terça-feira, 14 de junho de 2011

A IGREJA E O HOMOSSEXUALISMO - parte 3 de 4

Joel Theodoro é pastor presbiteriano no Rio de Janeiro

Paulo aos Romanos
"Por isso, Deus entregou tais homens à imundí
cia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!
Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza;
semelhantemente, os homens também, deixando o contacto natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro.
E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes."
Romanos 1.24-28
O consenso geral é que Paulo aqui se refere às práticas homossexuais tanto femininas quanto masculinas. Quanto a isso não temos maiores questões. O panorama de Paulo era uma sociedade em que a prática homossexual e as depravações sexuais eram constantes e, na maioria das vezes, eram aceitas como normais em determinados padrões. O mundo helênico, assim como o romano, tinham práticas que iam do prazer à religião, com seus cultos pagãos em que a sexualidade assumia papel preponderante. Uma ressalva deve ser feita no sentido de que esses povos não tinham o conceito ético e moral, muito menos ainda o espiritual, da revelação de Deus. Em outras palavras, os cultos e os costumes eram pré-cristãos, sem a presença mediadora da Palavra de Deus. Nesse ambiente surge uma Igreja. Nesse exato contexto Paulo instaura suas orientações expressas com relação à Igreja que se implantava em todo o entorno do Mediterrâneo.

Em termos objetivos, Paulo nos revela algo que deve nos levar à reflexão profunda e piedosa da vontade soberana de Deus e de Sua justiça. É comum termos em mente que um Deus irado haverá de se manifestar com grande estrondo e intervenção direta. Mas o que Paulo nos revela é a ira de Deus manifestada exatamente pela ausência da ação de Deus numa relação em que o homem é deixado total e completamente à mercê de si mesmo e de seus pecados mais atrozes. A ira de Deus está sendo dada como algo que vem do silêncio, “não pela intervenção de Deus, mas justamente por sua não-intervenção, deixando homens e mulheres seguirem o seu próprio caminho”[6], diz Stott citando John Ziesler. Portanto, nas palavras de Stott, Deus abandona o pecador aos seus próprios caprichos, pecadores obstinados entregues ao seu próprio egocentrismo, e o “processo resultante da degeneração moral e espiritual deve ser entendido como um ato do juízo de Deus” e essa seria a revelação da ira de Deus vinda dos céus que aparece no verso 18.
Paulo estabelece um caminho lógico pelo qual explica todo esse processo, que desemboca finalmente no subsolo da depravação pagã que se opõe ao cristianismo.
1. Ele parte do princípio que tais pessoas conheciam a Deus (conhecimento geral de Deus, verso 21), bem como a verdade de Deus (25) e o conhecimento de Deus (28).
2. Em seguida, Paulo menciona que as pessoas resolveram abandonar Deus em favor dos ídolos, não glorificando nem rendendo graças a Deus (21), adoraram coisas criadas no lugar de quem as criou (25) e finalmente rejeitaram a verdade de Deus (28).
3. Por fim, Paulo descreve a reação da ira justa de Deus, que os entregou à impureza sexual (24), os entregou a paixões vergonhosas e os entregou a uma disposição mental reprovável (28).
Nota sobre “entregou”. Interessante notar que o termo grego para nosso verbo flexionado “entregou”, que foi traduzido da mesma forma em todas as versões consultadas, é o verbo flexionado παρεδωκεν (paredOken), que tem uma conotação de “entregar para efeitos de juízo”. Ou seja, Deus entregou o homem para ser julgado por seus próprios atos, sem a intervenção graciosa de Deus em favor do mesmo.
Nosso cuidado não deve ser exclusivamente com relação à sexualidade, mas a qualquer outra fo
rma de idolatria, inclusive as que nos levam à prostituição cultual da fé, o que geralmente consideramos como sendo cristianismo mas que, na verdade, não passa de idolatria e misticismo emascarado de piedade. A punição de Deus para a idolatria foi entregar (para efeitos de juízo) os pecadores à sua própria sorte. A punição de Deus para os idólatras de hoje poderá ser da mesma sorte, o que deve nos manter atentos ao que nos cerca e à nossa própria vida. A História nos mostra que abandono de fé leva à idolatria e idolatria descamba em imoralidade, exatamente porque sexualidade e fé são intimamente ligados.

O Deus que é bendito para sempre (25) é trocado pelo homem. Em seu lugar, a criatura que é fugaz e passageira. O abandono da verdade traz à tona, em seu lugar, a maior de todas as mentiras, de todos os enganos. A verdade de Deus é trocada pela mentira do homem: a perfeição e a glória de Deus trocadas pela miséria do homem. Nesse ponto, e por essa razão, Paulo diz que Deus entregou a raça a relações vergonhosas. O termo traduzido por vergonhosas ou infames é "atimías" e nos remete a vergonha, infâmia, desonra, desgraça, indignidade, desgraça. A uma relação com esses adjetivos a raça foi entregue para efeitos de juízo.

Os versos 26 e 27 são fundamentais para o debate contemporâneo sobre homossexualismo. Os movimentos de apoio ao homossexualismo interpretam que esses versos:
1. Falam apenas da forma como Deus manifesta Sua ira, e não algo específico para um pecado em si;
2. Dizem que Paulo falava apenas contra a pederastia, que era algo bem conhecido no mundo Greco-romano;
3. Expõe que Paulo, quando fala de “natureza” não se refere ao homossexualismo como sendo “contrário à natureza”, pois se eles estão orientados sexualmente como homossexuais, isso não contraria a natureza. Com isso, eles interpretam que Paulo condena apenas atos homossexuais envolvendo heterossexuais.

Richard Hays, citado por Stott, refuta tais posições, em especial a que trata de “natureza”. Diz ele em relação ao que é natural (kataphysis) ou não natural (paraphysis), que eram termos constantemente utilizados para “estabelecer distinção entre comportamento heterossexual e homossexual”. A diferenciação objetiva entre ser orientado de certa maneira sexual ou manter práticas sexuais faz parte de conceitos modernos, são conceitos anacrônicos a Paulo. Assim, “insinuar que a intenção seja condenar atos homossexuais somente quando cometidos por pessoas que são, por natureza, heterossexuais é introduzir uma distinção completamente estranha ao mundo das ideias de Paulo”.

Não há maneira de interpretar o texto dessa maneira. Somos obrigados ainda, pelo texto, a jamais interpretar “natureza” como algo pessoal (minha natureza), mas como ordem divina das coisas. Agir de “modo contrário à natureza” (26) só pode significar “agir contra a ordem da criação de Deus, agir contra o que foi estabelecido por Deus.

Como resposta a isso, temos que:
1. Deus criou a humanidade sendo o padrão homem e mulher. Voltamos ao princípio, quando lemos que Deus criou macho e fêmea, homem e mulher (Gn 1.27). Essa é a ordem de Deus e é contra essa ordem que Paulo se refere no verso 26;
2. O casamento instituído por Deus é heterossexual. Logo em seguida temos a instituição da família com o modelo determinado por Deus, no qual há um homem e uma mulher, que se unem e se tornam uma só carne;
3. Deus uniu e nós não podemos separar essa determinação. Por último, vemos a intenção original de Deus, que foi citada e amalgamada por Jesus, que seguiu dizendo que se Deus o uniu, referindo-se à união homem e mulher, que o homem não o separe (Mt 19.4, com base em Gn 2.24).


Em síntese, por tudo o que vimos até aqui, se bem estudarmos a passagem, veremos:
1. O homossexualismo é um ato de incredulidade, de abandono de Deus;
2. O homossexualismo é um ato de revolta contra a soberana decisão de Deus expressa na criação;
3. O homossexualismo, por ser ato de incredulidade e rebelião contra Deus, receberá em si a justa paga do derramar da ira de Deus, excluindo os que o praticam da glória eterna (1 Co 6.9-10: 9 “Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, 10 nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus.”)
4. O papel da Igreja é dizer a todos os que pecam que se se arrependerem poderão herdar a glória de Deus e ouvir: “Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.” (1 Co 6.11).

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