sábado, 4 de junho de 2011

A IGREJA E O HOMOSSEXUALISMO - Parte 2 de 4

Joel Theodoro é pastor presbiteriano no Rio de Janeiro

Continuando...

Aos que não acessarama a primeira parte, este texto em quatro porções:

Parte 1: Introdução e Fé e Sexualidade
Parte 2: Interpretação e Cosmovisão
Parte 3: Paulo aos Romanos
Parte 4: Resistência e Dicas de Leitura
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Interpretação e Cosmovisão

Usando as palavras de Mohler[4], temos visto uma “hermenêutica da legitimação”, pela qual se tenta construir uma mentalidade cristã que duvide das afirmativas bíblicas a partir de novas interpretações de fatos até poucas décadas considerados de forma axiomática. Nessa tentativa, surge um conceito pelo qual passagens como Gn 19, Lv 18.22, Lv 20.13 são explicados não como sendo atos homoafetivos, mas como estupros homossexuais. Nesse caso, para os defensores desse princípio, o que se condena é a violência e não o possível ato consentido. Para Rm 1.26,27, a explicação é um pouco diferente: Paulo, por desconhecer a possibilidade de uma relação sincera homoafetiva, condena a relação homossexual entre heterossexuais. Assim, dizem eles, o heterossexualismo patriarcal, que fere o sentimento humano, deve ser banido da Igreja contemporânea.
Esse tipo de pensamento gera muita confusão na Igreja e apela para um constante revisionismo da Teologia e da Eclesiologia, encontrando forte eco entre as denominações mais históricas e acostumadas e refletir com mais aprofundamento e liberdade. Como endosso extrabíblico aos esforços revisionistas encontramos uma série de artifícios e sofismas que se utilizam acima de tudo de pretensas descobertas da ciência para questionar a Bíblia, que, para eles, não passa de uma coletânea de textos que narra a saga de fé dos judeus, com seus exageros e mitos. Os cristãos teriam se apropriado disso e evoluído até o que chamamos de Igreja, que não é extática, mas que precisa estar em movimento contínuo. Nesse bojo estão as revisões de interpretação com respeito à sexualidade humana.
Muitos desses pensadores percebem em Paulo, por exemplo, que seus escritos a respeito de sexualidade estão de alguma forma ligados à hierarquia humana e cultual e, por isso mesmo, fazem uma correlação entre hierarquia, poder, dominação e sexualidade. Segundo eles, o que vai de encontro às ideias do tópico anterior, se a base de sexualidade for “liberta”, a dominação, o poder e a hierarquia também serão revistos.
O que leva essa discussão adiante na sociedade moderna é o conceito de “orientação sexual”, pelo qual a pessoa é livre para escolher por qual sexo sofrerá atração, em que medida a sentirá, ou se terá atração por ambos os sexos. Para essas pessoas, isso equivale a ser livre e autônomo. Os conceitos filosóficos de liberdade e autonomia não serão tratados neste texto, mas deveriam ser visitados por leitores mais interessados em suas possibilidades de definição e argumentação. Essas ideias nos prendem ao princípio de que os homossexuais fazem o que eles são de verdade. De onde vem essa informação, então? De um mito moderno que coloca tudo que se quer tornar incontestável dentro de um esboço do que é “cientificamente comprovado”.
Quando as pessoas utilizam essa expressão, elas dizem quase de forma sacerdotal que aquela é uma verdade inquestionável, mesmo que eu diga em paralelo que não há mais verdades inquestionáveis. Mais uma vez o paradigma do conceito de religiosidade se aproxima dos fatos da sexualidade humana. A orientação sexual é algo tido por inequívoco e é algo inato, do qual a pessoa não pode se afastar. Isso não é apenas uma questão de gosto ou preferência, mas de orientação inata. Vale ressaltar que essa fala dos movimentos homossexuais é constantemente desfeita por cientistas mais sérios que dizem haver indícios, mas que não demonstram elementos comprobatórios. Este é um clássico caso no qual a hipótese precede a prova científica e, em dado momento, abre-se mão das comprovações para se definir a hipótese como prova em si mesma (como no caso da Teoria da Evolução).
Para isso, respondemos com nossa cosmovisão cristã clássica, em que sabemos que a Palavra e os conceitos de Deus não se submetem às interrogações ou às perspectivas científicas, mas Deus é soberano diante da Sua criação. O que entendemos por sexo e moral não está ligado à ciência ou aos seus subprodutos, mas exclusivamente à Palavra de Deus e suas orientações para Seus filhos. A resistência a qualquer tentação homossexual, nesse caso, deve ser da mesma intensidade que a resistência à tentação heterossexual. Nossa cosmovisão nos extrai do conceito terapêutico e nos remete ao conceito bíblico: para tratar de pecado, recorremos à Bíblia e não a manuais humanos.
A arma pagã é o estabelecimento de incertezas em oposição às certezas de fé. Sugiro a leitura de “A guerra pela verdade”[5], que trata não especificamente do assunto homossexualismo, mas da base de nossa fé, de nossas certezas, e como defendê-las em tempos de ataques abertos como os que temos sofrido ultimamente.

[4] (MOHLER JR, 2009)
[5] (MACARTHUR JR, 2010)

2 comentários:

  1. Marco Antonio ( Marcao)5 de junho de 2011 às 15:14

    PASTOR,COMO E IMPORTANTE SUA COLABORACAO PARA A EDIFICACAO DE UMA COSMOVISAO CRISTA SADIA OBVIAMENTE FUNDAMENTADA NA PALAVRA DE DEUS.Infelismente a igraja dos nossos dias rechaca a apologia da fe crista fundamentada na racionalidade .A fe para esta igreja e incompativel coma rezao .Como fazer para desconstruir as cosmovisoes tao presentes em nossos dias ,como por exemplo, o relativismo moral que o pos modernismo nos apresenta como uma boa opcao de vida ?A igreja esta perdida sem ferramentas intelictuais para a apresentacao de uma verdade que abranja toda a realidade .Se o Cristianismo e a Verdade ele deve necessariamente ser a verdade em tudo !A questao do homosexualismo deve obviamente ser tratado primeiramente com base numa cosmovisao coerente sobre a verdade da revelacao bilblica .Uma argumentacao baseada na razao e nao um discurso fundamentalista que nao faz nehum sentido para a sociedade pos-moderna dos nossos dias !Isto de forma alguma anula a Fe que somente os filhos de Deus possuem.Pelo contrario, a estabelece, pois ela tambem e fundamentada em um Deus todo coerente e pefeito criador de toda realidade .Parabens pelo blog.

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  2. Obrigado, Marcão. Sua participação é extremamente edificante e importante. De fato, desde há muito nós, cristãos, temos nos afastado da simples busca por olhar o mundo com olhos de cristãos comprometidos com a verdade. Precisamos voltar aos pensamentos básicos de nossa fé e de nossos pais na fé. Jonathan Edwards, congregacional puritano do século XVIII, disse (desculpe a tradução livre): "A felicidade da criatura consiste na alegria em Deus, pela qual também Deus é engrandecido e exaltado". Não é isso que temos perdido? O homem natural tenta ser feliz SEM Deus. E jamais o conseguirá!

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