terça-feira, 28 de abril de 2009

CRISTÃOS DE MENTIRINHA

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Imagens: http://www.flickr.com

Nosso mais grave problema consiste em não mais termos coração cristão. Explico: falamos como cristãos, temos gíria própria de cristãos, vamos a igrejas cristãs, cantamos como cristãos, temos jeito de cristãos. Mas não temos as motivações que seriam as naturais de cristãos.

Refiro-me à cosmovisão ou, em outros termos, aos pressupostos que temos assumido para nossa existência. Com isso, temos travestido, pelas formas acima (e muitas outras) a nossa vida de maneira a termos em nós a caricatura expressa de cristãos.O ser cristão não representa a fantasia, a forma. É, antes de tudo, a essência. Moisés, no monte, pôs sobre a face um véu para que os filhos de Israel suportassem a glória de Deus que brilhava sobre ele. Será? Paulo nos dá uma dica interessante em 2 Coríntios 3.13, quando afirma que a finalidade (o pressuposto expresso) de Moisés era não permitir que os filhos de Israel percebessem quando o brilho cessasse. Ou seja, na dúvida, pensariam que ele sempre estava com o brilho no rosto. Emascarar Deus de forma que Ele próprio nunca se mostrou é utilizar de pressupostos não cristãos para definir o que é absoluta e unicamente bíblico-cristão.

O problema não é sermos ou não literatos, apreciarmos ou não a escrita, a poesia, as artes, as expressões de humanidade. O problema consiste em pormos tudo na esfera adequada, sendo tudo permeado pela presença de Deus. Ou seja, se Ele não estiver naquilo, eu tampouco posso estar. Se Ele não apreciar aquilo, muito menos eu poderei apreciá-lo. Se Ele não comunga daquela idéia, quanto mais eu?

Gosto de ler Rubem Alves. Aprecio suas letras. Leio sua obra. Aprendo com ele. Reflito sobre seus pensamentos, geralmente profundos. Louvo a Deus por ele. Isso, como pessoa do meio literário que sou, como ser humano. Mas também leio bastante Machado de Assis, Schorske, Autran Dourado, Adorno, os gregos, Dante, etc e etc. Entendo suas pressuposições não-cristãs e por isso mesmo não posso considerá-los guias de minha espiritualidade, pois seus valores de mundo são deste mundo e não do nosso mundo. Infelizmente, nesse ponto, incluo Rubem Alves.

Precisamos saber no que cremos. Precisamos ser mais bereanos. No momento em que a informação não for essencialmente bíblico-cristã, preciso refletir, compreender e reter apenas o que for bom. Ou seja, as informações, não as verdades...Por essa simples falta de coração cristão e pela ineficácia em nosso filtro intelectual (afinal, a fé exige reflexão) é que nossos cultos parecem shows, nossas pregações parecem orientações psicanalíticas, nossos gabinetes pastorais parecem consultórios, nossos enfermos nunca ouviram falar que Jesus cura (!!), nossa música parece balada sem fim de culto a mim mesmo e ao irmão ao lado, nossos livros parecem material de auto-ajuda.

Precisamos entender que nem toda Teologia tem no "Teo" o mesmo "Teo" dos cristãos bíblicos. Precisamos entender que há muita Teologia que se preocupa mais em tentar desmentir a expressão bíblico-cristã que provar ao mundo que Deus é o que Ele próprio diz ser nas Escrituras. Incluo aí a Teologia Liberal dos evangélicos e a Teologia da Libertação dos católicos. Novos arianos, novos gnósticos. Precisamos ter alma afiada para identificá-los e refutá-los.

Lá vai o desabafo de um jovem pastor ("apenas" 43...) com antigas idéias. E a verborragia de um também jovem crítico literário, esse, sim, com novas idéias.

Que Deus os guarde e lhes dê paz.