sábado, 29 de setembro de 2007

FÉ PARA NÃO CRER I - NOSSAS IDÉIAS

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Fotos: http://www.flickr.com/

Uma das coisas que acompanham o homem desde seus tempos primitivos é a realidade do transcendente, com a inevitável realidade paralela da fé para entender e refletir sobre esse mesmo transcendente. Mas não tem sido uma viagem fácil para nossa raça o crer que algo imaterial possa ser real, mesmo quando nos vemos cercados de elementos que, se não são imateriais, pelo menos são de difícil percepção, como ar, som, sem falar em outros elementos, imateriais, reais, porém absolutamente imponderáveis, como o pensamento, por exemplo.
Creio que parte de nosso problema se baseia sistematicamente em processos pelos quais a nossa História nos apresenta a nós mesmos como o centro de tudo, em que nossa razão desponta como algo acima de qualquer suspeita e a nossa capacidade de gerir os destinos temporais e eternos estão espalmados em nossas mãos fortes e firmes. Nossos pensamentos e pensadores atingiram níveis impensados, com reflexões profundas e pertinentes, com a sagaz capacidade de sondar interiores humanos e distâncias cósmicas de maneira imaculada. Só não conseguem perceber que seus pensamentos são para si como máscaras e que, como toda fantasia, um dia sairão para dar lugar à realidade.
Esse olhar rotundo e cíclico provoca em nós uma espécie de orgulho que impede que vejamos a nossa real desgraça e a nossa roupa enxovalhada pendurada atrás da porta da nossa existência. Um interessante conto de Andersen fala de um rei soberbo e orgulhoso, cujo desejo de sobrepujar tudo e todos era largamente conhecido. Trata-se de “A roupa nova do rei” ou, em outras traduções, “A roupa nova do imperador” (se quiser ler a narrativa toda, clique aqui para baixar o e-book gratuitamente). Ficarei com o rei mesmo. Então, no reino, seus súditos entenderam que o melhor seria concordar sempre com o rei e seus caprichos. Uns embusteiros, chegando à cidade, aproveitaram-se da situação e, acima de tudo, das características do rei, e apresentaram-se como alfaiates capazes de fazer uma roupa tão especial que somente eles e o rei seriam capazes de perceber. Passados os dias da alfaiataria, e para poupar os leitores do enredo completo, a narrativa mostra um rei absolutamente nu desfilando por entre súditos espavoridos com a sandice do monarca, mas com os sorrisos e as aprovações públicas - falsos, é claro - demonstrados enquanto o rei passava pelas ruelas de seu reino. Assim temos sido: reis que se enganam a si mesmos pela soberba e pelo orgulho; súditos que fingem entender e ver o que não vêem nem entendem; alfaiates que cozem o que não podem somente para ludibriar e enganar os tolos.
Penso constantemente no fato de não sermos incapazes, no sentido intelectual, de ter e expor fé, no sentido cristão da palavra. Mas somos incapazes, no sentido social e comunitário, de entender que isso seja razoável e, até, normal e inteligente. É um exercício complexo hoje um jovem qualquer dizer no meio em que está que acha verdadeiras as palavras que dizem que “no princípio Deus criou os céus e a terra” (Gênesis 1.1), mesmo quando essa narrativa expõe posteriormente as razões e os meios para todo o desenrolar do processo. Ao contrário, é demonstração de grande inteligência e sagacidade ele afirmar que de um algo que não existia, por razões desconhecidas, sem explicação alguma, o caos se tornou absolutamente organizado, principalmente se uma inimaginável explosão tiver originado tudo.
Estou convencido que a fé necessária para crer na segunda afirmativa é muito mais intensa do ponto de vista da lógica humana que para crer na primeira.
Se alguém conhece um mínimo de Física, poderá ajudar daqui por diante. Embora não seja profundo conhecedor dessa área do conhecimento, não me vem à mente nenhum princípio pelo qual possamos explicar qualquer explosão ou desordenação absoluta se tornar algo ordenado sem a intervenção de um elemento ordenador. Como a ausência poderia dar lugar à presença de tudo? Como o caos e o nada poderiam ceder espaço à ordenação e ao tudo existente?
As pessoas que crêem na afirmativa da gênese bíblica continuam a sua leitura nos versos 2 e 3 e entendem o que seus opositores não serão capazes de perceber como algo razoável: “Era a terra sem forma e vazia; trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. Disse Deus: ‘Haja luz’, e houve luz”. Estes sabem responder que um agente participou efetiva, deliberada e inteligentemente da ordenação do caos absoluto, enquanto os outros, infelizmente, continuam dizendo ao seu rei “Ó rei, que belas vestes festivais!” E o rei, feliz, continua sorrindo alegremente ao seu populacho. Só não se apercebe que, em dado momento, uma inocente criança (sincera, é claro), grite “O rei está nu!”
Voltaire trata de questão semelhante, deixando-nos no ar uma questão sobre a velhinha de seu conto: seria melhor a ignorância feliz ou conhecimento infeliz? De certa forma me opondo e parafraseando nosso escritor e filósofo, cujas obras recomendo veementemente, em especial “Cândido, ou o otimismo”, creio ser absolutamente natural para os que vêem a palavra de Deus como fonte de seus entendimentos de mundo simplesmente optar por uma via que Voltaire não percebeu: é possível chegarmos ao conhecimento feliz.Por trás de nossas sensações, das posições que adotamos, dos pontos de vista que assumimos, há sempre mais do que podemos ver a olhos nus. Nos casos dos dois tipos de pessoas acima mencionados, isso também se faz verdadeiro. Não há postulados inocentes ou assépticos: há pressupostos, os quais regem nossas decisões e nossas atitudes. Continuaremos a tratar de como é preciso ter fé para não crer. Por enquanto deixo para vocês a lembrança das duas cadeiras do universo de Francis Schaeffer: para ele, há uma sala hipotética mobiliada com apenas duas cadeiras, nas quais sentam-se dois pensadores, sendo um cristão e outro materialista (sugiro a leitura de “Morte na cidade”, Editora Cultura Cristã: em seu último capítulo você entenderá esta imagem de Schaeffer). Faço força para pensar diferente neste momento: a mesma sala, nua de todo, na qual se vê apenas uma janela. Lá fora há algo a se ver. Pergunto: o que será visto pelo cristão e o que será visto pelo materialista de Schaeffer?

terça-feira, 25 de setembro de 2007

A CONDIÇÃO HUMANA III - PARA ONDE EU VOU?

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Fotos: http://www.flickr.com


Um dos maiores temores, se não o maior, da raça humana é se ver diante do inevitável: todo ser vivo, o que inclui o homem, terá de deixar de viver. A morte, como fronteira final a ser experimentada pelo homem, tem se mostrado como um grande susto, do qual ninguém tem como fugir. A eternidade tem sido discutida como processo filosófico, psicológico, artístico e literário, além de ético e religioso. Inúmeras são as alternativas apresentadas, mas apenas uma faz parte do pensamento cristão. Como alternativas humanas, um sem-fim de possibilidades se abriram ao homem, mas o mais dramático é que nenhuma delas nos satisfaz de fato. Por qual razão? Porque nenhuma delas responde as questões mais profundas que carregamos, como que numa genética ancestral a partir da qual sabemos - quase que numa espécie de instinto espiritual - que somente há um caminho possível, que é o caminho que o próprio Deus nos mostra desde tempos imemoriais.

Então, será que a Bíblia nos diz algo a respeito? Para onde eu vou? Há resposta possível para tal pergunta? Esta é a terceira pergunta de uma curta série de reflexões sobre a condição humana. A primeira reação, como já vimos, ao respondermos à primeira questão - de onde eu vim? - é prepararmos uma resposta física, quase geográfica. A segunda resposta nos leva ao esconderijo divino somente encontrado em Deus e não em algum lugar no qual poderíamos nos refugiar durante nossa peregrinação na Terra. Mas continuamos em direção à resposta mais importante, que está antes disso: está na razão de ser de estarmos com Deus.
Nossa resposta, com base na Bíblia, nos revela ser mais importante descobrirmos em quem eu estarei na eternidade futura acima de quaisquer outros pensamentos.
Como vimos antes, sei que vim das mãos de um Deus que me fez à sua imagem e semelhança e que me amou em todas as circunstâncias, boas e más. Também sei que estou escondido em Deus de todo mal e guardado nele de todas as circunstâncias. Assim, resta perguntar ao nosso coração, para onde eu vou?

Começamos por entender que, se buscamos no livro de Gênesis a origem e a situação atual de nossa existência, é lógico buscar no Apocalipse o destino final que nos aguarda. Nos últimos textos da Bíblia, de maneira simbólica, figurada, embora real e concreta, há um desenrolar de episódios que nos dão inúmeras pistas sobre para onde vamos depois destes breves anos vividos como seres humanos. Baseado nisso, posso compreender, em resposta à pergunta “para onde eu vou?” que eu vou para um Deus que preparou algo novo para mim.
Esse mesmo Deus que preparou algo novo para mim apresenta uma forma de aproximação final, que consagra toda uma vida ao seu serviço, andando como seu filho aqui na Terra. Isso é tratado por julgamento, ou forma de estabelecer o princípio pelo qual serão identificados naquele dia os verdadeiros filhos de Deus. Assim, no capítulo 20, entendemos que eu vou para um Deus que estabeleceu um julgamento para o homem, que se aplica tanto aos que ESTÃO no livro da vida (versículo 12), quanto aos que NÃO estão no livro da vida (versículo 15). Então, a primeira coisa a se aprender quanto ao lugar para onde nós vamos é que há uma circunstância futura diante da qual todos serão julgados por Deus. No capítulo 21 vemos uma bela seqüência de informações em que aquele que tiver em Deus poderá se encontrar no futuro eterno. Esse Deus que preparou algo novo para mim preparou, também, e de maneira especial, um novo lugar para que seus filhos habitem pela eternidade. Será um lugar em que Deus estará todo o tempo (versículo 3), quando o apóstolo João escreve que “agora o tabernáculo de Deus está com os homens, com os quais ele viverá. Eles serão os seus povos; o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus”. Isso nos leva de volta a um estágio de comunhão e intimidade com Deus como o homem experimentava costumeiramente antes da Queda. Eu vou também para um Deus que preparou um lugar sem nada triste ou ruim (versículo 4). Um lugar que resplandece com a glória de Deus, cujo brilho e beleza não encontram palavras precisas na pena do autor sagrado. Esse novo lugar preparado por Deus vai realmente além de nossa imaginação, sendo totalmente puro, que é o que João quis nos dizer quando fala de ser um lugar cuja “rua principal da cidade era de ouro puro, como vidro transparente” (versículo 21). Finalmente, ao falar desse lugar que Deus prepara para nós, João reforça a idéia inicial de que nela só entrarão os que tiverem seus nomes registrados no livro da vida. Diz ele que ali entrarão “unicamente aqueles cujos nomes estão escritos no livro da vida do Cordeiro” (versículo 27).

Desta vez, parece, estamos chegando quase a um ponto físico e geográfico, mesmo com a subjetividade dos simbolismos. Mas precisamos continuar, já que, como sabemos, estamos indo em direção a algo inevitável, que é a morte física. Mas a Bíblia nos ensina que há uma vida após ela e que a vida terrena é apenas o início dessa vida eterna. É bastante claro na palavra de Deus que ele anseia por nos guardar até esse dia com muita alegria.

Deus, como vimos, tornou possível a nossa sobrevivência espiritual a partir de suas motivações tornadas práticas em seu ato soberano. Mas será que havia algo por detrás de tudo, servindo como elo motivacional para Deus me guardar da maneira que o fez? Aqui, verdadeiramente, reside a nossa resposta.

Quando avançamos em busca de nossa resposta, podemos dizer claramente que, por trás de tantas coisas belas e maravilhosas que Deus realmente preparou para seus filhos, há algo ainda mais belo e maravilhoso, que é a motivação especial pela qual Deus quer nos acolher como filhos. Assim, posso continuar minha resposta com a seguinte perspectiva: Eu vou para um Deus que me preparou para estar de volta ao seu aconchego. Isso fica mais claro ao longo do capítulo 22.
Percebo três coisas nessa resposta, todas com base no versículo 14, que diz: “Felizes os que lavam as suas vestes, e assim têm direito à árvore da vida e podem entrar na cidade pelas portas”:
1) Eu vou para um Deus que me fez vestir vestes limpas. Agora e então as minhas vestes estarão lavadas (14) em oposição à nudez do pecado de Gênesis 3.10,11.
2) Eu vou para um Deus que restaurou meus direitos. Em sua presença eterna, terei de volta o direito de me chegar e me servir da árvore da vida, em oposição à proibição imposta pelo próprio Deus em Gênesis 3.22.
3) Eu vou para um Deus que me permite entrar na cidade santa. Mas não entrarei de qualquer jeito: entrarei pelas portas, por onde entram os convidados, não mais expulso do lugar de comunhão, como em Gênesis 3.23.
Qual, então, a melhor resposta para a pergunta “para onde eu vou?” Ela consiste em descansar na resposta que a própria Bíblia nos dá: eu vou de volta para Deus. Diretamente para Deus. Não vou apenas a um lugar celestial, mas vou de volta ao Pai! Saber que eu vou para Deus deve mexer comigo. Deve ser capaz de me fazer diferente do que sou, de renovar minha fé e esperança.
Como tomada de decisão, cada um de nós precisa aceitar o fato de estar indo para Deus, para com ele viver para sempre; precisamos sonhar com o glorioso dia de nosso encontro com ele; precisamos voltar (ou começar) a orar como nos orienta João: “Amém. Vem, Senhor Jesus!” (20).

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

A CONDIÇÃO HUMANA II - ONDE EU ESTOU?

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Fotos: http://www.flickr.com


Há poucos dias começamos a pensar juntos sobre a condição humana. É claro que não temos por intenção aprofundar a questão como um todo, pois sabemos que pensadores dos mais brilhantes têm discorrido sobre o tema há muitos e muitos séculos e não seríamos nós, em poucas linhas, que resolveríamos de uma vez por todas a questão. Não, nossa iniciativa se direciona a apenas um dos pontos possíveis de reflexão e, mesmo nesse caso, sabemos que ainda haveria muito a se levantar e sobre o que pensar.
Nosso pressuposto é que a Bíblia é a única expressão da palavra de Deus compreensível a nós, humanos. Partimos também do ponto de vista que a verdade expressa nas páginas da Bíblia é a verdade absoluta e sobre ela não há questionamento ou sombra de especulação duvidosa, embora aceitemos interpretações variadas possíveis para eventos não fundamentais ou não centrais da revelação divina ao homem.
Continuamos, portanto, a pensar sobre a condição humana como nosso tema central, sempre tendo em mente as perguntas básicas que nós, humanos, nos fazemos desde sempre: De onde eu vim? Onde eu estou? Para onde eu vou?
Como vimos anteriormente, na reflexão sobre “de onde eu vim?”, que as perguntas em pauta são recorrentes na mente humana, pela relação que há entre ele e sua realidade histórica situada no espaço e no tempo.
Temos visto também que Deus não nos rejeita, nem às nossas questões. Ele nos conhece e nos entendo, tendo ele mesmo nos feito, e desta forma como somos. Podemos inquirir e perguntar às páginas sagradas aquilo que povoa nossas mentes como necessidade de respostas.
Nesta segunda parte de nossos pensamentos, a nossa pergunta anda um pouco na História humana. Anda também em relação à nossa história pessoal e individual, já que, mais maduros, precisamos entender mais de nós, principalmente se nos aproximamos do inevitável caminho que nos leva a outras esferas, as que se seguem a esta nossa fugaz existência. Onde eu estou? A primeira reação, como vimos anteriormente, ao respondermos à primeira questão - de onde eu vim? - é prepararmos uma resposta física, quase geográfica, meio étnica. Mas a resposta mais importante está antes disso: está na razão de ser de estarmos com Deus.
Nossa resposta, com base na Bíblia, nos revela ser mais importante descobrirmos em quem eu estou acima de quaisquer outros pensamentos. Como vimos antes, sei que vim das mãos de um Deus que me fez à sua imagem e semelhança e que me amou em todas as circunstâncias, boas e más. Onde eu estou, então?
Nossa reflexão de agora vai dos capítulos 4 a 9 de Gênesis, em seqüência ao primeiro trecho analisado. Com base nesse texto, entendemos algumas coisas que nos ajudam a perceber onde é que estamos agora, no atual curso de nossa vida. Começamos a ver que a resposta pode ser construída de forma a que eu diga que eu estou escondido num Deus que me esconde, num Deus que me abriga. O maior símbolo disso nos capítulos lidos é a própria narrativa da arca e o que ela significou para as pessoas que Deus livrou da morte bem em meio ao caos estabelecido. Para a resposta acima, no entanto, há 4 desmembramentos. O primeiro me diz que eu estou escondido num Deus que guarda a minha alma do homem mau, mesmo que ele seja um falso irmão. Nos primeiros 11 versos do capítulo 4 podemos ler a instigante e triste narrativa da morte de Abel, assassinado pelo próprio irmão, Caim. Vejamos que o primeiro homicídio narrado na Bíblia, além da hediondez natural de um assassinato, carrega sobre si o pejo maior de ter sido um fratricídio. Numa leitura inicial, seria difícil perceber o que poderia ser tão bom, sob a ótica de Abel. Mas o fato é que Deus sempre demonstra preocupação maior com o nosso íntimo que com o nosso exterior. Abel, mesmo morto, continua sendo tido por ele como o que lhe agradou por seus gestos sacrificiais. Muitas vezes quererão o nosso sangue simplesmente porque agradamos a Deus, o que não deve servir de desalento, mas de encorajamento.
Depois, segue-se o fato de que eu estou escondido num Deus que me guarda da humanidade perversa, como posso ler em 6.5. Ora, como lemos ali, o pensamento natural humano nos leva sempre e somente para o mal. Não apenas “sempre”, nem apenas “somente”, mas “sempre e somente”, o que tira de nós a possibilidade de ver na humanidade natural alguma chance de me fazer o bem que somente Deus pode fazer. Isso me deixa totalmente dependente da guarda de Deus com relação a essa humanidade sempre e somente perversa e que, certamente, quererá meu mal.
Como terceiro ponto, posso entender que eu estou escondido num Deus que é o verdadeiro abrigo, como a arca no dilúvio. Assim como Noé foi salvo naquela ocasião, assim também os filhos de Deus são hoje preservados nesse verdadeiro abrigo. Mesmo em meio aos mais difíceis episódios que a vida nos preparar, ao nos perguntarmos sobre nosso paradeiro atual, poderemos responder sem dúvida alguma que estamos refugiados em Deus, escondidos nele, único abrigo possível para as mais escuras e densas tempestades que nos venham a assolar. Ele é o abrigo seguro para minha alma descansar dos sobressaltos da vida e da própria fé.
Finalmente, neste ponto, posso afirmar que eu estou escondido num Deus que zela por mim e por minha família. Deus não se preocupou apenas com Noé, a quem escolheu, mas lemos as seguintes palavras de Deus: “com você estabelecerei a minha aliança, e você entrará na arca com seus filhos, sua mulher e as mulheres de seus filhos” (6.18). Ora, o que isso representa? Isso quer nos dizer que ao filho de Deus é dado o privilégio de estender sua aliança pelas gerações vindouras.
Entendemos que não há razão lógica para a nossa preservação, para o fato de estarmos escondidos num Deus como é o nosso Deus. Nossa mente natural não alcança nem o fato de sermos pecadores, já que tentamos imputar a nós mesmos uma justiça baseada em obras vãs, como se a operosidade diária fosse condição primária de nossa salvação futura e eterna. Tampouco entendemos corretamente o fato de sermos alcançados eterna e graciosamente pelo Pai.
Estamos escondidos em Deus e isso nos basta. Essa é a razão de nossa sobrevida espiritual e de estarmos “navegando” para a eternidade com Deus.
Deus, como vimos, tornou possível a nossa sobrevivência espiritual a partir de suas motivações tornadas práticas em seu ato soberano. Mas será que havia algo por detrás de tudo, servindo como elo motivacional para Deus me guardar da maneira que o fez?
Posso dizer que sim. Deus resolveu me guardar, assim como resolveu antes me fazer e me amar. Por que? Quais suas razões e motivações?
Primeiramente, Deus resolveu me esconder nele porque ele demonstrou benevolência para comigo. Ele fez o mesmo com Noé, pelo qual demonstrou benevolência estando ele perdido em meio ao caos espiritual em que se via mergulhada a humanidade. Não há muita explicação do motivo de Deus haver escolhido Noé. Lendo 6.8 vemos que Deus foi soberano nesse tipo de escolha.
Depois, ele resolveu me esconder nele porque eu ando com Deus (9.9). Mas há algo mais a pensarmos neste ponto: Noé ( e eu, pela analogia que fazemos), somente andava com Deus porque Deus tinha tido benevolência para com ele (bem como para comigo). Isso me ensina que eu só posso andar com Deus porque ele me chamou a andar com ele. Jamais poderia fazê-lo por minha própria iniciativa. Isso me faz descansar nele e em suas promessas, pois meu esconderijo, na verdade, me escondeu em si muito antes de eu o descobrir.
Por último, Deus resolveu me esconder nele porque me levou ao lugar da aliança eterna com ele. No capítulo 9, versículo 9, lemos “Vou estabelecer a minha aliança com vocês e com os seus futuros descendentes”. Sabemos que Deus vê a família com olhos especiais. Sabemos que ao prover o esconderijo, a arca, para Noé, Deus o fez também para sua família. Mas aqui vemos que ele não quis apenas salvá-los, mas quis que eles se tornassem parte de uma aliança superior, algo especial que Deus estava propondo ao homem naquele instante.
O que poderíamos esperar como resposta para esta segunda pergunta, partindo de pressupostos tais como os da resposta à primeira pergunta? Creio que a melhor resposta para a pergunta “onde eu estou?” consiste em descansar na resposta que a própria Bíblia nos dá: eu estou em Deus. Diretamente em Deus. Estou guardado em Deus eternamente, juntamente com minha família, estou escondido nele e jamais serei arrebatado de suas mãos, pois eu não me escondi furtivamente sob sua proteção, mas fui chamado por ele a me esconder no abrigo que ele mesmo providenciou para mim. Saber que eu estou em Deus deve mexer comigo. Deve ser capaz de me fazer diferente do que sou.
De posse dessa resposta, o que devo fazer então? E aqui vai a minha sugestão para que você tome algumas decisões: aceite o fato de estar escondido em Deus, e nele ser salvo de todo mal; desperte sua alegria por tão grande privilégio; tenha em mente que há muitos outros que precisam descobrir isso e entrar no mesmo processo de guarda da parte de Deus, para os quais você pode ser um anunciador da parte de Deus.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

HERNANI E EU - PARTE IV: A CONCLUSÃO

Texto de Marcelo Gomes,
Seminarista no Rio de Janeiro
Fotos: http://www.flickr.com

Anthony Robbins, citando Hellen Keller, em seu bestseller "Desperte o gigante interior", afirma: A vida é uma aventura ousada, ou nada. Isso não é diferente na vida do cristão. Naquela noite, naquele táxi, vivíamos uma aventura, uma aventura como agentes de Deus neste mundo. Muitas vezes nem nos damos conta disso.

Lá estávamos nós. Noite de quarta-feira, parados num táxi, em fila dupla - em plena Rua Conde de Bonfim. Do lado de fora, chuva e frio.Eu já estava surpreso pelo tempo que estávamos ali. Do ponto de vista humano, era inexplicável.Hernani demonstrava estar entendendo as explicações. Não tinha contra-argumentos, mas o orgulho humano é um dos maiores traços de nosso pecado, e não deixou de se manifestar ali.

Gabi, quieta até então, falou àquele homem que foi justamente por tudo aquilo que estávamos falando (vide posts anteriores) que Jesus havia morrido na cruz, ou seja, por nós. E que só sabemos disso através da Bíblia.

Hernani se demonstrava atônito, mas também orgulhoso. Ao mesmo tempo que claramente era confrontado por algo que era mais forte que seus pensamentos, também não deixava isso transparecer muito. Desejava, através de uma sabedoria empírica, provar que nossa fé em um livro e um Cristo era tola, mas se tornou um tolo ao apresentar uma visão da vida totalmente irracional (Romanos 1.22).

É exatamente este o ponto que toda esta história nos remete. Nas palavras do teólogo e filósofo Vincent Cheung:
As cosmovisões não-cristãs são tolas porque elas são irracionais. Um modo racional de pensar e conhecer chega a conclusões validamente e necessariamente deduzidas a partir de premissas verdadeiras. Mas os incrédulos não têm nenhuma forma de conhecer premissas verdadeiras, e nem eles raciocinam por deduções válidas; antes, eles fazem a si mesmos o ponto de referência último para o conhecimento, supondo falsamente que eles podem descobrir a natureza da realidade através da intuição, sensação e indução.
Minutos depois chegamos em casa. Um senso de inadequação, frustração e lamentação se apossou de nós. Quase trêmulos, mãos frias e pensamento constante naquele homem e no que havia ocorrido.

Conversei com Gabi - e isso repercutiu nos dias seguintes -, a respeito de como nós, por mais bem preparados que possamos achar que estamos, no momento de guerra nos sentimos fracos. Certamente por isso que Deus nos revelou através do apóstolo Paulo a verdade de 2 Coríntios 12.10: "Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Pois, quando sou fraco é que sou forte".

Quero lhe dizer que é extremamente diferente escrever sobre isso, depois de ter passado. Pode dar uma falsa impressão de heroísmo, quando na verdade trememos e tememos diante daquela situação que poderia, se não tivéssemos entendido o chamado, ser apenas mais uma volta para casa, de táxi, com um motorista bastante falante. Deus definitivamente não quis assim.

Atenção para isso: A vontade de Deus é sempre realizada, INDEPENDENTEMENTE DE NÓS, contudo na maioria das vezes, é realizada ATRAVÉS DE NÓS!

Por isso rendemos glórias a Deus, que por Sua livre graça nos usa.

Por isso devemos estar sempre preparados, pois é esta nossa responsabilidade nesse processo.

Mas restou lhe contar o que ocorreu nos minutos finais dentro do taxi.

Antes de sairmos do táxi, lancei um desafio ao querido Hernani:
- Eu o desafio a ler a Bíblia! (anteriormente eu perguntei se ele já havia lido - respondeu que não).

E continuei:

- Ainda que você não acredite no que eu estou falando, teste você mesmo, leia e verá que verdadeiramente Deus falará com você.

Hernani deu a entender que leria. Se demonstrou isso só para nos agradar, não sabemos.

Naquele momento Gabi e eu percebemos a importância do cristão andar sempre com um exemplar da Bíblia para presentear alguém. Não tínhamos.

Assim foi o final de nosso encontro. Nos despedimos quase que calorosamente do Hernani e descemos do táxi.

Mas certamente não foi o final desta história, apenas de nossa participação.

Oramos para que a vontade de Deus seja feita na vida do Hernani. Se ele for um eleito de Deus, O Espírito de Deus trabalhará em seus pensamentos e tornará eficaz tudo que foi dito naquela noite. Pode até acontecer que, mesmo que ele seja um eleito, Deus escolher não convertê-lo neste momento de sua vida, antes, pode tornar estas palavras eficazes no coração dele num tempo posterior. Quem sabe utilizar instrumentos adicionais (outras pessoas, ou até mesmo nós novamente) para trabalhar a mente dele antes de finalmente convertê-lo.

Seja qual for o caso, apesar de toda insegurança que temos, temos que realizar nossa tarefa. Quantos "Hernanis" temos encontrado dia após dia diante de nós? Qual tem sido nossa atitude diante de tais pessoas?

É nosso dever desafiar ousadamente o orgulho humano e apresentar claramente a sabedoria divina da Escritura.

Isso é pregar o Evangelho para uma pessoa. Esta é nossa responsabilidade neste mundo.

A Deus seja toda a glória, pelos séculos dos séculos, amém!!!!

terça-feira, 11 de setembro de 2007

A CONDIÇÃO HUMANA I - DE ONDE EU VIM?

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Fotos: http://www.flickr.com


Nós, seres humanos, temos algumas perguntas que são recorrentes em nossa mente, talvez mesmo pela simples relação de finitude que sabemos ter em nossa jornada histórica espaço-temporal. Sabemos, mais que qualquer outra coisa, que não temos respostas naturais para algumas de nossas mais inquietantes perguntas.
Algumas dessas questões passam por nossa razão existencial e a sua realidade atemporal faz presença em suas dúvidas. De onde eu vim? Onde eu estou? Para onde eu vou? Perguntas assim nos levam a inúmeros pensamentos, muitas filosofias e arrazoamentos religiosos infinitos. A Bíblia, centro da fé cristã, é clara em nos ensinar e nos acalmar com relação a tais questões, pois ela nos acena com respostas que passam pela lógica e se alojam em nosso espírito.

Muitos questionam nossa fé por crerem que a mesma deve ser um apanhado de impressões sem relação alguma com nosso intelecto, mas o fato é que não adianta apenas adquirirmos consciência de que vamos um dia para a eternidade com Deus. Somos seres que pensam e fomos constituídos assim pelo próprio Deus para uma vida cúltica com base na razão. Afinal de contas, foi Paulo, o apóstolo, quem utilizou a sentença “culto racional” para dizer como Deus gostaria de ser cultuado (veja Romanos 12.1). Por isso não é errado também queremos as respostas que Deus pode nos dar em sua palavra.
De onde eu vim? Assim começaremos uma curta série de pensamentos sobre a condição humana. As duas outras perguntas se seguirão dias mais adiante, querendo Deus. Interessante que a primeira reação ao nos depararmos com perguntas tão subjetivas e amplas assim é prepararmos uma resposta física, talvez preparando respostas nas quais os princípios do Criacionismo saltem avidamente para combater os do Evolucionismo. Isso é muito importante, mas para este momento vamos nos contentar em não mexer nesse campo e buscar uma resposta que seja ainda mais importante, já que vem antes dela: encontra-se na razão de ser de termos vindo primária e originariamente de Deus.
Naturalmente, ao nos depararmos com essa pergunta, tendemos a responder por dois aspectos: pelo lugar de onde viemos e pela forma que fomos feitos. Porém a resposta mais importante não é nem uma nem outra, mas consiste em descobrir de QUEM eu vim.
Gostaria de me ater a Gênesis, dos capítulos 1 a 3. Vamos pegar alguns trechos dessa passagem para obtermos nossa resposta. De onde eu vim? Vou entender para esta reflexão que sou ser humano e quando me referir a mim nesta leitura, estarei me pondo no lugar de qualquer ser humano.
A primeira coisa que afirmo é que eu vim das mãos de um Deus que me criou à sua imagem e semelhança.
Ao continuar essa pequena leitura, podemos entender, ao ler os versículos de 26 a 30, que não sou proveniente dele de qualquer jeito, mas ele, além de me criar, me deu importância e autoridade. Ao resolver fazer o homem à sua imagem e semelhança, o que entendemos que se aplica ao fato de termos personalidade, intelecto desenvolvido e sermos distintos dos demais animais, Deus nos fez importantes em meio à criação e nos deu autoridade sobre ela. Isso é comprovado ao vermos sua determinação em que o homem dominasse sobre a terra, o mar e o firmamento.
Passo a ler o capítulo 2, versículos de 15 a 17 e, ainda no ponto de descobrir que Deus me fez de maneira tão especial, encontro que o próprio Deus depositou confiança em mim, já que ele deixou ao homem o trabalho mais importante que havia então, que era o de cuidar e cultivar o Éden. Além disso, confiou em que o homem não comeria da árvore que lhe estava proibida.
Então, quando leio a seqüência, dos versículos 18 a 25 do mesmo capítulo, pensando no fato de que ele me fez à sua imagem e semelhança, preciso entender que Deus não me criou para que eu fosse solitário. Por isso ele nos fez homens e mulheres, gerou em nós o desejo de constituir família e nos deixou um senso de ajuda mútua e amor, a fim de os cultivarmos e vivermos com base neles.
Todos esses atributos foram arranhados pela queda, mas Deus não retirou de nós nenhum deles. Na verdade, ele espera que os tenhamos restaurados diante dele para que possamos ser filhos melhores. A história da regeneração providenciada pelo Pai no Filho nos remete de volta à vida anterior ao pecado, razão pela qual um dia poderemos ver Deus face a face. A salvação nos faz reverter o caminho e nos leva de volta a uma posição de intimidade com Deus, como a que Adão tinha antes do pecado.
Deus, como vimos, tornou operosa a nossa criação a partir de suas motivações feitas práticas em seu ato soberano. Mas será que havia algo por detrás de tudo, servindo como elo motivacional para Deus me criar da maneira que o fez? A segunda coisa que afirmo é que eu vim das mãos de um Deus que me amou.
Ao ler o versículo 8 do capítulo 3 descubro que Deus me amou quando eu estava bem. Ou seja, o homem ainda não havia pecado e tinha uma convivência harmoniosa ao lado do Pai. O homem, nosso ancestral, Adão, via e ouvia Deus, que passeava no jardim a certa hora do dia. Tal era a relação de amor entre eles, quando Deus demonstrava todo seu amor quando o homem estava bem. Mas Deus, que é amor, não deixou de nos amar quando não mais estávamos bem. O homem pecou e muita coisa mudou. Aliás, na relação entre homem e Deus mudou quase tudo. Mas uma coisa é certa, o que podemos aprender na leitura dos versículos de 9 a 15. Ali aprendo algo maravilhoso: Deus também me amou quando eu estava mal! Como? A primeira coisa que ele fez ao ver que o homem havia desobedecido a seus desígnios e caído em pecado foi lhe estender a mão e perguntar ao casal o que estava acontecendo, o que claramente demonstra sua intenção de perdão e aconchego. O homem, sabemos, não respondeu com sua confissão, mas preferiu acusar quem estivesse por perto (a mulher, a serpente, etc). Independentemente de tudo isso, e demonstrando ali todo seu amor mesmo em face de meus erros, Deus prometeu o resgate eterno do homem, mesmo após este haver falhado grandemente. Assim, após estas breves leituras, entendo poder dizer que a melhor resposta para a questão apresentada “de onde eu vim?” consiste em descansar na resposta que a própria Bíblia nos dá: eu vim de Deus. Diretamente de Deus. Por isso guardo alguns atributos originais em minha humanidade. Por isso há meios de resgatar atributos originais de minha espiritualidade. Não vim de lugar algum! Eu vim de alguém, como um filho pode responder que veio de seus pais com maior propriedade do que dizer que veio de algum lugar.Saber que eu vim de Deus deve mexer comigo. Deve ser capaz de me fazer diferente do que sou. Cabe a mim e a você aceitarmos o fato de termos vindo de Deus, independente do grau de relacionamento que tenhamos com ele; precisamos nos alegrar por esse fato todo o seu coração; precisamos começar a nos voltarmos para a retribuição pessoal desse imenso amor de um Deus que amou a mim e a você quando eu e você estávamos (ou estamos?) mal.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

HERNANI E EU - PARTE III: A GUERRA

Texto de Marcelo Gomes,
Seminarista no Rio de Janeiro
Fotos: http://www.flickr.com

O apóstolo Paulo usa freqüentemente metáforas de guerra para demonstrar a "realidade militar" do cristão neste mundo.

Como disse no post anterior, uma decisão precisava ser tomada ao chegar em nosso local de desembarque. Já havia explicado ao Hernani, e ele aparentemente entendido, quem nós éramos. Mas faltava algo.

O conhecido texto de de Efésios 6 que apresenta da armadura de Deus, revela a nós apenas uma arma de ataque: A espada do Espírito, que é a palavra de Deus (Ef 6.17b).

Independentemente de eu lembrar disso naquele momento, partimos para a guerra, afirmando que nosso diferencial era a revelação de Deus em Sua palavra, a Bíblia. Expliquei que a Bíblia não é um livro qualquer, mas sim a única regra de fé e prática. Minha intenção era começar a apresentar a cosmovisão cristã a partir desse ponto de ataque.

Neste momento o carro já estava parado. O dinheiro para o pagamento - bem como a devida gorjeta - já estava em mãos. Hernani parara em fila dupla. A chuva cobria em parte nossa visão.

Expliquei a Hernani que a nossa fé não era regida por um homem, ou pela tradição de uma instituição eclesiástica, mas sim pela orientação clara e racional de Deus em Sua palavra.

Enquanto isso, era possível perceber luzes que iluminavam o vidro traseiro do carro, a esta altura já todo embaçado. Eram certamente os ônibus que piscavam os fárois devido a posição irregular que estávamos.

Adivinhe você qual foi a indagação dele:

-Mas a Bíblia não foi escrita por homens? Talvez Hernani imaginasse que ouviria um homem quase irritado dizendo: Não, foi escrita por Deus! E certamente ele ganharia a batalha, pois seria algo irracional. Mas o que Hernani ouviu foi um sincero:

- Claro, você tem razão! E Ele ficou meio perplexo com isso (dizem que uma batalha está ganha quando você consegue deixar seu inimigo confuso).

Expliquei a ele que Deus interage com as suas criaturas. Assim, nada mais natural do que se utilizar de homens para revelar Sua vontade.

A chuva aumenta. Agora além dos faróis, ouvimos também buzinas.Além disso, irritados flanelinhas (para não cariocas: nome dado a indivíduos que cobram por vagas de estacionamento público, em sua maioria, irregularmente. Também chamados de guardadores) queriam nos tirar dali a qualquer custo. Mas nada no mundo poderia impedir aquele momento, pois ele havia sido planejado por Aquele que governa todas as coisas. Hernani estava atendo, refletia. Eu, temeroso, não sabia exatamente o que dizer a cada momento. Na verdade é muito mais fácil contar a história do que vivenciá-la.

Percebi contudo que não poderia ficar apenas me defendendo de suas perguntas. Tomei coragem e emendei a resposta com a pergunta:

- No que você crê?

Ele disse o que a maioria das pessoas diriam:

- Eu acredito em Deus. Mas não ligo pra igreja e estas coisas. Ele fala comigo diretamente.

E agora, o que dizer ali, ao vivo, para uma afirmação tão tola (vide I Co 1.18), pensei.

Ele resolveu dar um exemplo. Gostei, pois assim eu tinha tempo para pensar sobre o que falaria (nestas horas um seminarista de 3º ano questiona pra que servem suas 7 ou 8 horas de estudo por dia). Hernani disse que foi Deus quem "mandou" ele comprar aquele carro em que estávamos. Ele sentiu isso e assim fez, estava feliz.

Para minha surpresa, foi exatamente a sua ilustração que me deu "o gancho" para a apologética (defesa da fé) naquele momento. Foi neste momento que fiquei sabendo seu nome, coloquei minha mão sobre ele e perguntei:

- Hernani, de onde vem a sua certeza do que é certo e do que é errado?

- Você acha que todos os seus pensamentos são bons?

- Se você vive por sensações, o quê, em última análise, lhe diz que você não deve se entregar a uma mulher bonita e ser fiel à sua esposa?

Diante de seu espanto e aparente falta de respostas, eu o ajudei, dizendo:

- Hernani (mais uma vez o toquei), quando você compra um equipamento novo, você sabe utilizá-lo completamente?

- Não, claro que não.

- Pois é, podemos até descobrir algumas funcionalidades sem consultar o manual, mas chega uma hora que não podemos progredir. É isso que está acontecendo com a sua vida. Você está vivendo sem consultar o manual. Está vivendo apenas por intuição.

- Você concorda que foi Deus quem nos criou? - continuei.

- Claro que sim.

- Então não é lógico que este mesmo Deus que nos criou, também nos desse um manual para entendermos a nós mesmos?

Ali pude perceber claramente a mão de Deus me guiando naquela batalha. A conclusão daquela noite virá em nosso próximo post "Hernani e eu Parte IV - A Conclusão".

O que quero que entendam é que ali, nossa luta não era contra o ser humano Hernani, mas sim contra sua cosmovisão não-cristã, ainda que se assemelhasse a algo parecido com o que muitos cristãos pregam.

Por ora meditem nas palavras de Paulo quanto a verdadeira guerra de nossas vidas (Ef 6.10-18):

Finalmente, fortaleçam-se no Senhor e no seu forte poder. Vistam toda a armadura de Deus, para poderem ficar firmes contra as ciladas do Diabo, pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais. Por isso, vistam toda a armadura de Deus, para que possam resistir no dia mau e permanecer inabaláveis, depois de terem feito tudo. Assim, mantenham-se firmes, cingindo-se com o cinto da verdade,a vestindo a couraça da justiça e tendo os pés calçados com a prontidão do evangelho da paz. Além disso, usem o escudo da fé, com o qual vocês poderão apagar todas as setas inflamadas do Maligno. Usem o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus. Orem no Espírito em todas as ocasiões, com toda oração e súplica; tendo isso em mente, estejam atentos e perseverem na oração por todos os santos.

Como verdadeiros cristãos, precisamos entender definitivamente que estamos envolvidos nesta guerra, e que ela está ocorrendo neste momento.

Mesmo em momentos aparentemente serenos, como quando estamos em um táxi conversando com um taxista.

Deus os abençoe!!
En Xpisto;
Sem. Marcelo Gomes