quarta-feira, 1 de junho de 2011

A IGREJA E O HOMOSSEXUALISMO - Parte 1 de 4

Joel Theodoro é pastor presbiteriano no Rio de Janeiro
Imagens: http://www.flickr.com/


De volta após um silêncio...

Para não ser por demais enfadonho, resolvi fazer a publicação deste texto em quatro partes, dividindo o conteúdo e facilitando a leitura. Será assim, se Deus o permitir:

Parte 1: Introdução e Fé e Sexualidade
Parte 2: Interpretação e Cosmovisão
Parte 3: Paulo aos Romanos
Parte 4: Resistência e Dicas de Leitura

Vamos lá, então.
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Introdução

Como todos os aspectos do comportamento humano, o tema homossexualismo não é de fácil trato. Ao longo deste breve texto, vamos nos ater a alguns pontos principais, a fim de não fugir de nossa capacidade de reflexão, que é a que perpassa o contexto bíblico com aspectos teológicos reformados. Os demais pontos, quer sejam biológicos, jurídicos, antropológicos ou mesmo sociológicos, se mencionados, apenas farão parte da ilustração textual.

Até há bem pouco tempo atrás a questão do homossexualismo costumava ser tratada em círculos reservados, por pesquisadores ou teólogos interessados em compreender o fenômeno e, assim, auxiliar seres humanos que de alguma forma fossem afetados por comportamentos diferentes dos mais comuns. Ao longo da História humana, os relatos de homossexualismo são ancestrais, remontando a períodos anteriores à escrita, em que inscrições e ilustrações rupestres já mostravam relações homoafetivas. Atualmente, a sociedade em geral – não apenas no Brasil, mas em todo o Ocidente e em parte do Oriente – força a Igreja a se manifestar de maneira mais direta a respeito do tema, resgatando o mesmo e comparando-o às suas convicções de fé.

No meio cristão sempre houve unanimidade em relacionar a prática homossexual ao pecado, mas de algum tempo para cá, principalmente após a segunda metade do século XIX, no meio cristão tem-se iniciado um processo de aproximação com as causas homossexuais e com a aceitação de suas práticas. Em termos gerais, tais cristãos se concentram nas esferas liberais da teologia, seja protestante (Teologia Liberal), seja católica (Teologia da Libertação). Essas correntes tendem a relativizar os conceitos doutrinários mais aceitos e centrados no Bíblia.

Por esses motivos, devemos compreender que a crise que envolve o tema entrou na Igreja e exige que ela se posicione à luz de sua experiência de relacionamento social e sobre sua certeza de fé. Nenhuma religião, menos ainda a cristã, deve ser forçada a abrir mão de suas crenças por causa das mudanças que a sociedade ao seu redor sofra com o tempo. Mas todas as religiões, a cristã acima de todas, deve estar apta a respeitar as decisões dos grupos sociais que as cercam, atentando sempre para os direitos individuais, bem como para a preservação de sua própria integridade. Ou seja, devemos manter total respeito, enquanto exigimos total respeito também.

Este breve estudo pretende ser elucidador, porém não é exaustivo. Volta-se para cristãos brasileiros do início da segunda década do século XXI.

Fé e Sexualidade

Como nos diz Peter Jones[1] “Você quer conquistar uma civilização? Mude as ideias a respeito da sexualidade”. O que temos visto de algumas décadas para cá é uma verdadeira migração de conceitos a partir da qual a sociedade tem sido conquistada e cujo cominho tem sido a sexualidade. Aquilo que conhecemos por imoralidade tem se tornado o apelo normal da sociedade de consumo e muitos dos fatos relacionados a isso sequer percebemos mais. Uma boa ilustração está no filme “A Jornada”[2], que narra as aventuras de um professor de seminário que está prestes a editar uma tese com pressupostos liberais. Muita coisa acontece e esse homem é mandado, por uma máquina do tempo, aos nossos dias. Aqui e agora ele vê na prática aquilo que ele achava coerente em seus dias e simplesmente não entende como nos dizemos cristãos vivendo como vivemos hoje em dia. O filme nos apresenta algo da nossa perspectiva de sexualidade como a entendemos hoje.

Fé e sexualidade estão intimamente ligadas. Como bem sabemos, a Bíblia nos mostra vários exemplos em que cultos com prostituição cultual e práticas sexuais com efeitos religiosos eram realizados. Alguns textos da Bíblia sobre isso estão em Gn 38.21; 1Rs 14.24; 2Rs 23.7. Da mesma forma, os tempos do Novo Testamento são repletos de relatos de cultos à fertilidade e felicidade dirigidos a divindades mais conhecidas nossas por causa das culturas helênica e romana. Muitas vezes quando lemos termos em português como “adultério”, “prostituição”, “imoralidade”, etc., estamos lendo termos originalmente relacionados à prática do sexo com fins religiosos. Nesses ambientes há narrativas de orgias coletivas, práticas abertas de incestos, de sodomia e de pedofilia, dentre outras alternativas à sexualidade natural. Algumas igrejas precisaram ser orientadas de modo mais direto pelos pastores daqueles dias, como se deu com as igrejas de Corinto, da Galácia, de Éfeso, etc.

Exatamente por ser algo que está ligado ao conceito de fé, precisamos entender que a fé cristã é atacada cada vez que seus pilares são questionados. Um dos pilares mais essenciais de nossa fé é a confiança total em que a obra de Deus é boa, sustentada por Ele, totalmente dependente dele e que, por Sua vontade soberana, Ele a estabeleceu com base em elementos de regência e equilíbrio. Os papeis de homens e mulheres fazem parte desse equilíbrio, em que fomos dotados de semelhanças profundas, porém de diferenças que nos completam. A gestão familiar e eclesiástica são exemplos de papeis masculinos, enquanto outras obras, como a maternidade, são papeis femininos. A partir do que chamamos de revolução sexual, dos anos 50-60, a busca pelo reconhecimento das condições de igualdade da mulher extrapolaram as questões de cidadania (direito a votar e ser votada, igualdade de ganho para as mesmas funções masculinas, por exemplo) e migraram em direção a papeis exclusivamente masculinos. Por que os homens são melhores? Não! Porque assim Deus nos capacitou e ordenou! Ultimamente, homens também se sentem no direito a almejar papeis exclusivamente femininos, como o do direito à maternidade.

Voltando a Jones, a atual situação em que nos encontramos, falando de sexualidade, começou em tempos antigos, quando o conceito de patriarcado foi questionado e deliberadamente combatido. Para reforçar essa ideia, ele cita Virginia Mollenkot, uma autora denominada cristã, mas aberta defensora do homossexualismo e da simbiose do cristianismo com a bruxaria. Diz ela, citada por Jones: “a heterossexualidade obrigatória é a espinha dorsal que mantém o patriarcado em pé”. E completa dizendo que a “homossexualidade quebrará essa espinha”. Para pessoas como ela, Kate Millet, Naomi Goldenberg, Elinor Gadon, Ruether e outras, vale a ideia que o homossexualismo feminino e, por inferência, o masculino, funcionam como força libertária que leva esses indivíduos a uma vida autônoma. Todas essas mulheres e os defensores de seus ideais são também defensores de cultos mágicos, à natureza e a divindades orientais. Com isso confirmamos a posição de que fé e sexualidade estão sempre de mãos dadas: a prática sexual avessa às Escrituras (fé cristã) é, na verdade, uma oposição à Palavra de Deus na mesma proporção em que se aproxima de outras vertentes de fé. Ou seja: não há inocência, mas uma luta do paganismo contra o cristianismo. Alguns pensadores cristãos renomados estão perigosamente próximos a essas vertentes, como Stanley J. Grenz e Roger E. Olson em uma obra de Teologia Sistemática publicada pela Intervarsity Press, que veem na teologia feminista uma luz para a Igreja na pós-modernidade. Alguns seminários teológicos, por exemplo, tratam Deus como Pai-Mãe, destacando suas características femininas. Para mais informações sobre o assunto, recomendo outra obra do mesmo autor, principalmente o capítulo 4, cujo título é “Homossexualidade: o sacramento sexual do paganismo religioso”, à página 63.

A tese final é trazer a sexualidade ao mesmo patamar da religião totalmente sincrética ou ecumênica: todas se aproximam, tornam-se totalmente tolerantes, passam a ser colaborativas e, depois, perdem suas identidades por simbiose. No caso da sexualidade, isso se chamará androginia humana. Para isso, a referência de sexualidade humana precisa ser totalmente desconstruída para ser reconstruída em novas bases, as do paganismo sem qualquer sombra de influência do cristianismo. O novo ser humano andrógino, nesse ponto, não terá mais qualquer referenciamento a Deus, o Pai, pois a paternidade será totalmente rejeitada como fruto de um patriarcado heterossexual repulsivo.

[1] (JONES, 2002)
[2] (A Jornada, 2002, COMEV)

3 comentários:

  1. Olá Joel!

    Saudades dos posts! Bom ler o que chega por aqui. Texto claro e firme, como sempre, e com a rédea curta! (e olha só eu, podendo falar muito... hahaha)

    Abraço!

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  2. Obrigado, Opaleiro Louco. Sempre fiel à leitura de nossos posts. Suas ponderações empre nos empolgam a continuar escrevendo. Fique com Deus.

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  3. Chegou por e-mail:

    Olá Pr. Joel,
    Obrigado por nos enviar estes tão profundos e ricos comentários sobre a Igreja Cristã neste século. Tenho desfrutado muito!!!!!
    Anjinha

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