar a nossa carreira nessas engrenagens, abandonando compulsivamente a razão de pensamento transcendente. Digo transcendente referindo-me a Deus e ao cristianismo, embora o ser humano tenda a fazer o mesmo com relação a outros deuses e religiões.

A busca pelo transcendente é disfarçada mais intensamente na proporção em que a pessoa assume ares mais intelectualizados, em que queira parecer mais inteligente e mais afinada com a ciência e com o seu tempo. Interessante notar, por outro lado, que esse disfarçar é muito mais notado quando falamos de cristianismo. Há casos muitíssimo comuns de materialistas sólidos e afinados com o discurso do materialismo absoluto em nível laboratorial que, ao se verem na intimidade de sua solidão doméstica, têm para si uma verdadeira parafernália de itens esotéricos, orientalistas e espiritualistas. A gama é variada. Isso mostra algum tipo de fé e certa dose de busca por religiosidade, embora teimem em dizer que aquilo não é religião.

Religião, para esses, resume-se a cristianismo. E a esse, sim, deve-se combater, haja vista ser coisa de tolos, incautos e desarticulados. Como o foram, quem sabe, Konrad Adenauer, Abraham Kuyper, Helmut Kohl, Haendel, J. Sebastian Bach, Pascal, Graham Bell, Nicolau Copérnico, Keppler, Galileu Galilei, René Descartes, Newton, Boyle, Faraday, Mendel, Kelvin, Max Planck e, para surpresa dos mais céticos, Einstein. Sobre alguns deles lê-se coisa interessante em http://www.monergismo.com/textos/apologetica/cientistas_famosos.htm.

Verdadeiramente o que vemos é uma intensa busca por algo que preencha o vazio interior. Aqui surge a busca pelo bem, que, de maneira instintiva, começa pelo bem pessoal, o que nos permite ir em busca do bem alheio. A própria Bíblia estabelece isso como parâmetro quando Jesus fala que o segundo mandamento mais importante é “Ame o seu próximo como a si mesmo” (Marcos 12.31). O parâmetro para conseguirmos amar o outro é, antes, amar-nos a nós mesmos. Parece redundante, mas percebemos que a maioria de nós tem dificuldade de se gostar como é, sem reservas e sem preconceitos.

Mas, mesmo assim, adotamos uma busca incessante por bem-estar e bem-sentir a vida. Não sei de explicações como esta, mas a sensação é que nós desistimos de nós, ou seja, de nos amarmos como indivíduos, simplesmente porque não temos mais o prazer na transcendência que Cristo nos propõe em sua palavra. Em conseqüência direta, não amamos o outro. No começo da lista, infelizmente, está a idéia inteligente, moderna, circular e redundante de que devemos continuar sem amar a Deus acima de tudo e todos. Por isso não nos amamos. Por isso não amamos o outro. A alteridade é perseguida, mas desprovida de verdadeiro significado.

Quando negamos todas essas coisas, negamos a nós mesmos a possibilidade de irmos além do que vemos e sentimos de modo material. É o paradoxo em que nos apoiamos como seres mais inteligentes que toda a estirpe de menos esclarecidos que viveu para as artes, a música, a ciência, a literatura, a política – sendo crédulos na realidade além do real-humano, na verdadeira existência de Deus e na fidelidade de sua palavra. Alguns desses menos doutos figuram na lista três parágrafos acima.

Desculpem-me pela ironia do texto. Mas só pode ser coisa para ironizarmos. Volto ao início do texto. Cremos normalmente que as pessoas só vão buscar a Deus e suas coisas em meio a desgraças que afligem os menos doutos e menos ricos. Felizmente, não. O ser humano precisa de Deus por ele ser Deus e por nós sermos suas criaturas mais especiais. Felizmente todos nós carecemos do amparo e da presença de Deus. Só que às vezes queremos atribuir a outros elementos o que só pode ser encontrado em Deus.

O que Deus nos oferece ao longo de toda a Bíblia não é nada além do que sempre buscamos em nossas andanças pela vida. Ele nos oferece paz nesta vida, mesmo quando as circunstâncias e evidências mostram o oposto. Ele nos oferece esclarecimentos que níveis acadêmicos avançados não alcançam apenas por si (imagine então se os conhecimentos que alcançamos de Deus e da academia andarem juntos...). Ele nos oferece vida depois desta vida. Vida sem re-viver. É continuar a nossa vida, em outra esfera e em outra conjunção de fatores extra-naturais. É divino. É além do humano. Vai além do bem-estar que pudéssemos ter e experimentar nesta curta existência como a conhecemos.
O convite que temos de Cristo é simplesmente viver acima e muito além do bem-estar. É o bem-estar que suplanta a nossa curta visão de vida, de tempo e de sentimentos. É o bem-estar somente vivido e experimentado pelos “loucos” que crêem em coisas como essas. Paulo, o apóstolo, disse o seguinte em 1 Coríntios 3.18-20: “Não se enganem. Se algum de vocês pensa que é sábio segundo os padrões desta era, deve tornar-se ‘louco’ para que se torne sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura aos olhos de Deus. Pois está escrito: ‘Ele apanha os sábios na astúcia deles’; e também: ‘O Senhor conhece os pensamentos dos sábios e sabe como são fúteis’”.