segunda-feira, 27 de junho de 2011

A IGREJA E O HOMOSSEXUALISMO - parte 4 de 4



Joel Theodoro é pastor presbiteriano no Rio de Janeiro
Finalizando...
Este é o post mais curto da série. Abaixo há dicas de leitura para você.
_________________________________________________________________________________

A resistência

    Precisamos retornar a uma vida de Igreja como deveria ser, centrada em Cristo e menos voltada para seus problemas periféricos. Enquanto nos preocuparmos com elementos secundários, nossa visão de Cristo continuará descentralizada. Algumas possibilidades de estratégias imediatas de resistência:

  • Recuperação da fé e das práticas cristãs dentro da Igreja;
  • Voltar a viver com base numa cosmovisão cristã;
  • Voltar a ouvir a voz de Deus ao invés do ruído dos cristãos nominais;
  • Recuperação do ato de crer e obedecer a verdade de Deus, seja o quão antiquado seja ao mundo contemporâneo;
  • Recuperar a vivência espiritual pelo conhecimento da Palavra de Deus e não pelas experiências (emoções e sentimentos);
  • Abandonar de vez as folhas de figueira e ser cobertos em definitivo com a pele do cordeiro.

    Como a Igreja deve se posicionar?

  • A Igreja NÃO é homofóbica: ela NÃO odeia os homossexuais;
  • Deve sempre se lembrar que o homossexual é um ser humano, assim como todos os demais o são;
  • A Igreja precisa recebê-los e acolhê-los com todo amor que vem de Cristo;
  • Precisamos falar ao homossexual o mesmo que falamos a todas as demais pessoas, sem preconceitos ou isenções: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3.16
  • A Igreja jamais deve se esquecer de seu papel profético nesta terra em que peregrinamos.


Dicas de Leitura:


CARSON, D. A., FRANCE, R. T.,

MOTYER, J. A., & WENHAM, G. J. (Eds.). (2009). Comentário bíblico Vida Nova. (V. tradutores, Trad.) São Paulo, SP, Brasil: Vida Nova.

GUTHRIE, D., & MOTYER, J. A. (Eds.). (1989). New Bible Commentary. Leicester and Grand Rapids, UK and USA: Inter-Varsity Press and Wm. B. Eedermans.

HORTON, M. S. (2010). Cristianismo sem Cristo: o evangelho alternativo da igreja atual. (N. Batista, Trad.) São Paulo, SP, Brasil: Cultura Cristã.

JONES, P. (2002). A ameaça pagã: velhas heresias para uma nova era. (M. Tolentino, Trad.) São Paulo, SP, Brasil: Cultura Cristã.

JONES, P. (2007). O deus do sexo: como a espiritualidade define a sua sexualidade. (J. Severo, Trad.) São Paulo, SP, Brasil: Cultura Cristã.

MACARTHUR JR, J. F. (2010). A guerra pela verdade. (G. Chown, Trad.) São José dps Campos, SP, Brasil: Fiel.

MOHLER JR, R. A. (2009). Desejo e engano: o verdadeiro preço da nova tolerância sexual. (F. W. Ferreira, Trad.) São José dos Campos, SP, Brasil: Fiel.

STOTT, J. R. (2000). A mensagem de Romanos. (S. Steuernagel, & M. D. Steuernagel, Trads.) São Paulo, SP, Brasil: ABU.

terça-feira, 14 de junho de 2011

A IGREJA E O HOMOSSEXUALISMO - parte 3 de 4

Joel Theodoro é pastor presbiteriano no Rio de Janeiro

Paulo aos Romanos
"Por isso, Deus entregou tais homens à imundí
cia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!
Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza;
semelhantemente, os homens também, deixando o contacto natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro.
E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes."
Romanos 1.24-28
O consenso geral é que Paulo aqui se refere às práticas homossexuais tanto femininas quanto masculinas. Quanto a isso não temos maiores questões. O panorama de Paulo era uma sociedade em que a prática homossexual e as depravações sexuais eram constantes e, na maioria das vezes, eram aceitas como normais em determinados padrões. O mundo helênico, assim como o romano, tinham práticas que iam do prazer à religião, com seus cultos pagãos em que a sexualidade assumia papel preponderante. Uma ressalva deve ser feita no sentido de que esses povos não tinham o conceito ético e moral, muito menos ainda o espiritual, da revelação de Deus. Em outras palavras, os cultos e os costumes eram pré-cristãos, sem a presença mediadora da Palavra de Deus. Nesse ambiente surge uma Igreja. Nesse exato contexto Paulo instaura suas orientações expressas com relação à Igreja que se implantava em todo o entorno do Mediterrâneo.

Em termos objetivos, Paulo nos revela algo que deve nos levar à reflexão profunda e piedosa da vontade soberana de Deus e de Sua justiça. É comum termos em mente que um Deus irado haverá de se manifestar com grande estrondo e intervenção direta. Mas o que Paulo nos revela é a ira de Deus manifestada exatamente pela ausência da ação de Deus numa relação em que o homem é deixado total e completamente à mercê de si mesmo e de seus pecados mais atrozes. A ira de Deus está sendo dada como algo que vem do silêncio, “não pela intervenção de Deus, mas justamente por sua não-intervenção, deixando homens e mulheres seguirem o seu próprio caminho”[6], diz Stott citando John Ziesler. Portanto, nas palavras de Stott, Deus abandona o pecador aos seus próprios caprichos, pecadores obstinados entregues ao seu próprio egocentrismo, e o “processo resultante da degeneração moral e espiritual deve ser entendido como um ato do juízo de Deus” e essa seria a revelação da ira de Deus vinda dos céus que aparece no verso 18.
Paulo estabelece um caminho lógico pelo qual explica todo esse processo, que desemboca finalmente no subsolo da depravação pagã que se opõe ao cristianismo.
1. Ele parte do princípio que tais pessoas conheciam a Deus (conhecimento geral de Deus, verso 21), bem como a verdade de Deus (25) e o conhecimento de Deus (28).
2. Em seguida, Paulo menciona que as pessoas resolveram abandonar Deus em favor dos ídolos, não glorificando nem rendendo graças a Deus (21), adoraram coisas criadas no lugar de quem as criou (25) e finalmente rejeitaram a verdade de Deus (28).
3. Por fim, Paulo descreve a reação da ira justa de Deus, que os entregou à impureza sexual (24), os entregou a paixões vergonhosas e os entregou a uma disposição mental reprovável (28).
Nota sobre “entregou”. Interessante notar que o termo grego para nosso verbo flexionado “entregou”, que foi traduzido da mesma forma em todas as versões consultadas, é o verbo flexionado παρεδωκεν (paredOken), que tem uma conotação de “entregar para efeitos de juízo”. Ou seja, Deus entregou o homem para ser julgado por seus próprios atos, sem a intervenção graciosa de Deus em favor do mesmo.
Nosso cuidado não deve ser exclusivamente com relação à sexualidade, mas a qualquer outra fo
rma de idolatria, inclusive as que nos levam à prostituição cultual da fé, o que geralmente consideramos como sendo cristianismo mas que, na verdade, não passa de idolatria e misticismo emascarado de piedade. A punição de Deus para a idolatria foi entregar (para efeitos de juízo) os pecadores à sua própria sorte. A punição de Deus para os idólatras de hoje poderá ser da mesma sorte, o que deve nos manter atentos ao que nos cerca e à nossa própria vida. A História nos mostra que abandono de fé leva à idolatria e idolatria descamba em imoralidade, exatamente porque sexualidade e fé são intimamente ligados.

O Deus que é bendito para sempre (25) é trocado pelo homem. Em seu lugar, a criatura que é fugaz e passageira. O abandono da verdade traz à tona, em seu lugar, a maior de todas as mentiras, de todos os enganos. A verdade de Deus é trocada pela mentira do homem: a perfeição e a glória de Deus trocadas pela miséria do homem. Nesse ponto, e por essa razão, Paulo diz que Deus entregou a raça a relações vergonhosas. O termo traduzido por vergonhosas ou infames é "atimías" e nos remete a vergonha, infâmia, desonra, desgraça, indignidade, desgraça. A uma relação com esses adjetivos a raça foi entregue para efeitos de juízo.

Os versos 26 e 27 são fundamentais para o debate contemporâneo sobre homossexualismo. Os movimentos de apoio ao homossexualismo interpretam que esses versos:
1. Falam apenas da forma como Deus manifesta Sua ira, e não algo específico para um pecado em si;
2. Dizem que Paulo falava apenas contra a pederastia, que era algo bem conhecido no mundo Greco-romano;
3. Expõe que Paulo, quando fala de “natureza” não se refere ao homossexualismo como sendo “contrário à natureza”, pois se eles estão orientados sexualmente como homossexuais, isso não contraria a natureza. Com isso, eles interpretam que Paulo condena apenas atos homossexuais envolvendo heterossexuais.

Richard Hays, citado por Stott, refuta tais posições, em especial a que trata de “natureza”. Diz ele em relação ao que é natural (kataphysis) ou não natural (paraphysis), que eram termos constantemente utilizados para “estabelecer distinção entre comportamento heterossexual e homossexual”. A diferenciação objetiva entre ser orientado de certa maneira sexual ou manter práticas sexuais faz parte de conceitos modernos, são conceitos anacrônicos a Paulo. Assim, “insinuar que a intenção seja condenar atos homossexuais somente quando cometidos por pessoas que são, por natureza, heterossexuais é introduzir uma distinção completamente estranha ao mundo das ideias de Paulo”.

Não há maneira de interpretar o texto dessa maneira. Somos obrigados ainda, pelo texto, a jamais interpretar “natureza” como algo pessoal (minha natureza), mas como ordem divina das coisas. Agir de “modo contrário à natureza” (26) só pode significar “agir contra a ordem da criação de Deus, agir contra o que foi estabelecido por Deus.

Como resposta a isso, temos que:
1. Deus criou a humanidade sendo o padrão homem e mulher. Voltamos ao princípio, quando lemos que Deus criou macho e fêmea, homem e mulher (Gn 1.27). Essa é a ordem de Deus e é contra essa ordem que Paulo se refere no verso 26;
2. O casamento instituído por Deus é heterossexual. Logo em seguida temos a instituição da família com o modelo determinado por Deus, no qual há um homem e uma mulher, que se unem e se tornam uma só carne;
3. Deus uniu e nós não podemos separar essa determinação. Por último, vemos a intenção original de Deus, que foi citada e amalgamada por Jesus, que seguiu dizendo que se Deus o uniu, referindo-se à união homem e mulher, que o homem não o separe (Mt 19.4, com base em Gn 2.24).


Em síntese, por tudo o que vimos até aqui, se bem estudarmos a passagem, veremos:
1. O homossexualismo é um ato de incredulidade, de abandono de Deus;
2. O homossexualismo é um ato de revolta contra a soberana decisão de Deus expressa na criação;
3. O homossexualismo, por ser ato de incredulidade e rebelião contra Deus, receberá em si a justa paga do derramar da ira de Deus, excluindo os que o praticam da glória eterna (1 Co 6.9-10: 9 “Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, 10 nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus.”)
4. O papel da Igreja é dizer a todos os que pecam que se se arrependerem poderão herdar a glória de Deus e ouvir: “Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.” (1 Co 6.11).

sábado, 4 de junho de 2011

A IGREJA E O HOMOSSEXUALISMO - Parte 2 de 4

Joel Theodoro é pastor presbiteriano no Rio de Janeiro

Continuando...

Aos que não acessarama a primeira parte, este texto em quatro porções:

Parte 1: Introdução e Fé e Sexualidade
Parte 2: Interpretação e Cosmovisão
Parte 3: Paulo aos Romanos
Parte 4: Resistência e Dicas de Leitura
__________________________________________________

Interpretação e Cosmovisão

Usando as palavras de Mohler[4], temos visto uma “hermenêutica da legitimação”, pela qual se tenta construir uma mentalidade cristã que duvide das afirmativas bíblicas a partir de novas interpretações de fatos até poucas décadas considerados de forma axiomática. Nessa tentativa, surge um conceito pelo qual passagens como Gn 19, Lv 18.22, Lv 20.13 são explicados não como sendo atos homoafetivos, mas como estupros homossexuais. Nesse caso, para os defensores desse princípio, o que se condena é a violência e não o possível ato consentido. Para Rm 1.26,27, a explicação é um pouco diferente: Paulo, por desconhecer a possibilidade de uma relação sincera homoafetiva, condena a relação homossexual entre heterossexuais. Assim, dizem eles, o heterossexualismo patriarcal, que fere o sentimento humano, deve ser banido da Igreja contemporânea.
Esse tipo de pensamento gera muita confusão na Igreja e apela para um constante revisionismo da Teologia e da Eclesiologia, encontrando forte eco entre as denominações mais históricas e acostumadas e refletir com mais aprofundamento e liberdade. Como endosso extrabíblico aos esforços revisionistas encontramos uma série de artifícios e sofismas que se utilizam acima de tudo de pretensas descobertas da ciência para questionar a Bíblia, que, para eles, não passa de uma coletânea de textos que narra a saga de fé dos judeus, com seus exageros e mitos. Os cristãos teriam se apropriado disso e evoluído até o que chamamos de Igreja, que não é extática, mas que precisa estar em movimento contínuo. Nesse bojo estão as revisões de interpretação com respeito à sexualidade humana.
Muitos desses pensadores percebem em Paulo, por exemplo, que seus escritos a respeito de sexualidade estão de alguma forma ligados à hierarquia humana e cultual e, por isso mesmo, fazem uma correlação entre hierarquia, poder, dominação e sexualidade. Segundo eles, o que vai de encontro às ideias do tópico anterior, se a base de sexualidade for “liberta”, a dominação, o poder e a hierarquia também serão revistos.
O que leva essa discussão adiante na sociedade moderna é o conceito de “orientação sexual”, pelo qual a pessoa é livre para escolher por qual sexo sofrerá atração, em que medida a sentirá, ou se terá atração por ambos os sexos. Para essas pessoas, isso equivale a ser livre e autônomo. Os conceitos filosóficos de liberdade e autonomia não serão tratados neste texto, mas deveriam ser visitados por leitores mais interessados em suas possibilidades de definição e argumentação. Essas ideias nos prendem ao princípio de que os homossexuais fazem o que eles são de verdade. De onde vem essa informação, então? De um mito moderno que coloca tudo que se quer tornar incontestável dentro de um esboço do que é “cientificamente comprovado”.
Quando as pessoas utilizam essa expressão, elas dizem quase de forma sacerdotal que aquela é uma verdade inquestionável, mesmo que eu diga em paralelo que não há mais verdades inquestionáveis. Mais uma vez o paradigma do conceito de religiosidade se aproxima dos fatos da sexualidade humana. A orientação sexual é algo tido por inequívoco e é algo inato, do qual a pessoa não pode se afastar. Isso não é apenas uma questão de gosto ou preferência, mas de orientação inata. Vale ressaltar que essa fala dos movimentos homossexuais é constantemente desfeita por cientistas mais sérios que dizem haver indícios, mas que não demonstram elementos comprobatórios. Este é um clássico caso no qual a hipótese precede a prova científica e, em dado momento, abre-se mão das comprovações para se definir a hipótese como prova em si mesma (como no caso da Teoria da Evolução).
Para isso, respondemos com nossa cosmovisão cristã clássica, em que sabemos que a Palavra e os conceitos de Deus não se submetem às interrogações ou às perspectivas científicas, mas Deus é soberano diante da Sua criação. O que entendemos por sexo e moral não está ligado à ciência ou aos seus subprodutos, mas exclusivamente à Palavra de Deus e suas orientações para Seus filhos. A resistência a qualquer tentação homossexual, nesse caso, deve ser da mesma intensidade que a resistência à tentação heterossexual. Nossa cosmovisão nos extrai do conceito terapêutico e nos remete ao conceito bíblico: para tratar de pecado, recorremos à Bíblia e não a manuais humanos.
A arma pagã é o estabelecimento de incertezas em oposição às certezas de fé. Sugiro a leitura de “A guerra pela verdade”[5], que trata não especificamente do assunto homossexualismo, mas da base de nossa fé, de nossas certezas, e como defendê-las em tempos de ataques abertos como os que temos sofrido ultimamente.

[4] (MOHLER JR, 2009)
[5] (MACARTHUR JR, 2010)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A IGREJA E O HOMOSSEXUALISMO - Parte 1 de 4

Joel Theodoro é pastor presbiteriano no Rio de Janeiro
Imagens: http://www.flickr.com/


De volta após um silêncio...

Para não ser por demais enfadonho, resolvi fazer a publicação deste texto em quatro partes, dividindo o conteúdo e facilitando a leitura. Será assim, se Deus o permitir:

Parte 1: Introdução e Fé e Sexualidade
Parte 2: Interpretação e Cosmovisão
Parte 3: Paulo aos Romanos
Parte 4: Resistência e Dicas de Leitura

Vamos lá, então.
_____________________________________________________________________________________

Introdução

Como todos os aspectos do comportamento humano, o tema homossexualismo não é de fácil trato. Ao longo deste breve texto, vamos nos ater a alguns pontos principais, a fim de não fugir de nossa capacidade de reflexão, que é a que perpassa o contexto bíblico com aspectos teológicos reformados. Os demais pontos, quer sejam biológicos, jurídicos, antropológicos ou mesmo sociológicos, se mencionados, apenas farão parte da ilustração textual.

Até há bem pouco tempo atrás a questão do homossexualismo costumava ser tratada em círculos reservados, por pesquisadores ou teólogos interessados em compreender o fenômeno e, assim, auxiliar seres humanos que de alguma forma fossem afetados por comportamentos diferentes dos mais comuns. Ao longo da História humana, os relatos de homossexualismo são ancestrais, remontando a períodos anteriores à escrita, em que inscrições e ilustrações rupestres já mostravam relações homoafetivas. Atualmente, a sociedade em geral – não apenas no Brasil, mas em todo o Ocidente e em parte do Oriente – força a Igreja a se manifestar de maneira mais direta a respeito do tema, resgatando o mesmo e comparando-o às suas convicções de fé.

No meio cristão sempre houve unanimidade em relacionar a prática homossexual ao pecado, mas de algum tempo para cá, principalmente após a segunda metade do século XIX, no meio cristão tem-se iniciado um processo de aproximação com as causas homossexuais e com a aceitação de suas práticas. Em termos gerais, tais cristãos se concentram nas esferas liberais da teologia, seja protestante (Teologia Liberal), seja católica (Teologia da Libertação). Essas correntes tendem a relativizar os conceitos doutrinários mais aceitos e centrados no Bíblia.

Por esses motivos, devemos compreender que a crise que envolve o tema entrou na Igreja e exige que ela se posicione à luz de sua experiência de relacionamento social e sobre sua certeza de fé. Nenhuma religião, menos ainda a cristã, deve ser forçada a abrir mão de suas crenças por causa das mudanças que a sociedade ao seu redor sofra com o tempo. Mas todas as religiões, a cristã acima de todas, deve estar apta a respeitar as decisões dos grupos sociais que as cercam, atentando sempre para os direitos individuais, bem como para a preservação de sua própria integridade. Ou seja, devemos manter total respeito, enquanto exigimos total respeito também.

Este breve estudo pretende ser elucidador, porém não é exaustivo. Volta-se para cristãos brasileiros do início da segunda década do século XXI.

Fé e Sexualidade

Como nos diz Peter Jones[1] “Você quer conquistar uma civilização? Mude as ideias a respeito da sexualidade”. O que temos visto de algumas décadas para cá é uma verdadeira migração de conceitos a partir da qual a sociedade tem sido conquistada e cujo cominho tem sido a sexualidade. Aquilo que conhecemos por imoralidade tem se tornado o apelo normal da sociedade de consumo e muitos dos fatos relacionados a isso sequer percebemos mais. Uma boa ilustração está no filme “A Jornada”[2], que narra as aventuras de um professor de seminário que está prestes a editar uma tese com pressupostos liberais. Muita coisa acontece e esse homem é mandado, por uma máquina do tempo, aos nossos dias. Aqui e agora ele vê na prática aquilo que ele achava coerente em seus dias e simplesmente não entende como nos dizemos cristãos vivendo como vivemos hoje em dia. O filme nos apresenta algo da nossa perspectiva de sexualidade como a entendemos hoje.

Fé e sexualidade estão intimamente ligadas. Como bem sabemos, a Bíblia nos mostra vários exemplos em que cultos com prostituição cultual e práticas sexuais com efeitos religiosos eram realizados. Alguns textos da Bíblia sobre isso estão em Gn 38.21; 1Rs 14.24; 2Rs 23.7. Da mesma forma, os tempos do Novo Testamento são repletos de relatos de cultos à fertilidade e felicidade dirigidos a divindades mais conhecidas nossas por causa das culturas helênica e romana. Muitas vezes quando lemos termos em português como “adultério”, “prostituição”, “imoralidade”, etc., estamos lendo termos originalmente relacionados à prática do sexo com fins religiosos. Nesses ambientes há narrativas de orgias coletivas, práticas abertas de incestos, de sodomia e de pedofilia, dentre outras alternativas à sexualidade natural. Algumas igrejas precisaram ser orientadas de modo mais direto pelos pastores daqueles dias, como se deu com as igrejas de Corinto, da Galácia, de Éfeso, etc.

Exatamente por ser algo que está ligado ao conceito de fé, precisamos entender que a fé cristã é atacada cada vez que seus pilares são questionados. Um dos pilares mais essenciais de nossa fé é a confiança total em que a obra de Deus é boa, sustentada por Ele, totalmente dependente dele e que, por Sua vontade soberana, Ele a estabeleceu com base em elementos de regência e equilíbrio. Os papeis de homens e mulheres fazem parte desse equilíbrio, em que fomos dotados de semelhanças profundas, porém de diferenças que nos completam. A gestão familiar e eclesiástica são exemplos de papeis masculinos, enquanto outras obras, como a maternidade, são papeis femininos. A partir do que chamamos de revolução sexual, dos anos 50-60, a busca pelo reconhecimento das condições de igualdade da mulher extrapolaram as questões de cidadania (direito a votar e ser votada, igualdade de ganho para as mesmas funções masculinas, por exemplo) e migraram em direção a papeis exclusivamente masculinos. Por que os homens são melhores? Não! Porque assim Deus nos capacitou e ordenou! Ultimamente, homens também se sentem no direito a almejar papeis exclusivamente femininos, como o do direito à maternidade.

Voltando a Jones, a atual situação em que nos encontramos, falando de sexualidade, começou em tempos antigos, quando o conceito de patriarcado foi questionado e deliberadamente combatido. Para reforçar essa ideia, ele cita Virginia Mollenkot, uma autora denominada cristã, mas aberta defensora do homossexualismo e da simbiose do cristianismo com a bruxaria. Diz ela, citada por Jones: “a heterossexualidade obrigatória é a espinha dorsal que mantém o patriarcado em pé”. E completa dizendo que a “homossexualidade quebrará essa espinha”. Para pessoas como ela, Kate Millet, Naomi Goldenberg, Elinor Gadon, Ruether e outras, vale a ideia que o homossexualismo feminino e, por inferência, o masculino, funcionam como força libertária que leva esses indivíduos a uma vida autônoma. Todas essas mulheres e os defensores de seus ideais são também defensores de cultos mágicos, à natureza e a divindades orientais. Com isso confirmamos a posição de que fé e sexualidade estão sempre de mãos dadas: a prática sexual avessa às Escrituras (fé cristã) é, na verdade, uma oposição à Palavra de Deus na mesma proporção em que se aproxima de outras vertentes de fé. Ou seja: não há inocência, mas uma luta do paganismo contra o cristianismo. Alguns pensadores cristãos renomados estão perigosamente próximos a essas vertentes, como Stanley J. Grenz e Roger E. Olson em uma obra de Teologia Sistemática publicada pela Intervarsity Press, que veem na teologia feminista uma luz para a Igreja na pós-modernidade. Alguns seminários teológicos, por exemplo, tratam Deus como Pai-Mãe, destacando suas características femininas. Para mais informações sobre o assunto, recomendo outra obra do mesmo autor, principalmente o capítulo 4, cujo título é “Homossexualidade: o sacramento sexual do paganismo religioso”, à página 63.

A tese final é trazer a sexualidade ao mesmo patamar da religião totalmente sincrética ou ecumênica: todas se aproximam, tornam-se totalmente tolerantes, passam a ser colaborativas e, depois, perdem suas identidades por simbiose. No caso da sexualidade, isso se chamará androginia humana. Para isso, a referência de sexualidade humana precisa ser totalmente desconstruída para ser reconstruída em novas bases, as do paganismo sem qualquer sombra de influência do cristianismo. O novo ser humano andrógino, nesse ponto, não terá mais qualquer referenciamento a Deus, o Pai, pois a paternidade será totalmente rejeitada como fruto de um patriarcado heterossexual repulsivo.

[1] (JONES, 2002)
[2] (A Jornada, 2002, COMEV)