sábado, 17 de maio de 2008

VENDAVAIS E TREMORES DA TERRA E DA ALMA

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Imagens: http://www.flickr.com/ e http://dn.sapo.pt


Há alguns poucos dias venho acompanhando as devastações quase simultâneas em terras asiáticas.
Primeiro, o vento que dizimou imediatamente milhares de pessoas e cujos efeitos continuam solapando outros tantos milhares de vidas em Myanmar. É terrível vermos aquelas imagens pelos meios de informação. Sabemos ser algo da natureza, algo incontrolável e assustador, mas não deixamos de nos assustar com a capacidade devastadora desses eventos.
Logo em seguida veio o terremoto na China. Coisa tão horrível quanto a primeira. Ou pior? As imagens de Myanmar, que ainda não haviam desaparecido de meus olhos em minhas leituras diárias de jornais eletrônicos (habitual meio de minhas leituras) quando me surgiu a sensação de que a segunda leva de imagens era ainda mais terrível. Mais gente ainda é anunciada como tendo perdido a vida.
Em ambos os casos, as filas de cadáveres semi-cobertos com familiares chorosos à procura de possíveis identificações, os desabrigados a passar fome de comida e de esperança, sede de vida e de justiça pessoal e social, falta completa de esperança e de alegria. Tempos difíceis e desesperados.
Também em ambos os casos olhei um pouco para os povos. Não as etnias, mas as realidades nacionais. Uma nação meio apagada, Myanmar, que vive a rotina de uma ditadura militar severa, que não prevê crescimento para seus cidadãos. A outra, uma nação pujante em crescimento, mas cuja realidade individual deixa o cidadão com reflexos de igualdades sociais ainda muito distantes. Em ambos os casos, uma triste coincidência: a rejeição e a proibição de se conhecer Deus faz parte de ambos os estados.
Não gostaria de espiritualizar agora o debate levantando a questão de terem as devastações a ver com a rejeição a Deus ou não, ou coisa assim. Poderíamos pensar por aí, mas isso não vem ao caso neste pequeno texto. No entanto, não podemos deixar de pensar nessa relação.
Fora as questões naturais das ventanias e dos tremores da crosta terrestre, andei pensando sobre os vendavais e os tremores que solapam e destroem as almas mundo afora. Não, infelizmente não é mais possível selecionar regiões como fiz anteriormente, quando falava da questão natural. Quando se trata de alma humana, os vendavais e tremores acontecem por toda parte.
Milhares neste momento estão a morrer por dentro. Milhares estão a chorar. Milhares estão a buscar fuga de onde não existe, pois quem será capaz de fugir de si mesmo? Quem poderá fugir de seus temores, seus pesares, suas angústias, suas tristezas, sua amargura de vida? Não há quem o possa fazer. Há muitas filosofias e religiões que tentam auxiliar a humanidade em sua busca por algo que não seja apenas o que ele enxerga naturalmente dentro de si. Busca-se desesperadamente achar dentro da essência individual o que poderá responder às perguntas primárias da angústia humana.
Mas há uma notícia que faz tremer a alma enquanto a ventania existencial a espalha como folha seca pelo campo. Tal nova nos diz que não há como um barco desgovernado encontrar meios de, sozinho, amarrar-se ao píer que está ao largo. E isso piora o vazio, pois distancia de nós quaisquer possíveis acertos existenciais.
Onde está, então, a resposta? Ela está fora de nós, como estaria fora do barco desgovernado. Está distante de nossas limitações, mas perto o suficiente para nos atracar em local seguro. As populações de Myanmar e da China precisaram e continuarão precisando receber ajuda de fora. Até os ditadores de Myanmar que recrudesceram, aceitaram oficialmente ajuda médica - pelo menos da Ásia.
Cada um de nós precisa entender que os vendavais e os tremores da alma não cessam, mas para sobrevivermos, precisamos de ajuda. O Salmo 121 me diz de onde exatamente devo esperar que me venha o socorro. É simples e dedicado em me dizer, e a você que lê este texto, que, por mais que vendavais e terremotos nos abalem, há um ponto de socorro para as nossas vidas. Nossas almas correm constante perigo e sobressalto. Abalos poderão bater à porta de nossa existência tão frágil e conturbada, mas podemos descansar em que há saída segura para nós. Leia o salmo abaixo e descanse seguro. Mas segue a advertência: somente saberão onde buscar ajuda os que nela esperarem e nela crerem com verdadeira fé. “Levanto os meus olhos para os montes e pergunto: De onde me vem o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra. Ele não permitirá que você tropece; o seu protetor se manterá alerta, sim, o protetor de Israel não dormirá; ele está sempre alerta! O Senhor é o seu protetor; como sombra que o protege, ele está à sua direita. De dia o sol não o ferirá, nem a lua, de noite. O Senhor o protegerá de todo o mal, protegerá a sua vida. O Senhor protegerá a sua saída e a sua chegada, desde agora e para sempre.”