sábado, 30 de maio de 2009

UM MUNDO NÃO CRISTÃO. O QUE A IGREJA TEM FEITO? - parte 2

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Imagens: http://www.flickr.com/


PARTE 2 – PENSAMENTOS SOBRE A IGREJA E SOBRE NÓS

Recentemente, em termos de História, passamos pelas crises Capitalismo X Comunismo, nas quais sempre se alertava para o perigo da invasão comunista ao Ocidente. Lembra-me ser muito comum os radicalismos: de um lado, o Comunismo era o demônio em sua expressão político-social; de outro lado, muitos diziam que isso era exagero e que o Comunismo era até bom para a sociedade Ocidental. Aliás, usava-se dizer, então como agora, que Jesus seria o idealizador primitivo do Comunismo. Fruto de muito vai-e-vem, temos hoje muitos cristãos aferrados à defesa do Comunismo para a implantação da justiça social.

Sem querer falar muito mais, dizem que contra a experiência não há fatos. Pequeno ainda, vivia eu nos Andes, uma vez que meus pais eram missionários. Nessa época conheci alguns irmãos soltos ou “comprados” da chamado Cortina de Ferro pelos irmãos do Ocidente. Um deles, Richard Wurmbrand, esteve entre nós, em minha casa e nunca mais me esqueci dele. Nem de suas marcas na pele, no coração e na alma (leia mais sobre ele em http://www.vozdosmartires.com.br/sobrenos.html). Mas, para os cristãos sonhadores com o Comunismo entre nós, haverá sempre uma desculpa para os milhares como ele, e sempre será mais fácil acreditar num regime humano que num filho de Deus...

Havia uma advertência. Mas ninguém queria ouvir. A Igreja seria destruída pelo Comunismo? A Invisível, jamais. A Visível foi muito afrontada e quase exterminada naquelas paragens. O mesmo ocorre hoje em Estados muçulmanos, em Estados socialistas radicais, em Estados fechados ao cristianismo em geral. Em várias dessas partes, dá-se uma liberdade parcial, mediante autorização expressa a algumas denominações que se sujeitem a operar a sua fé através de acordos com o Estado, que vão desde a comunicação prévia das prédicas, até a entrega sistemática de cristãos não-alinhados que apareçam nas comunidades. Mas, na maioria dos casos, o radicalismo anti-cristão é aberto e com perseguições até as últimas conseqüências.

A Bíblia também está repleta de advertências para que tenhamos cuidado com as inúmeras táticas do inimigo de Cristo. Uma sutil serpente conversando ao pé do ouvido, alguns infanticídios, muitas guerras, muita perseguição, espada, fogueira, etc. Mas, talvez, as piores ondas contra a Igreja tenham partido de dentro dela própria. Quanta heresia saída de seus berços, quanta incredulidade, quanta apostasia, quanta jactância, quanta petulância em creditarmos a nós o que só Deus pode fazer. Ário, Márcion, Testemunhas de Jeová, Mórmons, e muito mais... Tudo saído de dentro das nossas bases de fé. Recentemente, Teologia da Libertação, Teologia Liberal. Tudo para uma só coisa: tentar desfazer a obra de Deus, depor contra Deus, descaracterizar a fé cristã.

Talvez a mais antiga das advertências seja a que aprendemos ainda criancinhas, nas Escolas Dominicais de nossas igrejas locais. “A maior arma do diabo é fazer crer que ele não existe”. Quantas vezes ouvimos esse mote? Uma outra, muito conhecida por aí é a que diz que “todos os caminhos levam a Deus”. Então, quando somamos essas pérolas, o que temos é que deve ser totalmente desconsiderado alguém que, em sua intolerância, continua achando que um só caminho leva a Deus (Jesus) e que há, sim, uma luta sendo travada entre bem e mal por nossa causa. Não! Não apenas desconsiderado, mas vilipendiado e morto, se for o caso. E é o que vemos em alguns dos casos mencionados acima.

Algo essencialmente anti-cristão que se estabelece hoje no seio da Igreja do Senhor é a conclusão a que alguns de seus líderes chegam de dar as mãos a pensamentos e parâmetros de fé diferentes da que a Bíblia estabelece em paralelo ao aberto questionamento da própria raiz do cristianismo. Já imaginaram os muçulmanos dizendo que o Corão está errado ou que Maomé estava falando por hipóteses que não devem ser consideradas hoje, num mundo pós-moderno? Já imaginaram um monge budista dizendo que Buda jamais reencarnou e que, na verdade, a doutrina budista é apenas uma metáfora que os menos ilustrados utilizam para ter mais esperança enquanto vivos? Já imaginaram espíritas que pregam que a reencarnação é apenas uma ilustração que precisam contar aos incautos a fim de que estes se aproximem deles? Ou, quem sabe, mórmons concluindo abertamente que o batismo pelos mortos é apenas uma forma de juntar as lembranças familiares?

Pois bem, é isso, em suas peculiaridades, que muitos cristãos têm feito mundo afora. Para esses infelizes - na essência semântica do termo - a Palavra de Deus é apenas transcendente. E tão transcendente que é, ao mesmo tempo, inalcançável e tocada por todos, sejam cristãos ou não. A Bíblia, para esses pobres - na essência metafórica do termo - nada mais é que uma coletânea de informações histórico-culturais de hebreus que, casualmente, tiveram entre si um tal Jesus de Nazaré. Este, por sua vez, na patética visão desses moribundos da fé - na essência teológica do termo -, foi apenas mais um hebreu que apanhou e foi morto porque falou e fez o que não devia. Morreu, foi enterrado e, depois, sumiram com seu corpo. Só isso. Mas pregam que devemos deixar que as pessoas creiam nele... Afinal, elas são simples e de uma fé delicada. São quase tolas por não (dês)crerem em tamanha desfaçatez.

A religiosidade cristã deixou de ser cristã e se tornou híbrida, sem cor nem doutrina. A ação de cuidados sociais cristã deixou de ser cristã e passou a ser espírita - a boa obra para o alívio intelectual - ou socialista - a boa obra para o alívio social. A influência pública cristã deixou de ser cristã e se tornou perversamente política ou financeira - para o alívio das ex-comunidades, que agora não mais comungam no espírito, mas precisam mostrar serviço. Acadêmica, intelectual, científica e eclesiasticamente falando vamos por rumos assim.

Por tudo isso estou convencido que a culpa é nossa. Nossa quer dizer dos cristãos em geral. Gente que parou de se encontrar com Deus, gente que parou de buscar Seu conforto, gente que não vive mais ao lado de um Deus que disse ser para sempre e não apenas para um punhado de dias da História. Somos gente acostumada a descrer como se isso fosse a nossa melhor expressão de fé. Descontinuamos o amor por Deus, descontinuamos o amor pelo próximo, descontinuamos o amor por nós também.

Isso traz ao coração um sentimento pesado de início e uma pergunta que não cala no coração: Há esperança? Verei coisas diferentes? Verei outra Igreja ainda em vida? As respostas estão na História: Sim, há esperança e ela jamais deixará de existir. Sim, é possível que eu ainda veja coisas diferentes. Mas, não, não verei outra Igreja. A Igreja não mudará porque ela não foi maculada. Nada que vemos, sentimos ou analisamos passou da superfície da Igreja, pois ela nem pertence a nós nem a ninguém que tenha tentado descontinuá-la ou desacreditá-la. Nenhum outro poder, humano ou espiritual, conseguirá derrubá-la. A Igreja tem para si a promessa de que nada, nem mesmo as portas do inferno, a venceriam em toda a sua era (Mateus 16.18).

As aparentes desesperanças também me lembram que sempre houve tentativas, pois, se o inimigo de Deus sabe que não pode vencer a Sua Igreja, por outro lado, ele sabe poder arruinar muitas vidas, inclusive de gente dentro das igrejas. Às vezes achamos que estamos sozinhos. Pobres de nós... Jamais estaremos sós, mesmo que não vejamos mais ninguém como nós na trilha da Igreja.

Baal era a designação genérica de diversos deuses cananeus, quase sempre ligados à fertilidade, forças ativas da vida, prudência, maturidade, etc. Algumas vezes os israelitas trocavam Deus por Baal. Algumas vezes cristãos trocam Deus por outros deuses... E a História se repete sem se renovar. Em 1 Reis 19.14, Elias diz ao Senhor “Sou o único que sobrou, e agora também estão procurando matar-me”. Essa era a percepção do profeta e essa pode ser a percepção de muitos cristãos de hoje. Mas a resposta de Deus a Elias é a mesma a nós hoje, tanto séculos depois, como vemos no verso 18: “fiz sobrar sete mil em Israel, todos aqueles cujos joelhos não se inclinaram diante de Baal e todos aqueles cujas bocas não o beijaram”. Precisamos nos lembrar que Deus é fiel às Sua promessas e que ele jamais abandonará nem Seus filhos nem a Sua Igreja. Há muito mais que sete mil filhos de Deus sinceros e que não se dobraram diante de tanto Baal moderno.

A que conclusão chegamos? Você é mesmo filho de Deus? Apenas fique firme. Mantenha-se erguido em sua percepção da majestade de Deus, mesmo que ao seu lado muitos tenham embaçado o olhar. Lute por Deus, por Sua Palavra e por Sua Igreja. Saiba que você não está só. Viva cada dia para a glória de Deus. Faça de seu coração, verdadeiramente, um local permanente de culto a Deus. Dobre-se diante de Deus sabendo que há muitos outros como você em toda parte deste mundo. Resista, mesmo diante da morte, se for necessário. Não se esqueça que a Igreja do Senhor Jesus tem em sua base muito sangue derramado. Resista, mesmo percebendo que muitos, inclusive dentro dos muros, parecem lutar contra. E, no final, será cumprida em você a promessa de Apocalipse 2.10b “seja fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida.”

Que Deus guarde a abençoe você.

terça-feira, 19 de maio de 2009

UM MUNDO NÃO CRISTÃO. O QUE A IGREJA TEM FEITO? - parte 1

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Imagens:
http://www.flickr.com/


PARTE 1 – PENSAMENTOS SOBRE CULTURA E FÉ


Animei-me com o último post, do dia 18 de maio. Animei-me também com um dos comentários, feito por um grande amigo meu, no qual ele se manifesta como entendendo que o filme deve ser desconsiderado como alerta por conta de alguns pontos que ele destaca e que eu gostaria de comentar neste texto. Para não entediar você, dividi-o em duas partes e, em poucos dias, postarei a segunda, se Deus quiser.

De saída, gostaria de dizer a você que me lê que entendo ser muito saudável compartilharmos opiniões que sejam diferentes, contanto que nosso viés final seja a fé e a soberania de Deus sobre Sua Igreja. Uma outra coisa que gostaria de falar a você: todas as vezes que cito os termos “cristão” e “Igreja” sem referência a qualquer grupo ou denominação, refiro-me respectivamente ao filho de Deus, ou seja, todo o que foi lavado no sangue do Cordeiro e que pertence a Cristo, e à Igreja do Senhor Jesus em toda parte, em toda língua, em toda etnia, sem me importar com a tabuleta à porta de seus templos.



Sobre cultura, digo a minha opinião, compartilhando-a agora com você que me lê. Será que cristianismo pode ser chamado “cultura”? Algumas opiniões minhas: a) Entendo que se temos um conjunto de ações e características modeladas em uma coletividade, fruto de cooperação e construção conjunta de formas e valores em prol de uma sociedade ou de um grupo social, temos cultura; b) se temos valores que precisam ser transmitidos aos que nos cercam e aos que virão depois de nós, por tantos meios quanto possamos acessar, temos cultura; c) se esses mesmos valores compõem o de mais valoroso desse grupo social, a tal ponto de constantemente se buscar seu aprimoramento e seu desenvolvimento intelectual, acadêmico, religioso, etc, temos cultura; d) se temos valores que precisam ser aplicados no indivíduo pela razão e propagação de idéias e ideais, com refinamento e modificação adequativa individual e coletiva, temos cultura; e) se temos necessidade de mostrar a outrem, de outro viés cultural, que nossos valores podem até conviver com os deles, mas que queremos preservar os nossos, temos cultura; f) se temos códigos aceitos de maneira ampla, com padrões estabelecendo limites de ações e práticas de conduta ética em coletividade e em particular, o que, espera-se, desenvolva ainda mais nossos parâmetros de equidade e equalidade, temos cultura.



Com base nos aspectos listados acima, de minha cabeça, e em muitos outros, que gente mais profunda poderia listar, podemos dizer que cristianismo é, sim, cultura. O Ocidente inteiro deve sua cultura – aquela que mais comumente costumamos chamar de cultura – à cultura cristã que lhe serviu de esteio formacional. Apagar isso é apagar a História e os valores pára-religiosos do cristianismo.

Mas isso não desfaz as características de fé do cristianismo. A fé nos une num ideal maior, a cultura é a periferia das expressões atinentes aos diversos grupos que se formam sob a mesma sombra, no caso, a da fé comum. Não me prolongo no tema por não ser a tese central, mas, como direi a seguir, as esferas não se misturam. Porém, por cuidar que não se misturem, não posso anulá-las.

Na Teologia Reformada, temos bem definida a questão das esferas. Não devemos misturá-las e isso é muito bom. Mas não considerar aspectos periféricos para não misturar as esferas é sinal de falso pietismo. Abraham Kuyper pode ser boa leitura a esse respeito. Por esse mesmo pressuposto algumas alas do cristianismo têm privado os fiéis de coisas boas da vida, na vã tentativa de preservar uma fé sã, sob a égide de costumes locais. Isso transformou a Apologética Cristã numa tábula de proibições e preceitos não-teológicos. Isso também é reduto de cultura, mesmo que a consideremos sub-cultura religiosa. Não pensamos mais, não cremos mais, não dispomos mais nosso coração a buscar o que de fato tem relevância.

Sobre a taxa de natalidade, se ela não tivesse qualquer importância, a sombra da Igreja, o Israel do Antigo Testamento, além dos que o precederam na História bíblica, não teriam recebido tantas orientações com respeito à multiplicação necessária. Alguns podem argumentar que isso era no início, perto da Criação, com pouca gente no mundo. E depois, com um Estado, Israel, formado, porque a orientação de crescimento? Não seria uma das razões o estar aquele Estado em constante beligerância e, portanto, precisando ter mais gente que os povos contra os quais lutava sempre? E o Novo Testamento, tempo da Igreja, não diz que continuamos em guerra, sendo que agora não mais em armas, porém em esferas de espírito?


Bem, quem também parece se preocupar com as diversas facetas de crescimento irrestrito do Islã no mundo, inclusive com as taxas de fecundidade, é uma das maiores autoridades sobre essa religião entre os cristãos atuais, Don Richardson. Aliás, já que somos cristãos reformados, embora falando agora a todos os cristãos interessados no assunto, a citada autoridade fez alerta semelhante ao do vídeo em relação ao Brasil (!!), destacando que as coisas que retinem por lá haverão de soar por aqui um dia. Leia a matéria na página da Agência Presbiteriana de Missões Transculturais (APMT), no link http://www.apmt.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=30&Itemid=85.

O artigo diz que Richardson denuncia “o perigo igualmente iminente do desaquecimento das taxas de crescimento populacional no ocidente. Está acontecendo um suicídio demográfico hoje entre os povos ocidentais e Richardson faz uma séria advertência quanto aos riscos que isso representa para a sobrevivência dessas sociedades, especialmente diante da grande ameaça que chega do mundo islâmico, caso permaneça a baixa taxa de natalidade com a drástica diminuição do número de filhos.” Alguns dos dados que você viu no filmete do post do dia 18 de maio são dele, Don Richardson, e aparecem na matéria da APMT, órgão presbiteriano, reformado, portanto. Creio que isso nos ajuda a entender que baixas taxas de natalidade representam realmente riscos de desaparecimento de grupos sociais e seus bolsões, bem como podem representar o surgimento ou o crescimento programado de outros. Para quem quer saber quem é Don Richardson, talvez seja bom lembrar dois de seus excelentes títulos: “O totem da paz” e “Fator Melquisedeque”.

Quanto às baixas taxas de natalidade no Ocidente desenvolvido, que representariam o contraposto às altas taxas dos islâmicos, isso é coisa conhecida de todos e não precisa ser referenciada aqui.

Num outro endereço, o blog “O Tempora, O Mores!”, há um artigo bastante interessante sobre a condição numérica da Igreja. Como reformado, o Rev. Augustus Nicodemus, acusa a nós mesmos, também cristãos reformados, pela baixíssima presença de gente em nossas comunidades, salvo as exceções às quais ele mesmo se refere. Confira no artigo que se chama “Dez Motivos pelos quais Pastores Conservadores Costumam ter Igrejas Minúsculas”. Vale a pena dar uma lida.

Quando volto nossa atenção à Igreja como um todo, paro e penso nas ordens claras e objetivas deixadas por Cristo e mostradas ao longo de toda a Escritura a respeito de nosso crescimento. Imagino, sem querer ser auto-apologeta, que tenho alguns motivos, sim, para crer que o crescimento populacional islâmico levará os muçulmanos ao domínio cultural e religioso do Ocidente em algumas décadas. Por favor, você que me lê, entenda que as palavras a seguir não são técnicas, mas apenas de minha percepção como cristão.A Igreja do Senhor, como legado histórico-universal, está madura. Por estar assim, passou a se crer, como instituição, como algo contra o qual “as portas do inferno não prevaleceriam”. Embora a Igreja Visível seja a expressão temporal da Igreja Invisível, aquela à qual a Bíblia se refere é a transcendente, a Invisível. Infelizmente, contra a Igreja Visível, muita água pode rolar, muita perseguição pode acontecer, muito sofrimento pode se dar. E a História tem muitos casos para nos alertar.

Na parte 2, tentarei refletir sobre algumas coisas, tais como as advertências da História, as heresias em nosso seio, o anti-cristianismo pintado de pietismo, a invasão social no campo da fé, e outras coisas que podem surgir. E me pergunto: de quem é a culpa?

Que Deus os guarde e lhes dê paz

segunda-feira, 18 de maio de 2009

UM MUNDO MUÇULMANO. O QUE A IGREJA FARÁ?

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Vídeo:
http://www.youtube.com/

Há pouco recebi um e-mail bastante substancial em suas informações. Refere-se ao espantoso crescimento muçulmano em todo o mundo ocidental, exatamente o mundo cristão.

Deixo para vocês verem por si mesmos a apresentação que foi divulgada, segundo informações no vídeo, pela Primeira Igreja Batista de São José dos Campos, SP.

Precisamos orar. Precisamos nos lembrar das ordenanças do Senhor Jesus a respeito de nosso papel no crescimento e na sanidade do Corpo. Precisamos lembrar, finalmente, que a Igreja do Senhor Jesus somos nós, Seus filhos.

Que Deus a todos guarde e dê paz.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

COISAS BOAS (AINDA) ACONTECEM

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Imagens:
http://www.flickr.com - (montagem: Joel)

É sempre bom estarmos diante de boas coisas. Sem dúvida. Quem não gosta de vivenciar deleites? Nós, cristãos, entendemos que as boas coisas da vida nos foram dadas por Deus como graça imerecida para que vivêssemos melhor neste mundo conturbado. Mesmo os que convivem diuturnamente com suas piores sombras têm momentos de lampejos dessa natureza.

As coisas boas da vida têm uma enorme desvantagem, no entanto: tendem a se perder com o tempo. Envelhecem, estragam, enguiçam, perdem a utilidade, etc. Os bons momentos, por outro lado, têm a característica de não se perder, já que eles vivem não fora, mas dentro de nós. Eles entram no universo de nossos sentimentos e lembranças e passam a compor nossa própria realidade interior.

Pois bem, há pouco mais de dez dias eu e minha família vivemos alguns dos melhores momentos vividos por nós. Recebemos a comunicação de um evento que se daria pulverizado em várias partes do Rio de Janeiro, sendo que uma delas fica a um quarteirão de nossa casa. Sexta à noite e sábado o dia inteiro. Feriado e final de semana. Tudo bem, tudo certo para irmos. Mas o presente estava ainda por vir.

Estamos cansados de música fajuta em igreja, música ruim em rádios evangélicas, música enlatada nos camelôs gospel, música horrorosa nos CDs, música herege e sem graça em toda parte. Claro que há exceções. Mas estão meio raras hoje em dia. Isso para falar só de música. Quando falamos de pregação, estudo bíblico, comunhão, vida cristã... Aí a coisa fica mais dramática ainda.

O evento chama-se (isso mesmo, no presente: ele se repete de tempos em tempos) Sarau da Comuna. O que vimos lá foi coisa preciosa. Gente que canta com a alma, gente cujos discos são vendidos, sim, mas porque não dá para ir embora sem levar pelo menos um. Sem alarde, sem apelos, sem atropelos.

Música que faz bem à alma, ao coração. Música que nos deixa leves. Música para a paz. Não havia dança. Não havia passinhos. Não havia gritos. Ninguém quebrou guitarras. Ninguém atropelou para subir primeiro ao palco. Não havia estrelas. Havia parceria de gente que se conhece fora do palco. Gente amiga. Gente crente. Gente que, mesmo sendo musicista profissional, diz “o mais importante não é a música, mas a Palavra”. E ponto. Havia poesia. Havia muito dedilhado ao violão. Havia voz bonita. Havia sorrisos. Havia lágrimas. De alegria, claro.

Conheci gente nova e boa. Revi alguns. Liguei algumas imagens a nomes conhecidos. Vi gente da antiga e nova gente. Tudo muito bom.

Confirmei que há gente que é mais preocupada em ministério que em direitos. Não negando estes, mas sem renegar aquele... Gente que abre mão e dá, crendo mesmo que é melhor fazer isso que receber. Mas recebem. Do Alto. E de baixo. Talvez não o que mereçam da terra. Mas, dos céus, sempre na medida certa.

Meus filhos agora têm novo tio. Não mais um, porém alguns tios a mais. Todos musicistas e poetas. A notícia vazou e o titio apareceu. Mas isso é conversa para outras horas. Ora, bolas... Coisa confusa, mas legal à beça. Valeu titio de meus filhos! Qualquer dia componha uma melodia pra isso tudo! Sem nomes aqui, pro titio não arranjar mais sobrinhos por aí...

E, neste sentimento, deixo para vocês alguns desses nomes. Os que tiverem sites ou blogs, porei ao lado. Sem agenciamento! Estou apenas compartilhando com vocês algo de muito bom e precioso que Deus nos permitiu viver nestes últimos tempos. Porei os nomes em ordem alfabética, para desmontar idéias de predileção. Claro que as tenho, mas você não precisa saber delas, certo?

A partir deste blog, os links desse povo estarão ao lado, acessíveis a todos vocês. Em vários deles, há a possibilidade de ouvir parte de suas canções. Dois links da lista não são de pessoas que estavam presentes nesta edição do Sarau, mas que fazem parte de minha preferência musical cristã. Explico também que esta lista não esgota gente desse naipe no Brasil. Há mais ainda. Graças a Deus!

Ouçam com Deus!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

ESPIRITUALIDADE DA BOCA PARA FORA

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Imagens: http://www.flickr.com

Temos vivido uma estranha alteração, em que vemos a migração das questões de nossa espiritualidade de dentro para fora. Em outros termos, deixando de ser vivências de espiritualidade e tornando-se apenas estéticas de espiritualidade.

Isso não é fenômeno exclusivo dos cristãos. Aliás, sofremos influência constante em áreas nas quais a Igreja deveria influenciar e, jamais, ser influenciada. Sociológica, histórica e antropologicamente falando, o homem ocidental sofreu intensa transformação desde meados do século XIX, principalmente a partir dos eventos da crise do Liberalismo na Europa e suas conseqüentes amostragens mundo afora.

Lembro-me daquele verso bíblico que se encontra no Salmo 119.11: “Guardei no coração a tua palavra para não pecar contra ti.” Ora, sabemos que o coração, na linguagem bíblica, nos remeta às emoções, à interioridade, nunca à exterioridade de nossas vidas. Então, juntando esse verso a tantos outros, entendemos que Deus nos quer pelo que somos por dentro, nunca pelo que apresentamos por fora. Até porque isso apenas mostraria uma estética que pode enganar nossos co-irmãos humanos. Mas, como sabemos, jamais enganaríamos a Deus.

A espiritualidade estética tem seus apelos, e isso é inquestionável. É mais fácil parecer que ser. É mais rápido aparentar que se transformar. Por isso, e por uma série de confusões doutrinário-interpretativas, a turma de “bíblias” que perambula pelo Brasil tem demonstrado intensa capacidade de fingir que é o que não é. Fingimos ser cristãos. Fingimos ser santos. Fingimos ter revelações. Fingimos pregar. Fingimos ouvir. Fingimos ter vida com Deus. Fingimos, fingimos e fingimos.

Viver uma vida de busca a Deus já é coisa mais difícil. Exige exatamente o que ninguém mais quer fazer em dias como os nossos. Exige tempo com Deus. Exige ouvir exortações. Exige silenciar. Exige buscar respostas na Palavra (o que nem sempre é rápido). Exige paciência. Exige perseverança. Exige mais e mais coisas que a vida moderna relega como indesejáveis.

Li no Jornal do Brasil de ontem, dia 05 de maio de 2009, uma notícia que é pelo menos ilustradora disso (http://jbonline.terra.com.br/leiajb/noticias/2009/05/05/rio/tatuagem_denuncia_criminoso.asp). Na matéria, há um parágrafo emblemático: “Em vez de ajudá-lo a seguir o caminho dos justos, a abertura do Salmo 23 da Bíblia levou o ex-foragido Cristiano Moreira dos Santos, 22, de volta para a cadeia. Foi por uma tatuagem com a frase ‘o Senhor é meu pastor, nada me faltará’, em seu braço esquerdo, que testemunhas o reconheceram como o assassino do passageiro de um ônibus que se recusou a entregar uma bolsa durante um assalto em dezembro passado.”

E a matéria segue com alguns detalhes, dando conta de que o aprisionado teria feito disparo à queima roupa na cabeça de um rapaz de apenas 23 anos, o qual se recusava a largar seus pertences durante o assalto a um ônibus. E ficaram, ele e seu parceiro de crimes, por mais cerca de cinco minutos no interior do ônibus fazendo o resto de seu “trabalho”.

Aliás, algum tempo atrás li matéria na mídia evangélica, que mostrava os fiéis de uma determinada denominação orgulhosos ao mostrarem suas tatuagens. Muitos usavam trechos bíblicos. Outros tantos usavam o expediente para demonstrar seu apreço pela igreja e pelo casal de líderes fundadores da comunidade.

Cristiano. Esse é o nome. Quem sabe alguém que quis honrar em seu filho a lembrança de Cristo. Cristiano é nome de origem espanhola e quer dizer “cristão”. Ironia adicional, o criminoso ostentava orgulhosamente seu painel tatuado no braço com parte do Salmo 23 à mostra.

Volto às afirmativas anteriores. O que esse episódio nos mostra, guardadas as proporções, é exatamente o mesmo que em outras áreas. Para ele, talvez, a inscrição no braço representasse a segurança em tempos de violência. Para muitos outros, as tatuagens são trocadas por bíblias abertas no Salmo 91, por copos d’água, por correntes sem fim, por apelos de continuidade sem reflexão, por campanhas infindas, por simbolismos sem propósito, por repetição cênico-religiosa de eventos históricos (apenas) do texto bíblico, pelo uso ostensivo de um terno, pela ida religiosa (apenas) à igreja aos domingos, pelo trabalhar por trabalhar na igreja, pelos aplausos recebidos sob a égide de humildes recusas, etc e etc.

Esse rapaz só levou às últimas conseqüências o que é sabidamente normal. Espiritualidade da boca para fora gera morte. E o primeiro a morrer é exatamente o que age dessa maneira. Sabemos que muitos dos internos no sistema penal brasileiro têm origem em famílias evangélicas. Mas, pergunto-me, qual terá sido o conhecimento de Deus adquirido por essas pessoas em sua formação? De que Deus será que tentaram se aproximar? Qual foi o Cristo de que ouviram falar? Esse Deus era o mesmo da Bíblia? Esse Jesus era uma espécie de ídolo apenas com o mesmo nome do Jesus da Bíblia?

A primeira parte de Oséias 4.6 diz “Meu povo foi destruído por falta de conhecimento.” Conhecimento não é tatuagem, nem nada exterior. Esse conhecimento é interior, faz parte de nossa particularidade e de nossa íntima experiência com Deus. Se não acorrermos às águas frescas que vêm de Deus, morreremos. E mataremos. E teremos decepções. Mas tudo, claro, com imensas tatuagens em nossa pele.

Precisamos voltar à busca de um profundo conhecimento de Deus. Um conhecimento interior, desprovido de esoterismos e influências não cristãs. Precisamos voltar e voltar. Precisamos retornar aos marcos colocados pelos antigos, os quais jamais poderíamos ter removido (veja Provérbios 22.28). E vamos voltara guardar a Palavra de Deus em nosso coração, para pararmos de pecar contra Ele.

Que Deus guarde todos vocês.