segunda-feira, 16 de julho de 2007

O QUE FALAM QUE SOMOS QUANDO PASSAMOS?

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Fotos: http://www.flickr.com



Havia um homem que andava por muitos lugares. Lugares difíceis, de um povo de vida difícil, em tempos muito difíceis. Para se ter uma idéia, a dificuldade era tamanha que, com toda certeza, reis daqueles dias tinham vida muito menos regalada que a maioria dos adolescentes de uma cidade razoável do mundo moderno.
Esse homem tinha, no entanto, um conhecimento que é exatamente igual ao que temos ou podemos ter ainda hoje: ele conhecia Deus de maneira na medida em que é possível conhecê-lo. Era um profeta. Era um homem que de sua simplicidade extraia a profundidade de suas ações. E suas ações, no final de tudo, eram as ações de Deus através dele.


Quando nos deparamos com a vida e todas as circunstâncias que ela eventualmente nos prepara, uma pergunta deve estar diante de nós: o que as demais pessoas vêem em mim quando passo? Vejamos que o profeta, e falamos de Eliseu, jamais disse nada que poderia fazer com que o pensamento das pessoas fosse mudado em relação a ele, mas ele simplesmente vivia como alguém que tinha vida com Deus de fato.
Em Suném, no Oriente Médio de uns 2.700 anos atrás, uma mulher rica, em cuja casa Eliseu costumava comer e descansar sempre que por lá passava, comentou com seu marido “Sei que esse homem que sempre vem aqui é um santo homem de Deus.” Isso está em 2 Reis 4.9.
Nossas preocupações modernas podem ser muito diferentes daquelas que se abatiam sobre os homens e mulheres daquele tempo. A comida era outra, as roupas, diferentes e a própria razão humana parecia sofrer males diferentes dos modernos. Uma coisa, no entanto, parece nos aproximar das pessoas de outrora, que é a questão da observação sobre os fatos evidenciados por Deus em direção àqueles que ele determina que ajam em seu favor ou em favor de sua causa.
Trago a mesma pergunta do título para nós, e pergunto, neste Rio de Janeiro, América Latina pós-moderna, século XXI, entre gente rica e gente pobre: O que falam que somos quando passamos? Jesus também quis saber o que se falava dele, quando perguntou “'E vocês?', perguntou ele. 'Quem vocês dizem que eu sou?'” (Marcos 8.29). Nós precisamos saber como estamos e o que se vê em nós quando passamos: homens santos de Deus? Espero que sim, para todos nós e em todo o tempo de nossa existência terrena. Quanto à resposta à pergunta posta, deixo-a para que cada um a dê a respeito de si mesmo, esperando que todos tenhamos preocupação de fazê-lo à luz da Palavra de Deus.

Para cada um de nós, homens atuais, surge uma oportunidade ímpar de termos o relacionamento com Deus restaurado a partir daquilo que ele mesmo nos disponibiliza. Não é fácil irmos a Deus; diria que é impossível. No entanto, Deus tem todos os meios para nos fazer ir até ele no momento mais decisivo de nossa vida, não por facilidade, mas por viabilidade graciosa. Nosso pensamento, centrado na Palavra de Deus, é que ele, nesta ocasião, pode perfeitamente estar em fase de execução de dois planos simultâneos: resgatando os seus filhos que estavam cansados e desanimados e trazendo vida aos seus que ainda não o conheciam. Em qualquer das condições, nossa oração é que esta seja uma noite de (re)encontros entre muitos filhos e o Pai Amado.
Que possamos, a partir de hoje ouvir quando passamos: lá vai um santo homem de Deus!

quinta-feira, 12 de julho de 2007

CONVITE: A GRANDE FESTA

Texto de J. C. Ryle



“De novo entrou Jesus a falar por parábolas, dizendo-lhes: O reino dos céus é semelhante a um rei que celebrou as bodas de seu filho. Então enviou os seus servos a chamar os convidados para as bodas: mas estes não quiseram vir.

Enviou ainda outros servos com este recado: Dizei aos convidado: Eis que já preparei o meu banquete: os meus bois e cevados já foram abatidos, e tudo está pronto; vinde para as bodas. Eles, porém não se importaram, e se foram, um para o seu campo, outro para o seu negócio; e outros, agarrando os servos, os maltrataram e mataram.O rei ficou irado e, enviando as suas tropas, exterminou aqueles assassinos e lhes incendiou a cidade. Então disse aos seus servos: Está pronta a festa, mas os convidados não eram dignos. Ide, pois, para as encruzilhadas dos caminhos e convidai para as bodas a quantos encontrardes. E, saindo aqueles servos pelas estradas, reuniram todos os que encontraram, maus e bons; e a sala do banquete ficou repleta de convidados. Entrando, porém, o rei para ver os que estavam à mesa, notou ali um homem que não trazia veste nupcial, e perguntou-lhe: amigo, como entraste aqui sem veste nupcial? E ele emudeceu. Então ordenou o rei aos serventes: Amarrai-o de pés e mãos, e lançai-o para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes. Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (Mt 22: 1 a 14).

A parábola retratada nestes versículos tem uma significação muito ampla. Primeiramente ela aponta para os judeus, mas ela se estende a todos aqueles para quem o evangelho é pregado, perscrutando corações.

Observemos, em primeiro lugar, que a salvação anunciada no evangelho é comparada a uma festa de casamento. O Senhor Jesus nos fala de “um rei que celebrou as bodas de seu filho”.

Existe no evangelho uma farta provisão para todas as necessidades da alma humana. Há um suprimento de tudo quanto se requer para aliviar a fome e sede espiritual. Perdão, paz com Deus, uma viva esperança neste mundo, glória no mundo vindouro, são bênçãos retratadas diante dos nossos olhos em rica abundância. Toda esta provisão é devida ao amor manifestado pelo Filho de Deus, Jesus Cristo, nosso Senhor. Ele deseja nos unir a si mesmo, restaurar-nos à família de Deus como filhos queridos, vestir-nos com a sua própria justiça, dar-nos uma posição em seu reinado e nos apresentar inculpáveis perante o trono de seu Pai, no último dia. O evangelho, em suma, é uma oferta de pão para o faminto, de alegria para o triste, de um lar para o desprezado, de um amigo para o perdido. O evangelho é boas novas. Deus oferece identificar-se com o homem pecador, mediante seu Filho querido. Jamais nos esqueçamos: “Nisto consiste o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou, e enviou o Seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 4:10).

Em segundo lugar, tomemos nota do fato que os convites do evangelho são amplos, plenos, generosos e ilimitados. Nesta parábola, o Senhor Jesus nos conta que os servos disseram aos convidados: "Tudo está pronto; vinde para as bodas". Da parte de Deus não há nada faltando para a salvação da alma dos pecadores. Ninguém jamais poderá dizer, no fim, que foi por culpa de Deus que não se salvou. O Pai está pronto para amar e acolher. O Filho está pronto para perdoar e limpar de toda culpa. A graça está pronta para assisti-lo. A bíblia está pronta para instrui-lo. O céu está pronto para ser o seu lar eterno. Só uma coisa é necessária: que o próprio pecador esteja desejoso de ser salvo. Que não fiquemos debatendo e perdendo-nos em minúcias acerca deste assunto tão simples. Deus sempre será achado inocente do sangue de todas as almas perdidas. O evangelho sempre fala dos pecadores como seres responsáveis e que terão de prestar contas a Deus. O evangelho coloca uma porta aberta diante de toda humanidade. Ninguém está excluído desse convite universal. Embora eficaz somente para os que crêem, ele é suficiente para a humanidade inteira. Embora poucos são os que entram pela porta estreita, todos são igualmente convidados a entrar por ela.

Em terceiro lugar, notemos que a salvação oferecida pelo evangelho é rejeitada por muitos daqueles a quem ela é oferecida. O Senhor Jesus nos conta que os convidados, chamados pelos servos do rei, “não se importaram e se foram”.

Há milhares de ouvintes (leitores) do evangelho que em nada se beneficiam dele. Eles ouvem (lêem), ano após ano, mas não crêem para a salvação de sua alma. Eles não sentem qualquer necessidade especial do evangelho. Não vêem qualquer beleza especial nele. Talvez não cheguem a odiar, nem façam oposição ao evangelho. Porém, não o recebem no coração. Há outras coisas de que eles gostam muito mais. Seu dinheiro, suas terras, seus negócios e seus prazeres são todos assuntos muito mais interessantes para ele do que a salvação da alma. Esse é um estado mental deplorável, porém horrivelmente comum. Que nós examinemos o nosso próprio coração, e tomemos o cuidado de que esse não seja também o nosso. O pecado notório pode matar os seus milhares, mas a indiferença e a negligência ao evangelho matam os seus dez milhares. Multidões se verão no inferno, não tanto porque desobedeceram abertamente aos dez mandamentos, mas porque fizeram pouco caso da verdade. Cristo morreu por eles na cruz, mas eles O negligenciaram.

Em último lugar, observemos que todos quantos professaram falsamente a religião cristã serão detectados, desmascarados e condenados eternamente, no último dia. O Senhor Jesus nos conta que, quando finalmente chegaram os convidados para as bodas, o rei entrou para ver os que estavam às mesas, e “notou ali um homem que não trazia veste nupcial”. O rei perguntou ao homem como este havia entrado, vestido impropriamente, mas não obteve qualquer resposta. Ordenou então o rei a seus servos: "Amarrai-o de pés e mão, e lançai-o para fora, nas trevas".

Sempre haverá alguns falsos membros na igreja de Cristo, enquanto o mundo existir. Nesta parábola, aquele único expulso representa todos os demais que serão expulsos. É impossível lermos os corações dos homens. Enganadores e hipócritas nunca serão totalmente excluídos do meio de verdadeiros cristãos. Desde que uma pessoa professe obediência ao evangelho e viva uma vida externamente correta, não ousamos afirmar categoricamente que tal pessoa não esteja justificada por Cristo. Entretanto, não haverá qualquer dúvida, no dia do juízo. O olho infalível de Deus irá discernir quem é do seu povo e quem não é. Coisa alguma, senão a fé verdadeira, será capaz de subsistir ao fogo do julgamento. Todo e qualquer cristianismo espúrio será pesado na balança e achado em falta. Ninguém, senão os verdadeiros fiéis, participará da ceia das bodas do Cordeiro. Ao hipócrita de nada valerá ter falado muito sobre religião e ter tido reputação de ser um cristão eminente entre os homens. O seu triunfo não perdurará. Ele será despido de toda a sua plumagem emprestada, e ficará nu e trêmulo perante o tribunal de Deus - mudo, condenado por si mesmo, sem esperança e sem salvação. Ele será lançado nas trevas exteriores, em opróbrio, colhendo assim aquilo que semeou em vida. O Senhor Jesus disse que "ali haverá choro e ranger de dentes".

Que nós aprendamos sabedoria através dos quadros desta parábola, e sejamos diligentes em procurar confirmar a nossa vocação e eleição (1 Pe 1:10). A nós, também, é dito; “Tudo está pronto; vinde para as bodas”. Tenhamos cuidado de não recusar ao que fala (Hb 12:25). Não durmamos como os demais; pelo contrário, vigiemos e sejamos sóbrios (1 Ts 5:6). O tempo urge. O Rei em breve entrará para ver os convidados. Já recebemos ou não a veste nupcial? Já nos revestimos de Cristo? Essa é a grande indagação levantada por esta parábola. Que jamais descansemos enquanto não pudermos dar uma resposta satisfatória a essa pergunta. Que estas palavras soem diariamente em nossos ouvidos, e nos sondem o coração: “Muitos são chamados, mas poucos escolhidos”.


Fonte: Meditações no Evangelho de Mateus — Editora FIEL. Disponível no site "Monergismo" (veja à direita em Links Interessantes)

quarta-feira, 11 de julho de 2007

QUANDO A CORDA APERTA

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Fotos: http://www.flickr.com (corda) e Joel Theodoro (amanhecer)



Há uma ilustração bastante interessante que podemos achar em muitos sites cristãos e cuja autoria, diz-se sempre, é desconhecida. É assim:
“Após um naufrágio, o único sobrevivente agradeceu a Deus por estar vivo e ter conseguido se agarrar a parte dos destroços para ficar boiando. Este único sobrevivente foi parar em uma pequena ilha desabitada e fora de qualquer rota de navegação, e ele agradeceu novamente. Com muita dificuldade e restos dos destroços, ele conseguiu montar um pequeno abrigo para que pudesse se proteger do sol, da chuva e de animais e para guardar seus poucos pertences, e como sempre agradeceu a Deus. Nos dias seguintes, a cada alimento que conseguia caçar ou colher, ele agradecia...
No entanto, um dia, quando voltava da busca por alimentos, ele encontrou o seu abrigo em chamas, envolto em altas nuvens de fumaça. Terrivelmente desesperado ele se revoltou... gritava chorando:
“O pior aconteceu ! Perdi tudo! Deus, por que fizeste isso comigo?”
Chorou tanto, que adormeceu, profundamente cansado...
No dia seguinte bem cedinho, foi despertado pelo som de um navio que se aproximava.
- “Viemos resgatá-lo” -- disseram.
- “Como souberam que eu estava aqui?” - perguntou ele.
- “Nós vimos o seu sinal de fumaça!”
É comum nos sentirmos desencorajados e até desesperados quando as coisas vão mal. Mas Deus age em nosso benefício, mesmo nos momentos de dor e sofrimento. Lembrem-se: se algum dia o seu único abrigo estiver em chamas, esse pode ser o sinal de fumaça que fará chegar até você a Graça Divina.”

O que me chamou a atenção é que é recorrente em nossos corações o nos perguntarmos sistematicamente os porquês de nossas angústias, nossos dissabores e nossos problemas, muitas vezes tentando, inclusive e sinceramente, achar em nós mesmos as razões pelas quais sofremos. É bem verdade que muitas vezes erramos e que nossos erros freqüentemente nos levam a problemas sérios em nossas vida. No entanto, nem sempre temos problemas porque erramos, mas os temos simplesmente por estarmos vivos e sermos passíveis de enfrentar aquilo que vem sobre nós, sejamos bons ou maus, ricos ou pobres, bonitos ou feios, cristãos sinceros ou não.
Os momentos difíceis são quase insuportáveis para todos nós. Nossa vida se contrai e nossos sentimentos nos amargam os dias. Mas é também verdade conhecida de todos que todos nós já os vivemos e ainda os viveremos enquanto estivermos vivos. Não é uma fatalidade: é uma realidade objetiva.
Esses são os momentos em que parece que uma corda ao nosso redor está apertada e bem segura. Sentimo-nos presos pelas circunstâncias que nos envolvem de tal forma que não divisamos saída. Será que há algo a refletir sobre nossos momentos de crise, quando a corda está assim tão apertada? Nossa única saída é olhar para cima, para Deus, cuja Palavra não só nos adverte e ensina, mas nos orienta de maneira muito especial a respeito de nossa existência e dos momentos que viriam sobre nós.

Geralmente tendemos a pensar que há motivos ponderáveis que possam ser levantados e que possam nos explicar os momentos e as agruras que enfrentamos. E via de regra achamos que sempre foram coisas que fizemos as que nos levam ao sofrimento. Pensamos sempre num processo de troca de méritos: “errei, sou punido; acertei, sou abençoado”.
Como cristãos, o que primeiro passa pela cabeça é uma busca por pecados cometidos que possam explicar momentos mais difíceis pelos quais passamos. Começamos a procurar em nós até o que não fizemos. Vejamos que a Bíblia nos orienta a constantemente sondarmos nossos corações em busca de acertos, mas nem sempre as coisas más nos sobrevêm por causa disso. Não nos esqueçamos que a mesma Bíblia diz que tanto sol quanto chuva caem sobre justos e injustos, o que podemos ler em Mateus 5.45.
Às vezes não chegamos a pensar em pecado, mas em erros mais acentuados que possam ter nos gerado alguma forma de punição. Isso pode realmente acontecer, mas nem sempre será dessa forma. Aliás, é bom lembrarmos do caso de Jó, que era homem irrepreensível, íntegro, temente ao Senhor e que evitava o mal, e que, mesmo assim, foi duramente provado em sua existência. O relato está em Jó 1.8 e as palavras acima saíram da boca de ninguém menos que o próprio Deus.
Por último, das coisas mais comuns que passam por nossa cabeça, há algo parecido com “não fiz a vontade de Deus, por isso estou sendo punido”. Para isso devemos nos perguntar sempre também: José foi parar na prisão, Davi precisou fugir de Saul, Daniel acabou na cova dos leões e Paulo foi martirizado tantas vezes por não estarem fazendo a vontade de Deus? É verdade que muitas vezes erramos feio por não atendermos ao chamado de Deus, mas isso não pode servir simploriamente de explicação para fatos dessa magnitude.
Não podemos explicar os apertos da vida apenas pelo que vemos, mas precisamos compreender duas importantes coisas para nós, filhos de Deus: as dificuldades são didáticas e elas serão utilizadas para o nosso bem.

Foi exatamente assim que li o texto que está em Romanos 8, dos versículos 28 a 39. Com base nele, e para esta reflexão, podemos entender as seguintes verdades de Deus para nós:
Para o nosso bem. Deus age em tudo para o nosso bem (versículo 28). Isso quer dizer que em todos os momentos e em todas as circunstâncias, sejam boas ou más, o Senhor estará a nosso favor. Ele não nos trata como indigentes desprezados, mas como filhos amados. Não quaisquer filhos, não quaisquer adotados, mas aqueles que ele mesmo quis para si. Para nós, que o amamos e que fomos chamados em conformidade com o propósito dele mesmo, estão reservados cuidados mais que especiais do Senhor e, segundo a sua palavra, tudo será voltado para o nosso bem.
Não seremos vencidos. Em seguida, entendemos que as dificuldades podem ser imensas e muito aterradoras, mas lemos que ninguém poderá será vencedor sobre nós (versículo 31). A resposta vem na seqüência, quando nos é dito que o próprio Deus é quem nos defende.
Defendidos por Deus. O mesmo Deus que se mostra nosso defensor nos explica que nem acusação e nem condenação contra nós serão aceitos (versículos 33 e 34). Quais as razões para isso? Ora, a defesa contra os ataques e as tentativas de derrota vem do próprio Senhor, da seguinte maneira: o Pai, o próprio Deus eterno, nos justifica e o Filho, o Senhor Jesus Cristo em pessoa se põe como nosso advogado e intercessor.
Ligados ao amor de Cristo. Outra realidade é que nada, quer seja no mundo material (versículo 35), quer seja no mundo espiritual (versículos 38 e 39), poderá nos afastar do amor de Cristo. Ora, essa é uma promessa incrivelmente confortadora para nossas vidas. Nossos temores se esvaem quando sabemos que mesmo as dificuldades e circunstâncias adversas são cobertas pelo amor de Cristo.
Totalmente vencedores. Ora, a finalização de tudo é a realidade que nos é proposta por Deus: sermos mais que vencedores (versículo 37), não por nós mesmos nem por nossos méritos, mas em Cristo Jesus, nosso Senhor. Ora, como poderemos continuar nos sentindo derrotados pelo que nos cerca se temos tamanha promessa de vitória?
O que vemos é que a palavra de Deus nos traz esperança para passarmos bem pelo meio da tempestade e chegarmos sãos e salvos do outro lado. Melhores e mais experientes, poderemos viver mais para a glória de Deus.


Aprendemos as seguintes coisas para quando a corda apertar: precisamos realmente sondar nossa vida, mas não podemos sempre achar que o que passamos é motivado por nossas falhas pessoais, caso contrário, todos estaríamos mortos! Precisamos tomar uma decisão: servir a Deus, haja o que houver. Engajar-se na obra de Deus é um privilégio e um verdadeiro refrigério para os momentos difíceis, mas não por temor de castigos; antes, devemos fazê-lo por amor a ele e sua obra. Finalmente, é preciso confiar no amor de Deus e saber que as tempestades passam e que, depois delas, a calmaria chega, como nos diz o Salmo 30, versículo 5: “o choro pode persistir uma noite, mas de manhã irrompe a alegria”

quarta-feira, 4 de julho de 2007

CRISTÃOS OU NÃO?

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro


I- “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós.”(Mateus 5.10-12).Aqui temos pessoas: 1. Perseguidas por causa da justiça e não por causa de suas injustiças com base em governo eclesiástico. E àqueles apenas é prometido o reino dos céus. 2. Injuriadas e perseguidas por causa do Senhor, mesmo com o uso de mentiras, e não das que são denunciadas por desvio de conduta diante da lei. 3. Cuja razão de perseguição se compara aos profetas do passado, em cuja biografia bíblica não vemos nada semelhante a alguns casos modernos: não encontramos um só profeta do passado acusado de apropriação indevida de recursos de terceiros nem de lavagem de dinheiro. Eram infamados e perseguidos para se calarem e não sentenciarem o povo sob a justiça divina.
II- “Vede com que letras grandes vos escrevi de meu próprio punho. Todos os que querem ostentar-se na carne, esses vos constrangem a vos circuncidardes, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo.” (Gálatas 6.11-12).Por outro lado, aqui temos a advertência de que alguns fogem a uma perseguição genuína, sofrida por causa da fé cristã verdadeira (“por causa da cruz”). O que estes fazem? Pelo desejo de “ostentar-se na carne”, ou seja, pela avidez de, segundo o Aurélio “mostrar ou exibir com aparato” e mesmo “exibir-se ou mostrar-se” em tudo que é material, em que incluímos dinheiro, mansões, impérios e tudo o mais, eles chegam a criar métodos de religiosidade, constrangendo pessoas de bem que querem servir a Deus, a uma nova “circuncisão”, a elementos de legalismo e deformidade doutrinária, pois assim a manipulação pode se consolidar até atingir seus alvos carnais.
III- “Chegando, disseram-lhe: Mestre, sabemos que és verdadeiro e não te importas com quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos homens; antes, segundo a verdade, ensinas o caminho de Deus; é lícito pagar tributo a César ou não? Devemos ou não devemos pagar? Mas Jesus, percebendo-lhes a hipocrisia, respondeu: Por que me experimentais? Trazei-me um denário para que eu o veja. E eles lho trouxeram. Perguntou-lhes: De quem é esta efígie e inscrição? Responderam: De César. Disse-lhes, então, Jesus: Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. E muito se admiraram dele.” (Marcos 12.14-17). Aqui temos a clássica orientação do próprio Jesus acerca de nossas responsabilidades civis e tributárias, mesmo quando não gostamos delas. Se não houver confrontação direta entre lei humana e lei divina a primeira deve ser obedecida. Se não as apreciamos ou se as vemos como injustas, devemos trilhar o caminho da legalidade, da política organizada e dos processos judiciais, quando aplicáveis, mas jamais agir ilegalmente para findar com a injustiça. E muitos continuam se admirando hoje em dia quando a ilegalidade é condenada e quando os que a praticam, fora ou dentro de igrejas, são confrontados com ela. IV- “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação. Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência. Por esse motivo, também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo, constantemente, a este serviço. Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra. A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei.” (Romanos 13.1-8). Um texto que fala por si, de Paulo, o apóstolo, indicado e confirmado pelo próprio Senhor para tal ofício ministerial. Vale lembrar que o Estado Romano dos dias de Paulo não é exatamente o que chamamos de tolerante nem amigável para com o Evangelho, muito menos para com os cristãos. Mesmo assim, no texto, o que é o Estado, a quem muitos chamam de “braço da carne”? A Bíblia o chama “autoridades superiores” e diz que toda autoridade vem de Deus e foi por ele mesmo estabelecida no lugar em que está, ou seja, em que é instituída. Pior ainda, Paulo diz que aquele que se põe contra a autoridade resiste à ordem do próprio Deus (já que foi ele mesmo que a estabeleceu!) e, por isso mesmo, está para ver a condenação sobre si mesmo. E mais, os juízes (no texto “magistrados”) só devem ser temidos pelos que praticam o mal. A autoridade, além de tudo isso, ainda é qualificada de “ministro de Deus” para o bem de quem praticar o bem, mas, para quem fizer o mal, ela representa “espada”, ou seja, a execução da legalidade, literalmente “pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal”. Exatamente por ser a autoridade um ministro de Deus é que devemos estar a ela sujeitos (“por temos da punição” e por “dever de consciência”). E a única coisa que a Bíblia nos autoriza a dever, por saber de nossa pequenez nessa área, é o amor, com relação ao qual nenhum gesto é suficientemente pagador.
V- “Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” (Mateus 16.16-18). Devemos nos perguntar: qual a Igreja que não será jamais derrotada diante de satanás ou do levante do inferno? A resposta está em Efésios 5.25-27: “Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito.” Isso Deus só compara à relação devida entre marido e mulher, relação profunda e completa. Essa é a Igreja do Senhor, a Igreja que não se corrompe, que não se suja, que não se amarrota na caminhada. Não trata aqui de uma comunidade isolada, mas da Igreja ampla, única, vencedora, a noiva do Cordeiro.
VI- Finalmente, o texto de Atos 5, que trata do episódio de Ananias e Safira, ensina a todos nós que a fidelidade, não a aparência é o que Deus busca. Deus não queria o dinheiro de ambos, mas queria corações verdadeiros. A mão de Deus, no seguir do texto, pesou para morte dos que se mancomunaram e de quem assentiu com a mentira. Agente e cúmplice sucumbiram. O confrontar-se com a verdade e, mesmo assim, manter-se em desvio é coisa grave aos olhos de Deus. A Igreja do Senhor em nosso país deve acordar para a realidade que cerca as suas fronteiras, realidade espiritual, mesmo enquanto vivemos enxergando apenas o que é material. Devemos nos lembrar que seria próprio dos últimos dias ver a apostasia de alguns, motivados “pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência” (1 Timóteo 4.1-2).

terça-feira, 3 de julho de 2007

COMEMORANDO A VIDA

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Fotos: www.flickr.com


O nascimento é a oposição lógica que fazemos ao não-nascimento, assim como a vida é a oposição lógica que fazemos à morte. A seqüência de vida é a expectativa lógica que fazemos da continuidade do estado de não-mortos. Por isso, estar vivos representa sermos não-mortos.
As celebrações de aniversário são as oportunidades em que nos alegramos pelo fato de continuarmos vivos em meio às mais atrozes dificuldades reservadas pelas circunstâncias que nos cercam. Cada ano a mais representa um ano a mais de experiência e sobrevivência e, paralelamente, um ano a menos na breve existência humana, se tomarmos a História como parâmetro de tempo linear. Contamos progressivamente por um lado e regressivamente por outro. Antagonismos e indefinições nos fazem espelho desse tipo de ações a que nos vemos submetidos. Assim é o ser humano.
Nessa mesma trilha, lembramos de um homem que sabia que um dia havia nascido e o sabia pelo simples fato de estar vivo. Filho de uma mulher e de um pai cujos nomes não sabemos, provavelmente irmão de alguém, possivelmente marido de uma mulher e pai de alguns filhos, como costuma ser o desejo de quase todos. Homem que tinha certeza absoluta da sua vida: respirava, andava, falava e, pelo que vemos dele, pensava e refletia sobre sua situação humana, sobre sua vida.
Alguma coisa, no entanto parecia não estar bem em sua existência: como poderia ele conviver com o fato de estar vivo se o âmago de sua existência parecia faltar? A vida parecia não estar nele, mesmo estando certo de viver. Havia algo que circulava em sua mente que punha em cheque sua estrutura intelectual e a capacidade de reflexão que tinha adquirido ao longo de anos nos berços helênico e romano que comandavam a civilização em que se via submergido. Esse homem não era alguém simples, mas um mestre entre seus contemporâneos.
Conosco pode acontecer a mesma coisa por uma simples razão: a nossa habilidade em discernir vida e morte, nascimento e não-nascimento é uma capacidade limitada aos padrões humanos, ou seja às coisas que vemos apenas em nível natural. A verdade dos fatos, no entanto, vai bem além do que vemos e sentimos nesse plano. Assim como aquele homem percebeu que faltava alguma coisa que ele não sabia explicar, cada um de nós tem perguntas sem resposta nessa área, às quais cada um gostaria de ter respostas claras.

O homem de nossa história se chamava Nicodemos e sua história está em Mateus, no capítulo 3. Nos primeiros sete versos do capítulo, lemos o seguinte diálogo entre ele e Jesus, a quem ele havia procurado à noite, talvez por vergonha de seus amigos, para obter respostas mais profundas que as que já tinha naturalmente:
“Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus. Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe disse: Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo.”
Quando olhamos ao redor vemos uma clara categoria de vivos e mortos, nascidos ou não-nascidos. Os olhos e a lógica puramente humanos só alcançam o olhar humano, o que é natural. Mas o olhar sob a perspectiva de Deus nos permite saber coisas novas, diferentes e que fazem bem à alma, além de responder às mais freqüentes e profundas questões do ser humano.
É com Deus, a partir de seu olhar, que descobrimos que não somos vivos como pensamos. Descobrimos que somos não-nascidos! Apenas na estrutura humana é que somos nascidos, vivos. Olhando como Deus olha, todos já nascemos mortos em nosso berço de pecado humano. Não somos pecadores por ação pessoal, mas por ação de espécie, uma espécie que resolveu se voltar contra seu criador e eleger para si mesma um caminho que, ao invés de alegria, leva à tristeza, à amargura e ao distanciamento com o autor da vida.
Nicodemos foi sincero. Ele queria conhecer Jesus, o Filho de Deus. Ele estava encantado com o que Jesus fazia e queria mais dele. E Jesus lhe deu o único meio para isso: “você tem que nascer de novo”, disse ao intelectual palestino de cerca de 2000 anos atrás. É de dar nó. “Como nascer de novo, sendo já um adulto?” Foi a pergunta sincera e natural de Nicodemos.
O que Nicodemos descobria naquele momento é o que talvez alguns dentre nós estejamos descobrindo nesta noite, que embora pareçamos vivos, e estejamos vivos, essa realidade se dá apenas em nossa pequena e curta percepção humana. Mas quando olhamos pelo olhar de Deus, o que vemos é que estamos diante da necessidade de um nascimento novo e permanente, numa outra esfera, espiritual, distante dos conceitos desta vida passageira.
A resposta que Jesus deu a Nicodemos é a mesma que continua a dar ainda hoje: “se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. E Jesus explica diretamente que há duas formas de vida. Uma, ele chama de vida na carne; outra, de vida no espírito. Em suas palavras “O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito.”
Somos gratos diariamente a Deus por ele ter nos avisado que era preciso nascer de novo e por ele mesmo ter nos feito nascer para a nova vida nele. Todo dia é dia de comemoração. Não necessariamente com bolos e salgados, mas com palavras a quem é mais importante que presidentes e reis, o próprio Deus, que passou a viver em nós, o que só pôde acontecer por termos nascido para a glória dele.
O que precisamos para nascer de novo? Como deixaremos de ser não-vivos ou não-nascidos para Deus? Poderiam se perguntar agora alguns dos Nicodemos presentes. A resposta é simples. Tão simples que até eu e outros tantos conseguimos entender: “Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos. Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos, e toda transgressão ou desobediência recebeu justo castigo, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?”. Isso está no livro de Hebreus, capítulo 2, versos de 1 a 3.
Hoje Deus conta a todos nós que podemos ter um novo princípio de vida, uma nova vida, uma grande salvação. Um motivo para viver esta vida, a despeito do que ela possa nos reservar, e motivos abundantes para vivermos eternamente com ele.
Que Deus abençoe, dê paz e vida, a vida em abundância a você e sua casa.

Joel Theodoro