quarta-feira, 11 de julho de 2007

QUANDO A CORDA APERTA

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Fotos: http://www.flickr.com (corda) e Joel Theodoro (amanhecer)



Há uma ilustração bastante interessante que podemos achar em muitos sites cristãos e cuja autoria, diz-se sempre, é desconhecida. É assim:
“Após um naufrágio, o único sobrevivente agradeceu a Deus por estar vivo e ter conseguido se agarrar a parte dos destroços para ficar boiando. Este único sobrevivente foi parar em uma pequena ilha desabitada e fora de qualquer rota de navegação, e ele agradeceu novamente. Com muita dificuldade e restos dos destroços, ele conseguiu montar um pequeno abrigo para que pudesse se proteger do sol, da chuva e de animais e para guardar seus poucos pertences, e como sempre agradeceu a Deus. Nos dias seguintes, a cada alimento que conseguia caçar ou colher, ele agradecia...
No entanto, um dia, quando voltava da busca por alimentos, ele encontrou o seu abrigo em chamas, envolto em altas nuvens de fumaça. Terrivelmente desesperado ele se revoltou... gritava chorando:
“O pior aconteceu ! Perdi tudo! Deus, por que fizeste isso comigo?”
Chorou tanto, que adormeceu, profundamente cansado...
No dia seguinte bem cedinho, foi despertado pelo som de um navio que se aproximava.
- “Viemos resgatá-lo” -- disseram.
- “Como souberam que eu estava aqui?” - perguntou ele.
- “Nós vimos o seu sinal de fumaça!”
É comum nos sentirmos desencorajados e até desesperados quando as coisas vão mal. Mas Deus age em nosso benefício, mesmo nos momentos de dor e sofrimento. Lembrem-se: se algum dia o seu único abrigo estiver em chamas, esse pode ser o sinal de fumaça que fará chegar até você a Graça Divina.”

O que me chamou a atenção é que é recorrente em nossos corações o nos perguntarmos sistematicamente os porquês de nossas angústias, nossos dissabores e nossos problemas, muitas vezes tentando, inclusive e sinceramente, achar em nós mesmos as razões pelas quais sofremos. É bem verdade que muitas vezes erramos e que nossos erros freqüentemente nos levam a problemas sérios em nossas vida. No entanto, nem sempre temos problemas porque erramos, mas os temos simplesmente por estarmos vivos e sermos passíveis de enfrentar aquilo que vem sobre nós, sejamos bons ou maus, ricos ou pobres, bonitos ou feios, cristãos sinceros ou não.
Os momentos difíceis são quase insuportáveis para todos nós. Nossa vida se contrai e nossos sentimentos nos amargam os dias. Mas é também verdade conhecida de todos que todos nós já os vivemos e ainda os viveremos enquanto estivermos vivos. Não é uma fatalidade: é uma realidade objetiva.
Esses são os momentos em que parece que uma corda ao nosso redor está apertada e bem segura. Sentimo-nos presos pelas circunstâncias que nos envolvem de tal forma que não divisamos saída. Será que há algo a refletir sobre nossos momentos de crise, quando a corda está assim tão apertada? Nossa única saída é olhar para cima, para Deus, cuja Palavra não só nos adverte e ensina, mas nos orienta de maneira muito especial a respeito de nossa existência e dos momentos que viriam sobre nós.

Geralmente tendemos a pensar que há motivos ponderáveis que possam ser levantados e que possam nos explicar os momentos e as agruras que enfrentamos. E via de regra achamos que sempre foram coisas que fizemos as que nos levam ao sofrimento. Pensamos sempre num processo de troca de méritos: “errei, sou punido; acertei, sou abençoado”.
Como cristãos, o que primeiro passa pela cabeça é uma busca por pecados cometidos que possam explicar momentos mais difíceis pelos quais passamos. Começamos a procurar em nós até o que não fizemos. Vejamos que a Bíblia nos orienta a constantemente sondarmos nossos corações em busca de acertos, mas nem sempre as coisas más nos sobrevêm por causa disso. Não nos esqueçamos que a mesma Bíblia diz que tanto sol quanto chuva caem sobre justos e injustos, o que podemos ler em Mateus 5.45.
Às vezes não chegamos a pensar em pecado, mas em erros mais acentuados que possam ter nos gerado alguma forma de punição. Isso pode realmente acontecer, mas nem sempre será dessa forma. Aliás, é bom lembrarmos do caso de Jó, que era homem irrepreensível, íntegro, temente ao Senhor e que evitava o mal, e que, mesmo assim, foi duramente provado em sua existência. O relato está em Jó 1.8 e as palavras acima saíram da boca de ninguém menos que o próprio Deus.
Por último, das coisas mais comuns que passam por nossa cabeça, há algo parecido com “não fiz a vontade de Deus, por isso estou sendo punido”. Para isso devemos nos perguntar sempre também: José foi parar na prisão, Davi precisou fugir de Saul, Daniel acabou na cova dos leões e Paulo foi martirizado tantas vezes por não estarem fazendo a vontade de Deus? É verdade que muitas vezes erramos feio por não atendermos ao chamado de Deus, mas isso não pode servir simploriamente de explicação para fatos dessa magnitude.
Não podemos explicar os apertos da vida apenas pelo que vemos, mas precisamos compreender duas importantes coisas para nós, filhos de Deus: as dificuldades são didáticas e elas serão utilizadas para o nosso bem.

Foi exatamente assim que li o texto que está em Romanos 8, dos versículos 28 a 39. Com base nele, e para esta reflexão, podemos entender as seguintes verdades de Deus para nós:
Para o nosso bem. Deus age em tudo para o nosso bem (versículo 28). Isso quer dizer que em todos os momentos e em todas as circunstâncias, sejam boas ou más, o Senhor estará a nosso favor. Ele não nos trata como indigentes desprezados, mas como filhos amados. Não quaisquer filhos, não quaisquer adotados, mas aqueles que ele mesmo quis para si. Para nós, que o amamos e que fomos chamados em conformidade com o propósito dele mesmo, estão reservados cuidados mais que especiais do Senhor e, segundo a sua palavra, tudo será voltado para o nosso bem.
Não seremos vencidos. Em seguida, entendemos que as dificuldades podem ser imensas e muito aterradoras, mas lemos que ninguém poderá será vencedor sobre nós (versículo 31). A resposta vem na seqüência, quando nos é dito que o próprio Deus é quem nos defende.
Defendidos por Deus. O mesmo Deus que se mostra nosso defensor nos explica que nem acusação e nem condenação contra nós serão aceitos (versículos 33 e 34). Quais as razões para isso? Ora, a defesa contra os ataques e as tentativas de derrota vem do próprio Senhor, da seguinte maneira: o Pai, o próprio Deus eterno, nos justifica e o Filho, o Senhor Jesus Cristo em pessoa se põe como nosso advogado e intercessor.
Ligados ao amor de Cristo. Outra realidade é que nada, quer seja no mundo material (versículo 35), quer seja no mundo espiritual (versículos 38 e 39), poderá nos afastar do amor de Cristo. Ora, essa é uma promessa incrivelmente confortadora para nossas vidas. Nossos temores se esvaem quando sabemos que mesmo as dificuldades e circunstâncias adversas são cobertas pelo amor de Cristo.
Totalmente vencedores. Ora, a finalização de tudo é a realidade que nos é proposta por Deus: sermos mais que vencedores (versículo 37), não por nós mesmos nem por nossos méritos, mas em Cristo Jesus, nosso Senhor. Ora, como poderemos continuar nos sentindo derrotados pelo que nos cerca se temos tamanha promessa de vitória?
O que vemos é que a palavra de Deus nos traz esperança para passarmos bem pelo meio da tempestade e chegarmos sãos e salvos do outro lado. Melhores e mais experientes, poderemos viver mais para a glória de Deus.


Aprendemos as seguintes coisas para quando a corda apertar: precisamos realmente sondar nossa vida, mas não podemos sempre achar que o que passamos é motivado por nossas falhas pessoais, caso contrário, todos estaríamos mortos! Precisamos tomar uma decisão: servir a Deus, haja o que houver. Engajar-se na obra de Deus é um privilégio e um verdadeiro refrigério para os momentos difíceis, mas não por temor de castigos; antes, devemos fazê-lo por amor a ele e sua obra. Finalmente, é preciso confiar no amor de Deus e saber que as tempestades passam e que, depois delas, a calmaria chega, como nos diz o Salmo 30, versículo 5: “o choro pode persistir uma noite, mas de manhã irrompe a alegria”

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