terça-feira, 16 de março de 2010

CAIU PEIXE DO CÉU

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Imagens: http://www.flickr.com/


Pois é bem verdade: choveu mesmo peixe no deserto australiano. Quem não conhece o fato, pode recorrer à notícia em fonte primária, nativa: http://www.ntnews.com.au/article/2010/02/28/127891_ntnews.html ou, se preferir, leia a repercussão do fato na mídia brasileira, que registrou a matéria australiana como fonte da inusitada chuva.

Vamos aos fatos, então. Numa cidadezinha de pouco mais de 650 habitantes no meio da região desértica australiana de Lajamanu, distando uns 550 Km a sudoeste de Katherine, há poucas semanas, os escassos moradores simplesmente começaram a ver - e recolher - pequenos peixes brancos que despencavam às centenas céu abaixo, numa bizarra chuva. O mais impressionante é que, segundo relatos de testemunhas locais, muitos dos peixinhos ainda caiam vivos ao chão. Aconteceu não uma, mas duas vezes seguidas, na quinta e na sexta-feira.

A região onde está a cidadezinha fica no Deserto Tanami, com distâncias muito grandes até os lagos mais próximos, Argyle e Elliott, e ainda mais distante da costa. Para muitos estudiosos, a possibilidade mais crível é que tenha havido a formação de um tornado. Mas nenhum tornado foi noticiado ou identificado pelas autoridades e pelos centros de meteorologia. Da mesma forma supôs-se a captação dos peixes, que são muito pequenos, por densas nuvens e seu posterior congelamento para, em seguida, dar-se a precipitação como se fossem granizo. Nada comprovado por esse meio. Pensando bem, por quaisquer desses meios, certamente alguma outra coisa além dos peixes teria despencado dos céus.

Mas o fato é que choveu. Peixe, é claro. Há fotos. Há relatos. Há gente comentando. Há notícias em todo o mundo. Há um fato, há certeza do mesmo, mas não há qualquer informação mais concreta que nos leve a uma explicação do que tenha ocorrido. Mas nem por isso achamos ser mentira. É verdade. Choveu mesmo peixe no deserto da Austrália. E para os mais abobados com o fato, a revelação: essa não foi a primeira, mas a terceira vez que o fenômeno foi documentado nos últimos trinta anos, repetindo episódios semelhantes de 1974 e de 2004.

Todas as vezes que temos dificuldade em explicar algo, nossa tendência é desacreditar, tirar o crédito, achar mentirosa aquela coisa inexplicável. Em tempos modernos, as fotos e a mídia instantânea nos forçam a crer, mesmo que não tenhamos explicações aparentes. Cremos nas imagens ou cremos nos testemunhos. Será que só cremos nas imagens? Ou somente cremos nos testemunhos se atrelados a imagens?

Então, o que dizer de relatos antigos, tão debochados e tão criticados entre nós? O que dizer se relatos bizarros nos forem contados sem imagens, mesmo com muitas testemunhas oculares atestando os fatos? Isso se dá com o homem (pós-)moderno em relação a pelo menos dois relatos de testemunhas antigas, mas que, por razões tecnológicas, não tiveram como nos legar imagens comprobatórias de suas narrativas.

Como dizia antes, pelo menos duas matérias poderiam ter sido escritas pela mídia caso já existissem naqueles dias, e pelo menos dois catálogos de fotos a mais teríamos, caso já tivessem inventado a máquina fotográfica. A primeira matéria talvez tivesse como título “Choveu pão no deserto palestino”, enquanto a segunda matéria talvez tivesse por título “Cai intensa chuva de codornizes deserto afora”. Se analisarmos bem, uma vez que ninguém explica a chuva de peixes na Austrália, qual a diferença lógica entre as três matérias – a de hoje e as de alguns poucos milênios passados? A diferença está na mesma proporção em que são diferentes os meios de difusão.

Se no deserto da Austrália choveu peixe e nós acreditamos, por qual razão não podemos crer que caiu maná e codorniz do céu para alimentar os hebreus no deserto do Egito ou da Palestina? Qual a diferença semântica entre chuva de peixe, chuva de pequeninos pedaços de algo parecido com pão e chuva de codornizes, uma pequena ave da família das perdizes?

Não defendo que a chuva de peixes seja uma tempestade apologética que defenda os textos mais antigos da Bíblia simplesmente como que se uma lição de moral que se derramasse, literalmente, sobre a humanidade. Até por estar convencido que Deus não teria qualquer necessidade de provar nada a ninguém. Mas creio que devemos parar um pouco e rever muitos de nossos conceitos permeados de incredulidade. Precisamos nos perguntar em que bases anda depositada a nossa fé: se no que vemos ou no que cremos.