terça-feira, 3 de julho de 2007

COMEMORANDO A VIDA

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Fotos: www.flickr.com


O nascimento é a oposição lógica que fazemos ao não-nascimento, assim como a vida é a oposição lógica que fazemos à morte. A seqüência de vida é a expectativa lógica que fazemos da continuidade do estado de não-mortos. Por isso, estar vivos representa sermos não-mortos.
As celebrações de aniversário são as oportunidades em que nos alegramos pelo fato de continuarmos vivos em meio às mais atrozes dificuldades reservadas pelas circunstâncias que nos cercam. Cada ano a mais representa um ano a mais de experiência e sobrevivência e, paralelamente, um ano a menos na breve existência humana, se tomarmos a História como parâmetro de tempo linear. Contamos progressivamente por um lado e regressivamente por outro. Antagonismos e indefinições nos fazem espelho desse tipo de ações a que nos vemos submetidos. Assim é o ser humano.
Nessa mesma trilha, lembramos de um homem que sabia que um dia havia nascido e o sabia pelo simples fato de estar vivo. Filho de uma mulher e de um pai cujos nomes não sabemos, provavelmente irmão de alguém, possivelmente marido de uma mulher e pai de alguns filhos, como costuma ser o desejo de quase todos. Homem que tinha certeza absoluta da sua vida: respirava, andava, falava e, pelo que vemos dele, pensava e refletia sobre sua situação humana, sobre sua vida.
Alguma coisa, no entanto parecia não estar bem em sua existência: como poderia ele conviver com o fato de estar vivo se o âmago de sua existência parecia faltar? A vida parecia não estar nele, mesmo estando certo de viver. Havia algo que circulava em sua mente que punha em cheque sua estrutura intelectual e a capacidade de reflexão que tinha adquirido ao longo de anos nos berços helênico e romano que comandavam a civilização em que se via submergido. Esse homem não era alguém simples, mas um mestre entre seus contemporâneos.
Conosco pode acontecer a mesma coisa por uma simples razão: a nossa habilidade em discernir vida e morte, nascimento e não-nascimento é uma capacidade limitada aos padrões humanos, ou seja às coisas que vemos apenas em nível natural. A verdade dos fatos, no entanto, vai bem além do que vemos e sentimos nesse plano. Assim como aquele homem percebeu que faltava alguma coisa que ele não sabia explicar, cada um de nós tem perguntas sem resposta nessa área, às quais cada um gostaria de ter respostas claras.

O homem de nossa história se chamava Nicodemos e sua história está em Mateus, no capítulo 3. Nos primeiros sete versos do capítulo, lemos o seguinte diálogo entre ele e Jesus, a quem ele havia procurado à noite, talvez por vergonha de seus amigos, para obter respostas mais profundas que as que já tinha naturalmente:
“Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus. Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe disse: Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo.”
Quando olhamos ao redor vemos uma clara categoria de vivos e mortos, nascidos ou não-nascidos. Os olhos e a lógica puramente humanos só alcançam o olhar humano, o que é natural. Mas o olhar sob a perspectiva de Deus nos permite saber coisas novas, diferentes e que fazem bem à alma, além de responder às mais freqüentes e profundas questões do ser humano.
É com Deus, a partir de seu olhar, que descobrimos que não somos vivos como pensamos. Descobrimos que somos não-nascidos! Apenas na estrutura humana é que somos nascidos, vivos. Olhando como Deus olha, todos já nascemos mortos em nosso berço de pecado humano. Não somos pecadores por ação pessoal, mas por ação de espécie, uma espécie que resolveu se voltar contra seu criador e eleger para si mesma um caminho que, ao invés de alegria, leva à tristeza, à amargura e ao distanciamento com o autor da vida.
Nicodemos foi sincero. Ele queria conhecer Jesus, o Filho de Deus. Ele estava encantado com o que Jesus fazia e queria mais dele. E Jesus lhe deu o único meio para isso: “você tem que nascer de novo”, disse ao intelectual palestino de cerca de 2000 anos atrás. É de dar nó. “Como nascer de novo, sendo já um adulto?” Foi a pergunta sincera e natural de Nicodemos.
O que Nicodemos descobria naquele momento é o que talvez alguns dentre nós estejamos descobrindo nesta noite, que embora pareçamos vivos, e estejamos vivos, essa realidade se dá apenas em nossa pequena e curta percepção humana. Mas quando olhamos pelo olhar de Deus, o que vemos é que estamos diante da necessidade de um nascimento novo e permanente, numa outra esfera, espiritual, distante dos conceitos desta vida passageira.
A resposta que Jesus deu a Nicodemos é a mesma que continua a dar ainda hoje: “se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. E Jesus explica diretamente que há duas formas de vida. Uma, ele chama de vida na carne; outra, de vida no espírito. Em suas palavras “O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito.”
Somos gratos diariamente a Deus por ele ter nos avisado que era preciso nascer de novo e por ele mesmo ter nos feito nascer para a nova vida nele. Todo dia é dia de comemoração. Não necessariamente com bolos e salgados, mas com palavras a quem é mais importante que presidentes e reis, o próprio Deus, que passou a viver em nós, o que só pôde acontecer por termos nascido para a glória dele.
O que precisamos para nascer de novo? Como deixaremos de ser não-vivos ou não-nascidos para Deus? Poderiam se perguntar agora alguns dos Nicodemos presentes. A resposta é simples. Tão simples que até eu e outros tantos conseguimos entender: “Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos. Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos, e toda transgressão ou desobediência recebeu justo castigo, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?”. Isso está no livro de Hebreus, capítulo 2, versos de 1 a 3.
Hoje Deus conta a todos nós que podemos ter um novo princípio de vida, uma nova vida, uma grande salvação. Um motivo para viver esta vida, a despeito do que ela possa nos reservar, e motivos abundantes para vivermos eternamente com ele.
Que Deus abençoe, dê paz e vida, a vida em abundância a você e sua casa.

Joel Theodoro

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