domingo, 5 de agosto de 2007

A RECONSTRUÇÃO DA NOSSA VIDA EM CRISTO - PARTE 1

Texto de Joel Theodoro,
pastor no Rio de Janeiro
Fotos: http://www.flickr.com



Não sei se todos se lembram , mas nos anos 80 e 90 havia por toda parte uma verdadeira febre de se aprender e aplicar tudo que fosse relacionado aos princípios de Controle Total de Qualidade ou Total Quality Control, o TQC. Quem não soubesse do que se tratava, simplesmente estava fora de moda, fora do mercado e fora de quaisquer conceitos avançados de gestão e busca por perfeição administrativa.
Pois bem, eu trabalhava numa empresa de aviação comercial naqueles tempos. Eram tempos melhores, com menos empresas, mais carinho no ar e menos tombos ao chão. Ainda era um sonho voar, fosse como passageiro, fosse como tripulante, que era o meu caso. Os pesadelos da aviação comercial ainda estavam por vir no Brasil.
Sendo parte do staff de treinamento e reciclagem de tripulantes, vi-me na situação de ter que aprender os conceitos básicos da Qualidade Total para me tornar um palestrante interno do processo que se pretendia implantar na companhia. Aí vem minhas lembranças que me servem de ilustração para esta reflexão, pois duas delas eram recorrentes e presentes em quase todas as palestras. Lacrimogêneas, emotivas e cheias de significados a serem utilizados, eram apresentadas por nós nos então modernos vídeo-cassetes de 4 cabeças auto-limpantes. São assim as estórias:
A estrela do mar

É a narrativa que fala de uma praia num belo amanhecer, na qual havia centenas - talvez milhares - de estrelas do mar que haviam sido lançadas na areia pelo mar. Uma pessoa que vem ao longe divisa uma outra pessoa fazendo algo e resolve se aproximar. Ao chegar, percebe o que aquela fazia: pegava as estrelas, uma a uma, e as lançava de volta ao mar. O interlocutor diz então: “o que está fazendo?” ao que o outro lhe responde: “estou salvando estrelas do mar”. Atônito diante dos fatos, o primeiro retruca: “mas há milhares delas; jamais salvará todas elas; isso não fará a mínima diferença”. Finalmente o benfeitor diz: “mas fez diferença para esta aqui”. E encerrava o filme lançando mais uma ao mar. Já ouvi e li muitas vezes essa narrativa, com praias diferentes e muitos personagens se alternando. Já vi o benfeitor sendo encarnado por velhinho, pescador, índio, e muito mais. Mas a linha geral é sempre a mesma.
O pedreiros

A outra estória conta de um sujeito que passeava por alguma parte da Europa medieval quando se depara com dois pedreiros trabalhando na mesma obra, construindo cada qual uma espécie de parede, pondo tijolo sobre tijolo. O curioso passante pergunta ao primeiro: “o que está fazendo?”. Grosseiramente o pedreiro lhe responde: “Não pode ver? Pondo um monte de tijolos encima de outro monte de tijolos”. Sem graça, o curioso segue até próximo ao segundo pedreiro e lhe pergunta a mesma coisa. A resposta, desta vez Cortez, veio assim: “Ora, pode não parecer, mas estou fazendo uma parede. Pode ainda não parecer, mas ao final da grande obra, aqui haverá um castelo. E eu, amigo, terei feito parte desta maravilhosa obra”. E o pedreiro continuava absorto em sua grande empreitada.

Embora tenhamos nos acostumado à visão maquiada dessas pequenas estórias, é possível tirar delas algumas lições para nossas vidas, principalmente se falarmos do processo de reconstrução em que muitas vezes nos vemos mergulhados. Falo, é claro, da nossa espiritualidade. Freqüentemente nos sentimos desanimados e sem capacidade de relacionar nossa vida ao que Deus no propõe como forma de viver em consonância com sua vontade. Nesses momentos, é comum nos perguntarmos bem no fundo do nosso coração se ainda é possível e como fazer para restaurar a nossa fé? Como poderemos passar por cima de tanta coisa que vemos ao nosso redor e que nos desanima, coisas que já minaram parte da nossa alegria de viver?

O trecho que utilizei para esta reflexão está em Esdras 3.1-6 e traz a história, esta sim verdadeira, de quando os hebreus estavam como escravos em terras distantes da sua de origem. Não estavam por lá por descuido ou negligência divina, mas aquilo fazia parte dos atos soberanos de Deus, que age sempre de maneira justa, mesmo quando não compreendemos de imediato.
Mesmo quando veio a permissão real, os hebreus não dispunham de meios adequados para reconstruírem os muros de Jerusalém, o templo para o culto a Deus, a cidade de Jerusalém nem o altar de sacrifícios. Mesmo assim eles fizeram o melhor que podiam. Deus ouviu as orações e o choro de seus corações e providenciou todos os meios materiais, humanos e políticos para as obras de reconstrução.
A primeira grande lição que tiro do trecho destacado dos versículos 1 e 2 é que para restaurarmos a nossa vida com Deus é preciso estar e viver em unidade. Isso se evidencia no texto de três maneiras:
1. o povo de Deus se reuniu - e vemos aqui a aplicação de que a fé cristã não prevê a vida solitária. Deus nos fez para viver em comunhão, mesmo com as pessoas mais difíceis, muitas delas encontradas dentro do Reino de Deus;
2. como um só homem - entendemos para nós hoje ainda que Deus não quer ajuntamento físico apenas. Multidão por multidão, há muitas maiores que aquelas que se reúnem para o adorar e nem por isso trazem alegria a Deus. Ele quer mais: a unidade intelectual e espiritual, como se fôssemos todos uma só pessoa;
3. em Jerusalém - para nós isso quer dizer que há um lugar especial para termos o senso de unidade. Esse lugar começa em nossos corações e se manifesta na comunidade dos salvos, na Igreja do Senhor.
A segunda grande lição que me vem nesse texto é que precisamos cultuar já de acordo com suas possibilidades. Aqui talvez as ilustrações do início se encaixem melhor: o que posso fazer de melhor agora? É salvar uma estrela que seja? É assentar um tijolo na esperança de uma grande obra amanhã? O trecho me ensina que podemos, de imediato:
1. levantar o altar a Deus - há algo a reconstruir em nós, que é o “lugar” dentro de nós que está arrebentado. Reconstruir o altar significa reaver a possibilidade de sacrificar a Deus. Isso quer dizer que precisamos reconsiderar as condições em que tenho cultuado a Deus e se isso lhe tem sido um culto verdadeiro;
2. prestar culto a Deus (sacrificar holocaustos) - Deus exige de nós o culto racional, com inteligência e espiritualidade aliados para a sua glória. Precisamos pôr o nosso sacrifício sobre o altar de Deus. Isso quer dizer que Deus espera uma determinada oferta de nossa parte, que entendemos ser, em geral, um coração contrito que esteja disposto a adorar a Deus em espírito e em verdade, sem olhar as circunstâncias, mas desejando apenas fazer o melhor possível por quem fez o impagável em nosso favor;
3. da forma que Deus quer - Prestar culto a Deus, sim, mas Deus não quer nem aceita qualquer culto. Deus não quer receber culto de qualquer jeito. Ele tem uma forma de culto prescrita e é assim que ele quer ser adorado. Para Deus não serve um culto misturado, nem à nossa maneira. Ele prevê liberdade, mas isenta de libertinagem. Acesso a ele em todo o tempo, mas com reverência e o respeito devidos ao Rei supremo.

Com essas considerações, fica uma reflexão prática: Onde a sua espiritualidade está arranhada? Em que ponto o altar do seu coração foi quebrado? Por causa dessas perguntas, vem o convite para uma sincera tomada de decisão de nossa parte:
1. Vamos clamar a Deus por capacitação sobrenatural para a boa obra que ele tem em nossa vida;
2. Vamos buscar meios de viver em unidade em meio ao povo de Deus;
3. Vamos nos propor a iniciar ainda hoje um processo de culto a Deus com o podemos fazer hoje, mesmo que ainda não seja o ideal.


Que Deus abençoe você e lhe dê os meios de reconstruir sua vida com ele.

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