quarta-feira, 4 de julho de 2007

CRISTÃOS OU NÃO?

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro


I- “Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós.”(Mateus 5.10-12).Aqui temos pessoas: 1. Perseguidas por causa da justiça e não por causa de suas injustiças com base em governo eclesiástico. E àqueles apenas é prometido o reino dos céus. 2. Injuriadas e perseguidas por causa do Senhor, mesmo com o uso de mentiras, e não das que são denunciadas por desvio de conduta diante da lei. 3. Cuja razão de perseguição se compara aos profetas do passado, em cuja biografia bíblica não vemos nada semelhante a alguns casos modernos: não encontramos um só profeta do passado acusado de apropriação indevida de recursos de terceiros nem de lavagem de dinheiro. Eram infamados e perseguidos para se calarem e não sentenciarem o povo sob a justiça divina.
II- “Vede com que letras grandes vos escrevi de meu próprio punho. Todos os que querem ostentar-se na carne, esses vos constrangem a vos circuncidardes, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo.” (Gálatas 6.11-12).Por outro lado, aqui temos a advertência de que alguns fogem a uma perseguição genuína, sofrida por causa da fé cristã verdadeira (“por causa da cruz”). O que estes fazem? Pelo desejo de “ostentar-se na carne”, ou seja, pela avidez de, segundo o Aurélio “mostrar ou exibir com aparato” e mesmo “exibir-se ou mostrar-se” em tudo que é material, em que incluímos dinheiro, mansões, impérios e tudo o mais, eles chegam a criar métodos de religiosidade, constrangendo pessoas de bem que querem servir a Deus, a uma nova “circuncisão”, a elementos de legalismo e deformidade doutrinária, pois assim a manipulação pode se consolidar até atingir seus alvos carnais.
III- “Chegando, disseram-lhe: Mestre, sabemos que és verdadeiro e não te importas com quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos homens; antes, segundo a verdade, ensinas o caminho de Deus; é lícito pagar tributo a César ou não? Devemos ou não devemos pagar? Mas Jesus, percebendo-lhes a hipocrisia, respondeu: Por que me experimentais? Trazei-me um denário para que eu o veja. E eles lho trouxeram. Perguntou-lhes: De quem é esta efígie e inscrição? Responderam: De César. Disse-lhes, então, Jesus: Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. E muito se admiraram dele.” (Marcos 12.14-17). Aqui temos a clássica orientação do próprio Jesus acerca de nossas responsabilidades civis e tributárias, mesmo quando não gostamos delas. Se não houver confrontação direta entre lei humana e lei divina a primeira deve ser obedecida. Se não as apreciamos ou se as vemos como injustas, devemos trilhar o caminho da legalidade, da política organizada e dos processos judiciais, quando aplicáveis, mas jamais agir ilegalmente para findar com a injustiça. E muitos continuam se admirando hoje em dia quando a ilegalidade é condenada e quando os que a praticam, fora ou dentro de igrejas, são confrontados com ela. IV- “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação. Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência. Por esse motivo, também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo, constantemente, a este serviço. Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra. A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei.” (Romanos 13.1-8). Um texto que fala por si, de Paulo, o apóstolo, indicado e confirmado pelo próprio Senhor para tal ofício ministerial. Vale lembrar que o Estado Romano dos dias de Paulo não é exatamente o que chamamos de tolerante nem amigável para com o Evangelho, muito menos para com os cristãos. Mesmo assim, no texto, o que é o Estado, a quem muitos chamam de “braço da carne”? A Bíblia o chama “autoridades superiores” e diz que toda autoridade vem de Deus e foi por ele mesmo estabelecida no lugar em que está, ou seja, em que é instituída. Pior ainda, Paulo diz que aquele que se põe contra a autoridade resiste à ordem do próprio Deus (já que foi ele mesmo que a estabeleceu!) e, por isso mesmo, está para ver a condenação sobre si mesmo. E mais, os juízes (no texto “magistrados”) só devem ser temidos pelos que praticam o mal. A autoridade, além de tudo isso, ainda é qualificada de “ministro de Deus” para o bem de quem praticar o bem, mas, para quem fizer o mal, ela representa “espada”, ou seja, a execução da legalidade, literalmente “pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal”. Exatamente por ser a autoridade um ministro de Deus é que devemos estar a ela sujeitos (“por temos da punição” e por “dever de consciência”). E a única coisa que a Bíblia nos autoriza a dever, por saber de nossa pequenez nessa área, é o amor, com relação ao qual nenhum gesto é suficientemente pagador.
V- “Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Então, Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” (Mateus 16.16-18). Devemos nos perguntar: qual a Igreja que não será jamais derrotada diante de satanás ou do levante do inferno? A resposta está em Efésios 5.25-27: “Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito.” Isso Deus só compara à relação devida entre marido e mulher, relação profunda e completa. Essa é a Igreja do Senhor, a Igreja que não se corrompe, que não se suja, que não se amarrota na caminhada. Não trata aqui de uma comunidade isolada, mas da Igreja ampla, única, vencedora, a noiva do Cordeiro.
VI- Finalmente, o texto de Atos 5, que trata do episódio de Ananias e Safira, ensina a todos nós que a fidelidade, não a aparência é o que Deus busca. Deus não queria o dinheiro de ambos, mas queria corações verdadeiros. A mão de Deus, no seguir do texto, pesou para morte dos que se mancomunaram e de quem assentiu com a mentira. Agente e cúmplice sucumbiram. O confrontar-se com a verdade e, mesmo assim, manter-se em desvio é coisa grave aos olhos de Deus. A Igreja do Senhor em nosso país deve acordar para a realidade que cerca as suas fronteiras, realidade espiritual, mesmo enquanto vivemos enxergando apenas o que é material. Devemos nos lembrar que seria próprio dos últimos dias ver a apostasia de alguns, motivados “pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência” (1 Timóteo 4.1-2).

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