sábado, 12 de abril de 2008

ATRAVESSEI A RUA. E AGORA?

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro

A vida oferece surpresas nas coisas mais comuns, das quais podemos tirar proveito para a nossa educação de vida. Imagino se a vida não se parece com uma estrada. Isso muita gente imagina: retas e curvas sempre bem cuidadas, margeadas por belas paisagens, com flores e canteiros providenciais para descansar as vistas e os pensares dos viajantes cansados, que gastam longas horas pensando nas duras realidades a serem reencontradas após os quilômetros que ainda se têm à frente.
Mas, eventualmente, e já que a vida realmente nos mostra uma progressão irreversível, a estrada pode ser trocada por ruas e vielas. Isso é menos romântico, menos pomposo e menos buscado por nós, comuns mortais. Mas, paradoxalmente, essa coisa mais feia e menos onírica, é também mais próxima do real ao qual nos vemos sujeitados nos dias de nossa existência. Então imaginemos, agora sim, que a vida se parece com uma rua de nosso bairro. Não a mais bela, com aléias agigantadas e bem tratadas. Tampouco a pior, com bueiros e sujeiras expostas por todos os lados. Simplesmente uma rua comum, com asfalto comum, alguns buracos comuns, gente comum passando para todos os lados, camelôs comuns, policiais comuns, barulho comum, e tudo mais que sabemos ser coisa comum.

É aí que a nossa vida se encaixa. Por mais que queiramos, somos pessoas comuns sujeitas a tudo que a vida nos apresenta. As boas coisas e as más coisas, que são sempre capazes de atingir bons e maus, ricos e pobres, cultos e não tanto.

A Palavra de Deus nos coloca exatamente assim, como pessoas comuns e falhas, que dependem de pura misericórdia de Deus para os mais leves gestos de seu dia-a-dia. Sim, é isso mesmo. Por mais que não queiramos reconhecê-lo, a nossa falibilidade vai muito além de nossa vontade. Uma simples rua que se abra diante de nós em nossa vida pode representar uma impossibilidade sem precedentes. Atravessar representa, muitas vezes, vencer o inusitado, tentar novas possibilidades, arriscar a saída da inércia, recomeçar. Enfim, pode significar muito. Precisamos tentar, mas sempre na crença inabalável que Deus estará conosco antes, durante e depois da travessia. E tanto faz se ela parece complicada ou simples de se fazer.

Um outro caso pode começar imediatamente após a travessia. “Atravessei a rua. E agora?” O título deste breve pensamento representa o espanto que pode cercar a existência incauta que lutou e perseverou, mas que, ao vencer o obstáculo proposto, parece ter perdido a vontade de prosseguir. O que houve? Talvez a perda do estímulo da luta, talvez o cansaço depois de muita provação. Mas a estagnação de depois é tão nefasta e destruidora quanto o era antes de começar a travessia.
Sentimos medo e temos vontade de fugir sempre. O que nos é surpresa é sempre muito delicado de se lidar. As decisões que precisamos tomar depois de vencida a travessia das ruas de nossa vida são complexas. Uma das razões pode se dar pelo segundo medo. Se o primeiro era mais intenso em relação ao desconhecido, o segundo medo pode ser muito severo com relação ao pavor do retorno ao primeiro. E assim vamos vivendo. Nossa vida vai progredindo. Nossas ruas vão chegando e nós as vamos atravessamos. Não podemos parar. Não podemos desistir.

Há algo que precisamos encaixar em nossa mente de qualquer maneira. O que resolve em nós as questões de nossa humanidade tão frágil não está em nós, mas pode entrar em nós. Sozinhos não conseguimos vencer todos os nossos temores e pavores. Mas se o Deus eterno entrar em nós, a vitória sobre nossas mazelas está encaminhada e, mais à frente de nossa existência, as ruas serão atravessadas em paz, as vielas serão vencidas de forma tranqüila e o prosseguir após as travessias se dará sem maiores impedimentos. Continuaremos com dificuldades. Continuaremos a lutar muito. Mas teremos uma tábua segura em que nos apoiar e a firme convicção de chegarmos ao outro lado em ritmo de vitória.

E a última rua que precisamos atravessar, aquela que divide esta vida do futuro eterno, também será bem atravessada se o Espírito de Deus estiver em nós. É o que nos diz um velho cristão, Paulo, em sua carta aos Romanos, capítulo 8, verso 11: “E, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vocês, aquele que ressuscitou a Cristo dentre os mortos também dará vida a seus corpos mortais, por meio do seu Espírito, que habita em vocês.”

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