quarta-feira, 24 de agosto de 2011

QUANDO NADA É MUITA COISA

Joel Theodoro é pastor presbiteriano no Rio de Janeiro
Imagens: www.flickr.com

De vez em quando nos deparamos com situações em que pessoas resolvem entrar em guerra por coisa alguma, fazendo de sua vida uma desgraça verdadeira como se aquilo pelo que lutam fosse um pote de ouro. A coisa é séria!

Toda vez que vejo isso acontecer perto de mim eu me lembro de Cândido, do Voltaire. Um lugar edênico em forma de castelo que não valia coisa alguma, mas que era, para o jovem Cândido, o mais maravilhoso de todos os lugares. Um quase-filósofo, Pangloss, metido a filósofo, que não passava de uma caricatura de pensador. A mais bela de todas as musas, Cunegondes, descobre-se depois, era feia por fora e por dentro, embora Cândido continuasse a percebê-la de forma especial.

No meio da jornada do infeliz Cândido, o mais otimista de todos os infelizes, há castigos, chicotadas, guerras, desgraças, Eldorados perdidos e um monte de outras coisas fantásticas brotadas de imaginação crítica de Voltaire.

Pois bem, é dos modernos Cândidos que falo: gente que se agarra a nada com a gana de quem achou seu Eldorado. Muitos fazem isso à custa de muita dor, de muita confusão e, pior ainda, de muita decepção alheia. Quando isso acontece na igreja, ainda mais triste é a história toda.

Para muitos a pequena paróquia é a o seu castelo do qual jamais quererá partir, como Cândido tampouco queria deixar o seu castelo onírico. O mundo, se sair dali, perde sentido, cai, desmorona e desaparece. Adoecem os Cândidos e perdem o rumo da vida. Por que? Porque sua razão de vida era um castelo que não é seu, mas que se apossa dele como se o fosse. Porque sua vida fora dali não tem sentido, e por isso se agarra para ficar. Porque a vida lá fora é estranha e perigosa, cheia de desafios e desatinos: logo, precisa ficar à sombra da proteção pretendida. Com isso perde-se a chance de crescer. Perde-se a possibilidade de alcançar o que está logo ali e não se alcança porque a acomodação bateu ao coração.

Em termos de vida, bem como em termos de igreja, não podemos viver como se o nada fosse muita coisa, mas precisamos crescer para que qualquer coisa, com Deus e com o equilíbrio de nossa vida, ganhe muito sentido. Precisamos fazer do pouco algo com sentido, mas o nosso tudo só pode residir na pessoa de Deus. Fora isso, coisas importantes passarão diante de nós, todas sem sentido, se Deus ali não estiver. Precisamos pensar mais nisso e deixar de fazer do nada um quase tudo para nossa vida.

Que o nosso castelo não seja um monte de ruínas enquanto sonhamos com um palácio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário