segunda-feira, 17 de setembro de 2007

A CONDIÇÃO HUMANA II - ONDE EU ESTOU?

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Fotos: http://www.flickr.com


Há poucos dias começamos a pensar juntos sobre a condição humana. É claro que não temos por intenção aprofundar a questão como um todo, pois sabemos que pensadores dos mais brilhantes têm discorrido sobre o tema há muitos e muitos séculos e não seríamos nós, em poucas linhas, que resolveríamos de uma vez por todas a questão. Não, nossa iniciativa se direciona a apenas um dos pontos possíveis de reflexão e, mesmo nesse caso, sabemos que ainda haveria muito a se levantar e sobre o que pensar.
Nosso pressuposto é que a Bíblia é a única expressão da palavra de Deus compreensível a nós, humanos. Partimos também do ponto de vista que a verdade expressa nas páginas da Bíblia é a verdade absoluta e sobre ela não há questionamento ou sombra de especulação duvidosa, embora aceitemos interpretações variadas possíveis para eventos não fundamentais ou não centrais da revelação divina ao homem.
Continuamos, portanto, a pensar sobre a condição humana como nosso tema central, sempre tendo em mente as perguntas básicas que nós, humanos, nos fazemos desde sempre: De onde eu vim? Onde eu estou? Para onde eu vou?
Como vimos anteriormente, na reflexão sobre “de onde eu vim?”, que as perguntas em pauta são recorrentes na mente humana, pela relação que há entre ele e sua realidade histórica situada no espaço e no tempo.
Temos visto também que Deus não nos rejeita, nem às nossas questões. Ele nos conhece e nos entendo, tendo ele mesmo nos feito, e desta forma como somos. Podemos inquirir e perguntar às páginas sagradas aquilo que povoa nossas mentes como necessidade de respostas.
Nesta segunda parte de nossos pensamentos, a nossa pergunta anda um pouco na História humana. Anda também em relação à nossa história pessoal e individual, já que, mais maduros, precisamos entender mais de nós, principalmente se nos aproximamos do inevitável caminho que nos leva a outras esferas, as que se seguem a esta nossa fugaz existência. Onde eu estou? A primeira reação, como vimos anteriormente, ao respondermos à primeira questão - de onde eu vim? - é prepararmos uma resposta física, quase geográfica, meio étnica. Mas a resposta mais importante está antes disso: está na razão de ser de estarmos com Deus.
Nossa resposta, com base na Bíblia, nos revela ser mais importante descobrirmos em quem eu estou acima de quaisquer outros pensamentos. Como vimos antes, sei que vim das mãos de um Deus que me fez à sua imagem e semelhança e que me amou em todas as circunstâncias, boas e más. Onde eu estou, então?
Nossa reflexão de agora vai dos capítulos 4 a 9 de Gênesis, em seqüência ao primeiro trecho analisado. Com base nesse texto, entendemos algumas coisas que nos ajudam a perceber onde é que estamos agora, no atual curso de nossa vida. Começamos a ver que a resposta pode ser construída de forma a que eu diga que eu estou escondido num Deus que me esconde, num Deus que me abriga. O maior símbolo disso nos capítulos lidos é a própria narrativa da arca e o que ela significou para as pessoas que Deus livrou da morte bem em meio ao caos estabelecido. Para a resposta acima, no entanto, há 4 desmembramentos. O primeiro me diz que eu estou escondido num Deus que guarda a minha alma do homem mau, mesmo que ele seja um falso irmão. Nos primeiros 11 versos do capítulo 4 podemos ler a instigante e triste narrativa da morte de Abel, assassinado pelo próprio irmão, Caim. Vejamos que o primeiro homicídio narrado na Bíblia, além da hediondez natural de um assassinato, carrega sobre si o pejo maior de ter sido um fratricídio. Numa leitura inicial, seria difícil perceber o que poderia ser tão bom, sob a ótica de Abel. Mas o fato é que Deus sempre demonstra preocupação maior com o nosso íntimo que com o nosso exterior. Abel, mesmo morto, continua sendo tido por ele como o que lhe agradou por seus gestos sacrificiais. Muitas vezes quererão o nosso sangue simplesmente porque agradamos a Deus, o que não deve servir de desalento, mas de encorajamento.
Depois, segue-se o fato de que eu estou escondido num Deus que me guarda da humanidade perversa, como posso ler em 6.5. Ora, como lemos ali, o pensamento natural humano nos leva sempre e somente para o mal. Não apenas “sempre”, nem apenas “somente”, mas “sempre e somente”, o que tira de nós a possibilidade de ver na humanidade natural alguma chance de me fazer o bem que somente Deus pode fazer. Isso me deixa totalmente dependente da guarda de Deus com relação a essa humanidade sempre e somente perversa e que, certamente, quererá meu mal.
Como terceiro ponto, posso entender que eu estou escondido num Deus que é o verdadeiro abrigo, como a arca no dilúvio. Assim como Noé foi salvo naquela ocasião, assim também os filhos de Deus são hoje preservados nesse verdadeiro abrigo. Mesmo em meio aos mais difíceis episódios que a vida nos preparar, ao nos perguntarmos sobre nosso paradeiro atual, poderemos responder sem dúvida alguma que estamos refugiados em Deus, escondidos nele, único abrigo possível para as mais escuras e densas tempestades que nos venham a assolar. Ele é o abrigo seguro para minha alma descansar dos sobressaltos da vida e da própria fé.
Finalmente, neste ponto, posso afirmar que eu estou escondido num Deus que zela por mim e por minha família. Deus não se preocupou apenas com Noé, a quem escolheu, mas lemos as seguintes palavras de Deus: “com você estabelecerei a minha aliança, e você entrará na arca com seus filhos, sua mulher e as mulheres de seus filhos” (6.18). Ora, o que isso representa? Isso quer nos dizer que ao filho de Deus é dado o privilégio de estender sua aliança pelas gerações vindouras.
Entendemos que não há razão lógica para a nossa preservação, para o fato de estarmos escondidos num Deus como é o nosso Deus. Nossa mente natural não alcança nem o fato de sermos pecadores, já que tentamos imputar a nós mesmos uma justiça baseada em obras vãs, como se a operosidade diária fosse condição primária de nossa salvação futura e eterna. Tampouco entendemos corretamente o fato de sermos alcançados eterna e graciosamente pelo Pai.
Estamos escondidos em Deus e isso nos basta. Essa é a razão de nossa sobrevida espiritual e de estarmos “navegando” para a eternidade com Deus.
Deus, como vimos, tornou possível a nossa sobrevivência espiritual a partir de suas motivações tornadas práticas em seu ato soberano. Mas será que havia algo por detrás de tudo, servindo como elo motivacional para Deus me guardar da maneira que o fez?
Posso dizer que sim. Deus resolveu me guardar, assim como resolveu antes me fazer e me amar. Por que? Quais suas razões e motivações?
Primeiramente, Deus resolveu me esconder nele porque ele demonstrou benevolência para comigo. Ele fez o mesmo com Noé, pelo qual demonstrou benevolência estando ele perdido em meio ao caos espiritual em que se via mergulhada a humanidade. Não há muita explicação do motivo de Deus haver escolhido Noé. Lendo 6.8 vemos que Deus foi soberano nesse tipo de escolha.
Depois, ele resolveu me esconder nele porque eu ando com Deus (9.9). Mas há algo mais a pensarmos neste ponto: Noé ( e eu, pela analogia que fazemos), somente andava com Deus porque Deus tinha tido benevolência para com ele (bem como para comigo). Isso me ensina que eu só posso andar com Deus porque ele me chamou a andar com ele. Jamais poderia fazê-lo por minha própria iniciativa. Isso me faz descansar nele e em suas promessas, pois meu esconderijo, na verdade, me escondeu em si muito antes de eu o descobrir.
Por último, Deus resolveu me esconder nele porque me levou ao lugar da aliança eterna com ele. No capítulo 9, versículo 9, lemos “Vou estabelecer a minha aliança com vocês e com os seus futuros descendentes”. Sabemos que Deus vê a família com olhos especiais. Sabemos que ao prover o esconderijo, a arca, para Noé, Deus o fez também para sua família. Mas aqui vemos que ele não quis apenas salvá-los, mas quis que eles se tornassem parte de uma aliança superior, algo especial que Deus estava propondo ao homem naquele instante.
O que poderíamos esperar como resposta para esta segunda pergunta, partindo de pressupostos tais como os da resposta à primeira pergunta? Creio que a melhor resposta para a pergunta “onde eu estou?” consiste em descansar na resposta que a própria Bíblia nos dá: eu estou em Deus. Diretamente em Deus. Estou guardado em Deus eternamente, juntamente com minha família, estou escondido nele e jamais serei arrebatado de suas mãos, pois eu não me escondi furtivamente sob sua proteção, mas fui chamado por ele a me esconder no abrigo que ele mesmo providenciou para mim. Saber que eu estou em Deus deve mexer comigo. Deve ser capaz de me fazer diferente do que sou.
De posse dessa resposta, o que devo fazer então? E aqui vai a minha sugestão para que você tome algumas decisões: aceite o fato de estar escondido em Deus, e nele ser salvo de todo mal; desperte sua alegria por tão grande privilégio; tenha em mente que há muitos outros que precisam descobrir isso e entrar no mesmo processo de guarda da parte de Deus, para os quais você pode ser um anunciador da parte de Deus.

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